Veja as mensagens: Agiotas da Grande Porto Alegre ajudaram PCC no assalto milionário ao avião-pagador em Caxias

A investigação sobre o assalto milionário ao avião-pagador no aeroporto de Caxias do Sul, que resultou na morte de um policial militar e de um integrante da maior organização criminosa do País, mostra que as facções estão cada vez mais investindo na agiotagem.

Criminosos se passaram por policiais federais em Caxias | abc+



Criminosos se passaram por policiais federais em Caxias

Foto: Reprodução

Um relatório sigiloso da Polícia Federal, ao qual a reportagem teve acesso, revela que gestores de empréstimos ilegais da Grande Porto Alegre, com atuação concentrada no Vale do Sinos, ajudaram o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, no roubo de R$ 30 milhões na Serra gaúcha, na noite de 19 de junho do ano passado.

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A PF menciona uma empresária de Canoas que alugou casa de alto padrão no bairro Cristo Rei, em São Leopoldo, para envolvidos no assalto. Dona de transportadora, ela recebeu, no mês seguinte ao ataque, a quantia irrisória de R$ 1,4 mil pela locação da residência de luxo, com piscina e suntuosa área de lazer, o que a colocou como suspeita.

Conexões

Conforme um comprovante de pix, o dinheiro saiu da conta de uma moradora de Canoas, irmã de um agiota que usava tornozeleira eletrônica por causa do tráfico de drogas. O pagamento foi uma ordem de dentro do presídio. Partiu de um comparsa que havia sido capturado poucos dias antes pelo assalto ao avião-pagador.

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O mesmo agiota, de acordo com o relatório, foi conversar com os executores do roubo em uma casa que serviu de esconderijo em Farroupilha. O encontro aconteceu dois dias após o ataque.

Na quebra de sigilo telefônico, surgiu o nome de um morador do bairro Bela Vista, em Estância Velha, que emprestou um sítio em Riozinho, no Vale do Paranhana, como outra base dos ladrões, antes e depois do roubo.

Território inimigo

Outra constatação da PF é que o apoio gaúcho ao PCC foi da facção Os Bala na Cara, de Porto Alegre, e não dos Manos, do Vale do Sinos, como era inicialmente cogitado. Para atuar no roubo, Os Bala na Cara invadiram territórios dos rivais Manos.

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Além de Danota, foram identificados por envolvimento no assalto no aeroporto os gaúchos conhecidos como Lalá, Peteka, Playboy DK, Gaiolinha, PL, Rafinha, Lacoste e duas mulheres: Grazi e Lele. Todos do eixo Vale do Sinos-Porto Alegre. Alguns agiram diretamente, com uso de fuzis, e outros em alguma forma de apoio.

Investigados celebram fonte extra do tráfico

Nos celulares apreendidos durante a investigação do roubo em Caxias, agentes encontraram mensagens de WhatsApp em que suspeitos celebram a agiotagem como fonte extra do tráfico e às vezes até mais rentável.

Também foram recolhidos cadernos com anotações de mais de 50 pessoas que pegaram empréstimo. Os valores, datas de pagamento e juros estão especificados. A maioria dos clientes é de baixa renda. Acabam ficando reféns de uma dívida que só aumenta. O bando tem um responsável pelas cobranças. Algumas são feitas de forma amistosa e outras com ameaça de morte.

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Mensagens de texto

Foto: Arte Alan Machado/GES

 

Dívidas que acabam em morte

Há casos de espancamentos e até mortes motivados pela agiotagem. Um deles aconteceu na tarde de 28 de abril do ano passado no bairro Canudos, em Novo Hamburgo. Um ex-presidiário de 55 anos levou vários tiros no pátio de casa, na Rua Alcântara, perto da Avenida dos Municípios, e correu para a sala. Morreu no sofá. “Ele estava meio atrapalhado pelo troco que pegou com os manos”, comentou um conhecido.

O maior roubo da história da RS

Mais de um mês após a trágica enchente de maio, que alagou o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, o PCC recebeu a informação da rota de um avião-pagador de Curitiba, no Paraná, ao Aeroporto Regional Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul.

O maior assalto da história do Rio Grande do Sul foi planejado para a hora de um jogo do Juventude pelo Campeonato Brasileiro, a cinco quilômetros de distância, onde estava concentrado o policiamento. Os bandidos simularam uma operação da Polícia Federal. A aeronave de pequeno porte trazia R$ 30 milhões.

Com fardamentos falsos da PF e duas picapes adesivadas, fizeram os pilotos reféns e renderam os 13 seguranças que passariam os malotes do avião para o carro-forte. Houve tiroteio, que mobilizou a BM. Na primeira equipe a chegar, o sargento Fabiano Oliveira, 47, levou um tiro de fuzil que atravessou o colete à prova de balas e morreu no hospital.

Membro antigo do PCC, Sílvio Wilton da Costa, 37, o Bin Laden, foi abatido durante a fuga. Dirigia uma das picapes, na qual foram recuperados R$ 15 milhões e apreendidas armas. Nascido no Piauí, integrava a turma que tinha vindo de São Paulo para o roubo.

Comparsas conseguiram fugir com os outros R$ 15 milhões, de forma pulverizada por diferentes estradas, com apoio dos parceiros dos Bala na Cara. O dinheiro foi dividido e sumiu nas mãos dos assaltantes. 

A PF prendeu 13 suspeitos entre junho e agosto, entre eles o morador de Estância Velha, o agiota de Canoas e um comparsa de Sapiranga. Um assaltante morreu em confronto com agentes no bairro de Jabaquara, em São Paulo, em julho. Na casa dele, foram apreendidas duas armas de guerra, possivelmente usadas em Caxias.

O Ministério Público Federal denunciou 19 investigados, entre os quais 13 presos durante as investigações, por latrocínio e crimes correlatos.

As penas máximas, se somadas, chegam a 97 anos de prisão. Praticamente todos os denunciados já responderam por delitos dessa natureza. A ação penal tramita em segredo de Justiça.

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