Não é só falta de educação: O que interromper os outros realmente significa, segundo a psicologia

Ser interrompido não é algo que aflore os melhores sentimentos nas pessoas — e com toda a razão. Afinal, pode ser considerado rude e mal-educado. Mas então por que as pessoas continuam fazendo?

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Pessoas conversando

Foto: Freepik

Uma das primeiras regras sociais a qual todos têm contato é que não se deve interromper quando alguém está falando. Porém, ao contrário do que muitos pensam, ser interrompido não significa necessariamente que a outra pessoa queira causar algum mal-estar, ou que seja mal-educada. Mas então: por que as pessoas fazem isso?

Animação e cooperative overlap

O termo cooperative overlap, termo creditado a Deborah Tannen, pode ser facilmente confundido com uma interrupção, e até visto como uma por alguns. Ela consiste em “interromper” a pessoa que está falando apenas para perguntar sobre o assunto ou fazer alguma observação, por exemplo.

Esse estilo de conversa pode parecer rude ou sem sentido para algumas pessoas, mas é um tipo de conversação e uma maneira muito comum de se comunicar. Geralmente, ele acontece quando as pessoas estão muito animadas.

Importante ressaltar que, neste tipo de conversa, ambos os lados trocam de turno para “interromper” o outro, ou então se sobressaem falando ao mesmo tempo, mantendo o assunto vivo e criando uma forma de comunicação equilibrada. Ou seja, isso nada tem a ver com achar que a conversa está chata.

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Controle

Ao contrário do cooperative overlap, há quem apenas queira tomar o controle da conversa, explica o terapeuta e pós-doutor Charlie Huntington. “Uma interrupção intrusiva desencoraja a pessoa a continuar falando”, afirma ele ao portal do Instituto de Bem-Estar Berkeley. Assim, se a interrupção for bem-sucedida, quem interrompeu pode falar a própria opinião sobre o tópico ou apenas mudar totalmente o rumo da conversa.

Meus objetivos são a prioridade e, portanto, mais importantes que os seus

Outro motivo para esse tipo de atitude é ver a própria perspectiva como mais importante que a do próximo. Em uma conversa, quem está falando está “trabalhando para alcançar os próprios objetivos”. “Então, se eu te interrompo no meio do avanço da sua agenda através do discurso, estou colocando minhas necessidades e objetivos na frente”, diz Huntington.

Diferente de cooperative overlap, neste caso a pessoa vê os próprios objetivos na conversa como muito mais importantes.

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Impulsividade

E existe também um grande motivador por trás da interrupção: a impulsividade, algo mais comum ainda em pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Eu acredito que esta é uma distinção importante porque as pessoas que são impulsivas talvez não queriam dominar a conversa necessariamente, no entanto, talvez tenham sido vencidas pela necessidade de participar mais ativamente”, explica o terapeuta.

Isso também pode acontecer com outros neurodivergentes, como pessoas no Transtorno de Espectro Autista (TEA) e até com neurotípicos, que sentem vontade de interromper a conversa por ter uma nova ideia ou querer falar algo que eles acreditam ser uma contribuição empolgante para a discussão, conforme o especialista em relações e networking Andy Lopata ao portal Psychology Today.

Existem ainda outros motivos para as interrupções, como a demonstração de poder. Inclusive, mulheres são comprovadamente mais interrompidas do que homens, conforme o estudo de 2014 da Universidade George Washington, dos Estados Unidos.

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O que fazer ao ser interrompido

Ao ser interrompido, é possível escolher dois caminhos: deixar a conversa seguir normalmente até a vez de falar voltar ou falar educadamente que gostaria de continuar a falar ou até perguntar se pode pode voltar ao assunto anterior, conforme Lopata.

O que fazer para não interromper os outros

E, se está com medo de interromper, uma dica é entrar na conversa pensando em como gostaria de ser tratado. “Poucos de nós entramos numa conversa esperando para sermos interrompidos — nós esperamos que os outros ao menos nos deem a dignidade de terminar nossos pensamentos”, afirma Huntington. Para quem é mais impulsivo, a psicoterapia pode ajudar a diminuir.

Referências

Why people interrupt us (2023); Interrupting: Definition, Examples, & Tips; Cooperative overlap (i.e., enthusiastic autistic interrupting) (2023).

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