China reage ao “bullying dos EUA”: veja medidas de retaliação e contenção anunciadas

Embora oficialmente a China esteja repetindo desde a semana passada que não deseja travar guerras comerciais e tarifárias com nenhum país, também está deixando claro em várias entrevistas de autoridades que não vai vacilar quando essas batalhas chegarem. O país tem adotado medidas de proteção e contenção dos efeitos do tarifaço imposto por Donald Trump, ao qual eles já se referiam como “bullying dos EUA”, assim como anunciado retaliações.

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“Nunca ficaremos de braços cruzados e assistiremos enquanto os direitos e interesses legítimos do povo chinês são violados, nem ficaremos de braços cruzados enquanto as regras econômicas e comerciais internacionais e o sistema multilateral de comércio são prejudicados”, disse nesta quinta-feira (10) o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian.

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O InfoMoney listou algumas medidas já anunciadas. Veja abaixo:

Retaliações comerciais

O governo chinês anunciou na quarta-feira que aumentará as tarifas adicionais sobre produtos importados dos Estados Unidos para 84%, além de adicionar seis empresas americanas à sua lista de entidades não confiáveis, assim como colocará 12 entidades americanas em sua lista de controle de exportação.

Essas etapas, que entraram em vigor à meia-noite desta quinta-feira, vieram após o país se comprometer a tomar contramedidas com “vontade firme” e “meios abundantes” após a decisão dos EUA de aumentar suas chamadas tarifas recíprocas sobre as importações chinesas de 34% para 84%.

A China também entrou com um processo contra os Estados Unidos no mecanismo de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre o último aumento de tarifas.

O Escritório de Informação do Conselho de Estado da China divulgou na quarta-feira (9) um white paper para esclarecer os fatos sobre as relações China-EUA. Segundo o documento, as relações são mutuamente benéficas e ganha-ganha por natureza, e a cooperação beneficia os dois lados, enquanto o confronto prejudica ambos, disse o documento.

Por outro lado, a China disse estar disposta a se comunicar com os EUA sobre as principais questões econômicas e comerciais bilaterais, além de abordar suas respectivas preocupações por meio do diálogo e consultas “em pé de igualdade”. “Se os Estados Unidos realmente buscam resolver a questão por meio do diálogo e da negociação, devem demonstrar uma atitude de igualdade, respeito e reciprocidade”, disse Jian, em uma coletiva de imprensa.

Filmes

A China anunciou na quinta-feira um plano de “reduzir moderadamente” o número de filmes norte-americanos importados pelo país. Um porta-voz da Administração de Cinema da China disse que o ajuste segue os princípios do mercado e reflete as preferências do público, já que os recentes aumentos dos EUA nas tarifas sobre as importações chinesas devem afetar o interesse do público chinês em filmes dos EUA.

Como o segundo maior mercado cinematográfico do mundo, a China sempre buscou um alto nível de abertura e introduzirá mais filmes de outros países para atender à demanda do mercado, disse o porta-voz.

Sobre a preferência do público interno, foi informado hoje que a sequência de animação de grande sucesso “Ne Zha 2” arrecadou surpreendentes 15,5 bilhões de yuans (cerca de US$ 2,16 bilhões) em todo o mundo, incluindo pré-vendas, de acordo com os dados da plataforma de ingressos Maoyan.

Tendo estreado nos cinemas em 29 de janeiro, durante as comemorações do Ano Novo Chinês, a produção da Enlight Pictures é atualmente o quinto filme de maior bilheteria de todos os tempos em todo o mundo, atrás apenas do épico de James Cameron de 1997 “Titanic”, com quase US$ 2,27 bilhões.

“Ne Zha 2” foi também o primeiro filme a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão em um único mercado, o primeiro título fora de Hollywood a se juntar ao clube dos bilhões de dólares e o filme de animação de maior bilheteria de todos os tempos em todo o mundo.

Mercado de capitais

A reação da China ao “tarifaço” de Trump não resumiu a retaliações, mas também ao fortalecimento dos mercados domésticos. Diante da turbulência financeira global, a China revelou uma série de medidas rápidas e intensivas destinadas a estabilizar os mercados de capitais e restaurar a confiança dos investidores.

