Tecnologia contra tragédias: Como startups ajudaram o RS a superar as enchentes

Há cerca de um ano, o Cais de Mauá, no porto fluvial de Porto Alegre (RS), estava coberto por mais de cinco metros de água. O muro do local – construído para proteger a capital gaúcha de enchentes – ainda ostenta as marcas da tragédia de 2024, que vitimou 183 pessoas e deixou um rastro de destruição.

Nesta semana, no entanto, o icônico espaço às margens do rio Guaíba ganhou novos ares. Por todos os lados, circulam visitantes, há painéis sobre inovação e há vários donos de startups no South Summit Brazil, um dos maiores eventos de tecnologia e empreendedorismo das Américas, que começou na quarta-feira (9) e termina na sexta-feira (11).

Brasil, RS, Porto Alegre, 06/05/2024. Ruas alagadas no bairro Menino Deus, na cidade de Porto Alegre (RS), após o transbordamento do Guaiba. (Foto: MAX PEIXOTO/Dia Esportivo/AE)

E muitas das startups presentes no evento tiveram papel fundamental nos esforços para enfrentar enchentes, oferecendo soluções para mitigar os impactos do desastre e acelerar a recuperação da cidade. Entre as inovações estão sistemas de monitoramento mais eficientes do nível da água, iniciativas para coleta e destinação de resíduos, tecnologias de prevenção a alagamentos e projetos educativos voltados à resposta a desastres.

“Elas ajudaram bastante a cidade a se recuperar. Durante e após a enchente, ficou evidente como o modelo das startups – especialmente aqui no Rio Grande do Sul – é moldado para lidar com incertezas. São empresários com uma mentalidade voltada para soluções ágeis e práticas no dia a dia”, explicou David Santos Viega, gestor de projetos de inovação do Sebrae-RS.

Hoje, o estado conta com cerca de 1.800 startups, sendo 15% delas classificadas como greentechs – empresas de tecnologia voltadas à sustentabilidade.

Inovação com GPS

Uma das startups que ajudou os gaúchos durante a tragédia foi a TideSat Global, fundada em 2022 a partir de um grupo de estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A empresa oferece um sistema de monitoramento do nível da água usando uma tecnologia chamada refletometria GNSS – um tipo de sensor que capta a reflexão de sinais de satélite (como os do GPS) na superfície da água.

Brasil, Porto Alegre, RS, 10/05/2024. Animais são resgatados no bairro Harmonia, em Canoas, na Grande Porto Alegre (RS), após a enchente que atingiu a cidade. (Foto: WILTON JUNIOR/AE)

“Na prática, é como se fosse um GPS, semelhante ao que usamos em apps como o Uber, mas o diferencial é que a gente usa a reflexão do sinal para medir o nível da água”, contou o CEO da TideSat, Douglas Leipelt.

Segundo ele, há dois modelos principais de medição hoje: as tradicionais réguas instaladas às margens dos rios e sensores de radar, que têm alto custo. A tecnologia da TideSat, por outro lado, permite a instalação de sensores no alto de postes e prédios – o que foi essencial durante as enchentes, já que muitos equipamentos convencionais foram destruídos pela força da água.

“Nosso sensor foi o único que sobreviveu em Porto Alegre durante as enchentes. Como conseguimos instalar em pontos elevados, como topos de postes, o sistema continuou funcionando”, disse Leipelt.

Brasil, Porto Alegre, RS, 22/05/2024. Avião na pista de pouso e decolagem do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), alagada. (Foto: Evandro Leal/Enquadrar/AE)

Na época, a empresa disponibilizou seu dashboard de monitoramento, que registrou mais de 270 mil acessos. Atualmente, seus equipamentos são utilizados em várias cidades do Brasil e até no exterior – incluindo locais na Espanha, onde a tecnologia tem sido usada para medir acúmulo de neve.

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Gestão do lixo em meio ao caos

Outra startup que colaborou com a recuperação de Porto Alegre, especialmente no período pós-enchente, foi a Trashin, especializada em gestão de resíduos e logística reversa. A empresa, fundada em 2018, também foi afetada pela tragédia e teve que parar parte da operação, que foi impactada pelas águas, mas mesmo assim ajudou a cidade a lidar com o caos.

Porto Alegre (RS), 23/06/2024 – Funcionários fazem limpeza de rua após enchente que atingiu a cidade. (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

“A gente ajudou a limpar várias regiões da cidade, destinando resíduos que não tinham para onde ir. A logística estava um caos, então também apoiamos o poder público na busca por soluções para o descarte adequado desses materiais”, contou o CEO da Trashin, Sérgio Finger.

Segundo ele, só em Porto Alegre foram mais de 40 mil toneladas de resíduos acumulados que precisavam ser destinados de forma adequada.

A Trashin nasceu com seis sócios fundadores e, hoje, é uma sociedade anônima de capital fechado, com três sócios executivos. No total, são 38 funcionários. A empresa já passou por rodadas de investimento e atua com foco em ampliar o impacto ambiental positivo por meio da tecnologia.

O jornalista viajou a Porto Alegre a convite do MB Startups.

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