Pessimismo ficou? Disparada em Wall Street teve baixa liquidez e corrida de vendidos

A disparada de Wall Street ocorreu sem uma convicção real por parte do mercado. Por trás do movimento, houve forte cobertura de posições vendidas e liquidez extremamente baixa, mesmo com volumes de negociação elevados.

Investidores correram para encerrar posições vendidas acumuladas durante a recente queda dos mercados, após o alívio tarifário anunciado pelo presidente Donald Trump na quarta-feira (9). Ao mesmo tempo, a liquidez na melhor oferta — quanto é possível negociar ao preço exibido nas telas — nos futuros do S&P 500 atingiu mínimas históricas, segundo a mesa de operações do Goldman Sachs, acentuando os movimentos.

O S&P 500 subiu 9,5%, na maior alta diária desde outubro de 2008. Às 6h (horário de Brasília), os contratos futuros do índice caíam 2,1%.

“O rali foi agravado por fatores técnicos e cobertura de shorts, dada a forte liquidação observada desde 2 de abril”, disseram analistas do JPMorgan liderados por Andrew Tyler. Eles alertaram que a visibilidade para os investidores segue muito baixa, com risco de nova escalada na guerra comercial entre EUA e China e tarifas adicionais em setores como farmacêutico e semicondutores ainda no radar.

Cerca de 30 bilhões de ações foram negociadas nas bolsas americanas na quarta-feira — o maior volume já registrado, segundo dados da Bloomberg que remontam há quase 17 anos. Na semana anterior, os hedge funds haviam apostado contra produtos macro dos EUA, como índices e ETFs, no maior volume semanal da série histórica. Na quarta-feira, a cesta do Goldman Sachs com os papéis mais vendidos disparou mais de 12%, superando o avanço do S&P 500.

“Gestores de ativos encerraram o dia com compras líquidas superiores a US$ 13 bilhões, após correrem atrás da alta e recompraram muitos ativos recentemente vendidos — beneficiários de IA, semicondutores, megacaps e setores cíclicos específicos”, afirmou Michael Nocerino, especialista em negociação do Goldman Sachs, em nota a clientes. Segundo ele, os fluxos de venda em produtos macro acumulam alta de 42% no ano. “Vimos cobertura agressiva de shorts e compras direcionadas em tecnologia.”

Apesar de o pior cenário — uma guerra comercial total — ter sido evitado por ora, o ambiente segue volátil. O estresse não desapareceu do mercado. A volatilidade recua rapidamente, mas a liquidez segue tão fraca que movimentos extremos, como o de ontem, permanecem possíveis, especialmente em um mercado guiado por manchetes sobre comércio. A curva do VIX, por exemplo, ainda se mantém em zona de estresse.

“A recuperação das ações reflete uma combinação de investidores especulativos cobrindo posições vendidas; menor temor de recessão e estagflação; e otimismo de que as tarifas finais serão mais baixas do que as ameaçadas atualmente”, disse Bill Adams, economista-chefe do Comerica Bank.

Segundo ele, as empresas se sentem aliviadas diante da possibilidade de uma política comercial menos disruptiva do que se previa no início da semana. Ainda assim, Adams alerta para a elevada incerteza regulatória que deve pesar sobre os investimentos nos próximos meses. “Além disso, tarifas de 125% sobre importações chinesas serão um grande problema para muitas companhias, caso se mantenham”, afirmou.

Economistas do Goldman Sachs retiraram imediatamente sua projeção de recessão, mas o cenário para as empresas ainda é desafiador. Analistas já começam a embutir impactos nos lucros antes do início da temporada de balanços do primeiro trimestre, nesta sexta-feira. Um indicador do Citigroup que mede revisões de lucros — altas versus cortes — despencou nos EUA e na Europa, aproximando-se do piso de cinco anos, embora ainda sem sinalizar recessão.

O nervosismo tomou conta dos mercados financeiros. Além da liquidação das ações, o dólar perdeu força e os Treasuries enfrentaram distorções, alimentando apostas de que o Federal Reserve pode intervir. No geral, ativos americanos têm sido vendidos de forma agressiva, enquanto projeções de crescimento global passam por reprecificação.

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