Sete empresas listadas sob o China Merchants Group anunciaram na terça-feira planos para acelerar a implementação de programas de recompra de ações com base na firme confiança nas perspectivas de crescimento das empresas.

Além disso, a autoridade reguladora financeira da China anunciou na terça-feira medidas para aumentar o limite de investimentos de capital por fundos de seguros. O objetivo foi o de ampliar os canais de investimento e injetar mais capital próprio na economia real. O limite superior do índice de alocação de ativos patrimoniais foi aumentado em 5 pontos percentuais para alguma seguradoras.

Também foram incentivados os investimentos de capital nas indústrias emergentes estratégicas do país e a promoção de novas forças produtivas de qualidade. Após o anúncio, várias seguradoras importantes, incluindo China Life Insurance, China Pacific Insurance e New China Life Insurance, expressaram forte apoio e se comprometeram a aumentar os investimentos de capital de longo prazo, com foco em indústrias emergentes estratégicas.

Forrando o colchão

Antes mesmo de as tarifas entrarem em vigor, a China já estava tomando medidas para se blindar de efeitos econômicos. Na virada do mês, o Ministério das Finanças divulgou que estava emitindo 500 bilhões de yuans (cerca de US$ 69,7 bilhões) em títulos especiais do Tesouro para apoiar grandes bancos comerciais estatais na reposição de seu capital principal de primeiro nível.

Essa medida foi um complemento ao anúncio dos quatro principais bancos comerciais estatais da China — Banco da China, Banco de Construção da China, Banco de Comunicações e Banco de Poupança Postal da China – que anunciaram planos para levantar um total combinado de 520 bilhões de yuans (cerca de US$ 72,5 bilhões) por meio da emissão de ações A visando investidores específicos.

Para incentivar o consumo, a China também estabeleceu uma plataforma de compartilhamento de informações de crédito em nível nacional, que agregou mais de 80,7 bilhões de registros de crédito de 180 milhões de entidades comerciais.

A plataforma foi criada para ajudar as instituições financeiras a acessar informações abrangentes de crédito de pequenas empresas, permitindo que forneçam apoio financeiro direcionado àqueles que realmente precisam. Em fevereiro, as instituições financeiras em todo o país emitiram um total de 37,3 trilhões de yuans (cerca de 5,2 trilhões de dólares) em empréstimos por meio da plataforma, incluindo 9,4 trilhões de yuans em empréstimos de crédito. Isso aliviou significativamente as restrições de capital enfrentadas pelas pequenas empresas privadas.

Punição a empresas

A China adicionou 12 empresas americanas, que incluem Shield AI, Sierra Nevada Corporation, Cyberlux Corporation, Edge Autonomy Operations, Group W e Hudson Technologies, à sua lista de entidades não confiáveis, anunciou o Ministério do Comércio do país.

Segundo as autoridades, essas empresas, desconsiderando a forte oposição da China, empreenderam uma cooperação tecnológica militar com Taiwan, que estaria “prejudicando seriamente a soberania nacional e a segurança e os interesses de desenvolvimento da China”.

O órgão alfandegário chinês suspendeu as licenças de importação dessas companhia, com o “objetivo de proteger a saúde dos consumidores chineses”.

Incentivo aos turistas

A China atualizou sua política de reembolso de impostos para turistas estrangeiros, mudando de um modelo de reembolso na partida para um modelo de reembolso na compra, informou a Administração Tributária do Estado (STA, na sigla em inglês) na terça-feira.

Os visitantes estrangeiros podem agora reivindicar instantaneamente descontos no imposto sobre valor agregado (IVA) em lojas isentas de impostos, permitindo que eles reutilizem o valor reembolsado em tempo real para compras adicionais. Anteriormente, os descontos de IVA só estavam disponíveis na saída do país.

A mudança de política, inicialmente testada em Xangai, Pequim, Guangdong, Shenzhen, Sichuan e Zhejiang, agora foi estendida a todo o país.

(Com informações da Agência Xinhua, Estadão Conteúdo, Reuters e Global Times)

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