Dólar mais fraco ante pares desenvolvidos e real desvalorizado? Como assim?

Em momentos de estresse financeiro global, o mais comum no mercado de câmbio é a aversão ao risco prevalecer e moedas como o Real se desvalorizarem mais fortemente, uma vez que o porto seguro passa a ser a economia americana. Mas a intensificação da guerra comercial entre os EUA e a China está fazendo com que o dólar também sofra.

A moeda americana rompeu a barreira dos R$ 6,00 nesta quarta-feira, ameaçando tocar nos R$ 6,10, e só recuou para R$ 5,90 após Donald Trump anunciar uma pausa de 90 dias nas tarifas para quase todos os países, exceto a China.

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Esse estresse cambial, explicam especialistas, é fruto da fuga do risco alimentado pela expectativa de guerra comercial e queda na atividade em nível global, tanto pelas novas tarifas dos EUA contra a China como pela resposta do gigante asiático, com retaliações.

A tarifa total contra bens chineses foi a 104%, enquanto a resposta chinesa foi elevar sua taxação para para 84%, além de colocar mais 12 empresas americanas em uma lista de controle de exportação. Nesta quarta-feira, o yuan chinês caiu para uma baixa de 17 anos ante o dólar.

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André Valério, economista sênior do Inter deu explicações para o estresse no câmbio. “Dada a nossa exposição às commodities, uma visão de uma recessão global, puxada por uma China bastante prejudicada pelas tarifas, faz com que o mercado precifique uma menor demanda por commodities, especialmente petróleo e minério de ferro, dois grandes componentes da nossa balança comercial”, explicou.

“Assim, temos visto o real ser uma das moedas emergentes mais penalizadas nesse atual cenário, adicionado mais uma camada de incerteza para o nosso cenário”, concluiu Valério.

Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, concordou em sua análise. “O cenário cada vez mais aponta para uma desaceleração e uma possível recessão no país [EUA], o que impacta o ambiente global. Commodities, por exemplo, devem ser fortemente afetadas se o ambiente for de queda na atividade de forma generalizada – o que faz preço diretamente no Brasil”, analisou.

De fato, o minério de ferro tem sido negociado nos últimos dias nos níveis mais baixos em mais de seis meses, enquanto o petróleo acumulou 5 dias consecutivos de baixa hoje, descendo abaixo dos US$ 60, menor patamar desde 2021.

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Fuga do risco dos EUA também?

Mas a fuga, pelo menos desta vez, não foi em direção aos EUA, como de praxe. Em nível global, o índice do dólar, que compara a moeda americana com uma cesta de outras seis moedas, registrou hoje um comportamento de queda durante todo o dia – a variação era de -0,25% às 14h30, atingindo 102,76.

Está ocorrendo uma migração nesse momento para ativos menos arriscados, como o euro, o franco suíço ou o iene, ou mesmo o ouro. O euro subiu 0,68%, para US$ 1,1031, enquanto em relação ao franco suíço, o dólar caiu 0,66%, para 0,842. O dólar norte-americano também atingiu uma mínima de seis meses ante a moeda japonesa, passando de 145,50 ienes. Já o ouro à vista subiu 3,53%, para US$ 3.088,80/onça, segundo a Reuters.

Leonel Oliveira Mattos, analista de inteligência de mercado da Stonex, explicou que essa perda de popularidade se dá porque os investidores acham que a economia americana vai sofrer mais do que os outros países, colocando em xeque até o papel do dólar como reserva internacional de valor.

“A gente está vendo um sell-off, uma fuga dos treasuries americanos e os juros por lá subindo, o que pressiona a curva de juros nos outros países e os ativos arriscados derretendo. E commodities tendo um dia muito ruim”, comentou.

Valério, do Inter, disse que o mercado vem reagindo muito mal aos acontecimentos. “Desde a retaliação inicial da China os mercados têm perdido valor de maneira intensa, precificando uma maior probabilidade de recessão mundial. Com isso, vimos a taxa de juros de 10 anos avançar consideravelmente, saindo de 3,88% para 4,44%, refletindo uma visão mais pessimista”, disse.

Ao memso tempo, há uma busca por liquidez, completou, o que tem colocado ainda mais pressão sobre os yields americanos, à medida que investidores institucionais são obrigados a se desfazerem de posições em um ambiente de baixa liquidez. “É um movimento oposto ao que o governo Trump desejava, o que coloca a China em uma posição privilegiada para aguardar o desenrolar dos fatos antes de engajar em qualquer negociação com o governo americano”, afirmou.

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