Governo Tarcísio discutirá em audiência leilão de fazendas de pesquisa

São Paulo – O governo de São Paulo convocou, para a próxima terça-feira (14/4), uma audiência pública que irá discutir o leilão de terras públicas que pertencem à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), as chamadas fazendas de pesquisa.

A audiência é tida como o início de um processo de venda das propriedades que hoje são usadas para o desenvolvimento de pesquisa científica na área de agropecuária. Fazem parte da lista, por exemplo, terras do Instituto Agronômico de Campinas, que é dono do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, onde são desenvolvidos estudos sobre culturas de limão.

A notícia pegou de surpresa a comunidade científica, que critica a iniciativa do governo. Dora Colariccio, vice-presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), argumenta que as áreas são importantes para o setor.

“Na Fazenda Santa Elisa, que pertence ao IAC, por exemplo, há o germoplasma de café com variedades que não existem em nenhuma parte do mundo. As coleções vivas que estão espalhadas são variedades melhoradas. É importante ter a variedade ancestral, porque a qualquer momento você pode retomar aquele banco de genes para desenvolver uma nova variedade. É o caso, por exemplo, do cultivo do café Canéfora, que é o café resistente às mudanças climáticas desenvolvido nas áreas do IAC”, diz Colariccio.

Ainda não foram divulgadas quais propriedades, ou partes delas, devem ir a leilão. Mas o comunicado sobre a audiência convoca toda a comunidade científica da APTA, em especial os Institutos de Zootecnia, Biológico, Pesca, Agronômico e a APTA – Regional.

A maior parte das terras pertence a esses institutos e são usadas para pesquisa desde sua fundação. Para o leilão das terras, é esperado que o governo do estado faça uma divisão das propriedades.


Veja onde ficam as áreas que poderão ser vendidas:

  • Cananeia
  • Campinas
  • Dois Córregos
  • Gália
  • Iguape
  • Itapetininga
  • Itararé
  • Jaú
  • Jundiaí
  • Mococa
  • Monte Alegre do Sul
  • Nova Odessa
  • Palmital
  • Peruíbe
  • Pindamonhangaba
  • Piracicaba
  • Pirassununga
  • Registro
  • Ribeirão Preto
  • São Roque
  • Sertãozinho
  • Tatuí
  • Tietê
  • Ubatuba

Ociosidade e “sucateamento”

O leilão de terras que pertencem a institutos de pesquisa vem sendo objeto de estudo desde o início da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) e faz parte de uma estratégia do secretário estadual de Agricultura, Guilherme Piai (Republicanos), que defende a venda de terras consideradas ociosas.

Dora Colariccio, contudo, nega que haja inatividade e argumenta que a proposta é acompanhada de processo de desmonte dos institutos. “Eles esquecem que nós estamos há mais de 20 anos [lutando] para a recomposição do quadro de funcionários. Então nós temos um déficit de 80% do corpo de recursos humanos”, diz.

Para a pesquisadora, ainda que essas áreas não estejam sendo usadas em sua totalidade, elas configuram espaços de proteção ambiental.

“O que é chamado de ocioso, tem resquícios de Cerrado, Mata Atlântica, tem resquícios de pesquisa. Onde vamos fazer experimentações sem as áreas? Não são áreas ociosas, são áreas para pesquisas. Vender por quê? Para quê? Sabemos que São Paulo não está precisando de caixa, há recurso em caixa”, afirma.

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