A polarização em declínio (por Antônio Carlos de Medeiros)

A miríade de pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais de 2026 aponta para uma conclusão contraintuitiva.

As eleições de 2026 estão em aberto e há espaço para o crescimento do centro do espectro político. Com potencial próximo de um piso de 35%/40% do eleitorado. Aliás, há muitos anos este tem sido o piso do centro: em torno de 1/3.

Como sempre, o Brasil tem eleitorado de esquerda, centro e direita. Os Institutos de Pesquisas retratam desde sempre um “continuum” que se movimenta com as nuvens políticas.

Agora, a polarização prolongada contém uma espécie de “vírus” que estimula o crescimento inercial do centro. E, ao mesmo tempo, estimula a emergência de um processo de diminuição da calcificação de que nos falam, com sólidos fatos e argumentos, Felipe Nunes e Thomas Trauman.

São as clássicas nuvens da política. Bolsonaro está inelegível até 2030 e Lula sinaliza que pode não ser candidato. Estes fatos mexem com as expectativas políticas. Expectativas de Poder.

De 2013/2018 para cá o que mudou foi o crescimento da extrema direita e da direita no espectro político brasileiro. Impulsionado pelo fenômeno do bolsonarismo. Como se costuma dizer, desde 2013/2018 “a direita saiu do armário”.

Ao mesmo tempo, o bolsonarismo teve como reação o lulopetismo. Polarização e populismo foram a resultante.

Entretanto, o cansaço da população com a polarização é a novidade que já se manifestou em 2022 e 2024.

E daí? Daí que o cansaço impulsiona duas fadigas de material político: Jair Bolsonaro e Luiz Ignácio Lula da Silva.

Vamos aos fatos.

Para começar, pesquisas mostram que o eleitorado não concorda que Lula devesse se candidatar. E Bolsonaro também não.

O Lulismo , mais do que o petismo, é um legado que veio para ficar. Esta é a principal representação da esquerda brasileira. Para além do petismo. Até que a esquerda construa uma nova liderança.

Quem vai herdar o Lulismo? A preços de hoje, apenas Fernando Haddad. Haddad tem dimensão nacional.

Nada será como antes. Estamos assistindo o prenúncio do fim do ciclo político de 1988.

Está claro que, no mínimo, Lula já trabalha para fortalecer a sua trincheira: o PT. Um partido político organizado e espraiado pelo Brasil. Mas que precisa de renovação.

Lula poderá ser candidato em 2026? Sim, poderá. Vejamos o exemplo do Uruguai, com Pepe Mujica. Só que Mujica criou uma Frente Ampla. Lula não. Longevidade só com uma Frente Ampla.

O bolsonarismo, mais do que Bolsonaro, veio para ficar. Mas o líder ficou inelegível para 2026. Quem vai herdar o bolsonarismo? Difícil unificar em uma única candidatura. Provável mais de uma, dado o perfil dos pré-candidatos.

Até aqui, só temos conjecturas. Nenhum deles foi ainda capaz de ganhar dimensão nacional. Só Fernando Haddad.

O fato é que as eleições de 2026 estão em aberto. A Quaest registrou 80% de indecisos na menção espontânea. O DataFolha registrou 62% de não sabe, nenhum e outras.

Um abismo de indecisão e volatilidade.

E daí?

Daí que o espaço político do centro, conjugado com as fadigas de materiais, abre caminho, agora sim, para uma terceira via.

Falta o “quem”. Mas falta sobretudo uma nova ousadia. A ousadia tanto pode ser um outsider, quanto pode ser uma repaginação moderada.

Collor foi uma ousadia de pretenso outsider. Não deu certo. Estimula mais populismo. Caiado seria a nova ousadia? Vai moderar e dialogar com o centro? Tarcísio vai moderar?

Está em aberto.

Alguns observadores da cena política nacional enxergam a experiência e a moderação de José Múcio, como boa opção. Na mesma trilha de experiência e moderação, outros observadores vislumbram Aldo Rebelo. A garimpagem do “quem”.

O busílis é: quem está entendendo as demandas e aspirações da sociedade?

A bóia da polarização está perdendo tração. Com o cenário em aberto.

As pesquisas ainda precisam mostram tendências consistentes. Não estão claras ainda.

Enquanto isto, o presidente Lula tenta repaginar o governo, estancar a queda de popularidade e governar.

Incertezas. Abrindo alas para o crescimento inercial do centro.

 

*Pós- doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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