Guerra comercial é o estopim que faltava para a “era das CBDCs”?

Os Estados Unidos recentemente aumentaram suas tarifas sobre importações chinesas para 145%. A medida é mais uma jogada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que escalou em abril de 2025. A série de tarifas impostas por Donald Trump sobre bens chineses, pode forçar países e empresas a buscarem alternativas para mitigar os impactos econômicos, como CBDCs.

Nesse contexto, o Yuan Digital, moeda digital do banco central (CBDC) da China, ou o “Drex Chinês”, o Euro Digital e até o Drex brasileiro podem surgir como uma ferramenta estratégica para driblar as tarifas americanas. O desenvolvimento da CBDC chinesa começou em 2019, e assim como o Drex, observou um arrefecimento na implementação.

O estopim para a retomada das CBDCs

Contudo, em um cenário onde os EUA afaste a China do dólar, e aproxime-a de outros parceiros comerciais como o Brasil, o investimento nessa tecnologia começa a fazer mais sentido.

É claro que, o Bitcoin também pode ser uma ferramenta crucial nesta batalha que se desdobra diante dos olhos dos investidores. Anteriormente, o BlockTrends já analisou o contexto do Bitcoin neste cenário.

Contudo, a China pode não gostar da ideia de uma criptomoeda descentralizada. Inclusive, já deu esse sinal por diversas vezes nas proibições anteriores.

Desse modo, uma das opções da China pode estar em sua CBDC. Vale mencionar que o Brasil já utilizou anteriormente o Yuan Digital em transações comerciais com o país.Conforme noticiou o CoinTelegraph Brasil, a primeira operação foi feita ainda em 2023 entre o Banco da China Brasil SA e a Eldorado Brasil, uma empresa produtora de celulose, que exportou seus produtos para a China.

Pouco depois, em maio de 2024, o jornal South China Morning noticiou que a China enfrentava dificuldades para incentivar a adoção e o uso do “Drex Chinês”.

A guerra comercial e as tarifas de Trump

Apesar desse histórico, o cenário atual muda drasticamente as regras do jogo. Recentemente, a China ordenou que bancos estatais vendessem dólares para comprar yuan e implementou controles para evitar apostas contra sua moeda. Uma tentativa de proteger sua economia das pressões externas.

Durante uma guerra, nações tendem a justificar ações rigorosas na expressão “esforço de guerra”. Em uma guerra comercial, não é diferente. O uso do Yuan Digital em transações internacionais para contornar as tarifas americanas é uma probabilidade.

O Yuan Digital, oficialmente conhecido como e-CNY, é a moeda digital de banco central (CBDC) da China, lançada pelo Banco Popular da China.

Apesar de não ser tão forte no varejo, o Yuan Digital é uma das CBDCs mais avançadas do mundo. O Cointelegraph relata que o Brasil realizou sua primeira transação comercial usando o Yuan Digital em 2023, exportando celulose para a China.

Essa operação faz parte de um movimento mais amplo dos BRICS para promover a desdolarização e avançar os pagamentos digitais entre nações.

O Yuan Digital não opera em uma blockchain tradicional, mas em um sistema centralizado controlado pelo governo chinês. Isso permite à China monitorar e controlar transações, eliminando intermediários como bancos comerciais e reduzindo custos de transação.

Além disso, o Yuan Digital também funciona como um aplicativo do Banco Central chinês, testado inicialmente com 100 mil usuários, e que sua adoção é vista como uma ameaça ao reinado do dólar no comércio internacional.

Como driblar as tarifas com CBDCs?

Por exemplo, empresas chinesas podem exportar produtos para países como o Brasil usando o Yuan Digital. Desse modo, evitando o sistema financeiro dominado pelo dólar, que é mais suscetível a sanções e tarifas dos EUA.

Principalmente porque os parceiros comerciais do BRICS também, em sua maioria, já desenvolveram em partes suas próprias CBDCs. O próprio Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central do Brasil que idealizou o Drex, comentou em palestras sobre o tema.

Campos Neto discorre sobre, e as apresentações constam de forma pública no site do Bacen, o objetivo de fazer com que o Drex facilite liquidações e pagamentos globais. Além disso, confirmou que existem conversas com outros países que pensam da mesma maneira.

Isso reduz a exposição às tarifas americanas. Já que as transações não passam pelo sistema SWIFT, que é amplamente controlado pelos EUA.

Não somente o Brasil, mas a União Europa há meses anseia por lançar sua própria CBDC. Em janeiro deste ano, Piero Cipollone, membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE), afirmou acreditar que o euro digital deve servir como proteção dos bancos da Zona do Euro contra essa grande guerra comercial.

A declaração aconteceu durante uma reunião de política da autoridade monetária da Zona do Euro em Frankfurt. Cipollone, em nome do BCE, discorreu o porque acredita que as recentes medidas de Trump devem favorecer stableoins lastreadas em dólar e impactar outras moedas.

Pouco depois, em março, a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que pretende lançar o Euro Digital até outubro de 2025.

E finalmente, em um movimento que pode redefinir as relações comerciais entre a União Europeia (UE) e a China nesta quinta-feira (10), as duas potências iniciaram negociações para abolir as tarifas impostas pela UE sobre veículos elétricos (EVs) fabricados na China. Em outras palavras, a Europa e a China agora conversam e excluíram Trump do papo.

Apesar disso, os desafios para que esse cenário seja uma realidade não são poucos. O Brasil ainda não lançou oficialmente o Drex, e a interoperabilidade entre o Yuan Digital e o Drex ainda precisaria ser uma certeza.

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