Economistas veem IPCA pressionado até 3º tri, mesmo com fatores de alívio

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Mesmo com alguns fatores de alívio originados da guerra comercial entre Estados Unidos e China, a atual pressão de alta no IPCA deve se manter por mais alguns meses, atingindo um pico no 3º trimestre, antes de iniciar uma desaceleração. Essa é a previsão de economistas, que destacaram o avanço na métrica de 12 meses da inflação em março, divulgada nestas sexta-feira pelo IBGE.

Os preços de bens industriais, serviços e alguns núcleos do indicador foram destacados nas análises.

A alta de 0,56% no IPCA de março veio pouco acima da mediana das projeções de várias casas de investimentos, mas a métrica de 12 meses acelerou de 5,06% para 5,48%, ou seja, cada vez mais distante do limite superior da meta de inflação – que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual.

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Mais detalhadamente, chamou a atenção dos especialistas o comportamento dos serviços subjacentes, cuja variação em 12 meses passou de 6,21% para 6,43%. Na média móvel de três anualizada, o indicador subiu de 7,54% para 7,69%. A média dos núcleos foi a 6% na mesma medida trimestral.

Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, esse cenário, somado à desancoragem das expectativas, ainda não oferece alívio ao Banco Central no curto prazo, como sinalizado na última comunicação do Copom.

“Em nossa visão, alguns pontos também podem dificultar o trabalho da autoridade monetária como, por exemplo, as recentes medidas do governo para evitar um esfriamento da economia, dado que elas podem limitar a desaceleração ou até mesmo intensificar a inflação”, disse.

Entre essas medidas, ele citou a expansão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado, a liberação do FGTS, o reajuste do salário-mínimo e possível antecipação da 13ª parcela do INSS.

Para Sung, a inflação deve continuar acelerado e registrar maior estabilidade somente a partir do 2º trimestre. “Para 2025, mantemos a nossa estimativa para o IPCA segue em 5,6%.”

Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, destacou a alta dos serviços subjacentes para patamares incompatíveis com o cumprimento da meta e explicou que isso reflete o momento de baixa ociosidade e fundamentos pressionados, seja pelo lado da renda (salários) quando emprego, o que tem mantido a demanda bastante elevada.

Na análise do Bradesco, embora o número de março tenha vindo dentro do esperado, algumas grupos apresentaram pressões maiores do que o previsto, como os serviços subjacentes e os bens industriais. “Isso, no entanto, não muda nossa visão para a inflação para os próximos meses. Mantemos a expectativa de que a inflação atinja seu pico no terceiro trimestre deste ano antes de começar a desacelerar gradualmente até o final do ano.”

Sem “refresco” nos juros

Para Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, a inflação mensal desacelerou em março, mas ela “não fez mais do que a sua obrigação”, após vários impactos pontuais em fevereiro. O importante é que o número foi bem maior que os 0,16% de março de 2024, no acumulado em 12 meses ela continua acelerando e no acumulado no trimestre já chega a 2,04%”, comentou em análise.

Ele escreveu ainda que os dados qualitativo continuam piorando mês após mês. “Assim fica difícil esperar algum ‘refresco’ na política monetária do BC, mesmo com as confusões externas.  Esperamos que o BC eleve os juros na reunião de maio em 0,50 p.p. para 14,75% a.a.. Para o ano, por enquanto, mantemos em 15,50% a.a., mas com um viés de baixa devido a uma possível desaceleração da economia mundial”, estimou.

Já a AZ Quest segue com projeção de um IPCA de 5,5% ao final do ano, com o indicador atingindo um pico por volta de 6% em agosto e passado a desacelerar depois. Ele alertou que o movimento da commodities internacionais tem mexido no balanço de riscos, por conta da guerra comercial, o que deve trazer volatilidade nas estimativas  de inflação nos próximos meses.

Para Barboza, os dados devem manter o BC com um postura vigilante, de “guarda alta”, como alguns diretores da autoridade já falaram recentemente

Na opinião de Heliezer Jacob, economista do C6 Bank, com o mercado de trabalho aquecido e o real enfraquecido, o cenário continua bastante desafiador para a inflação. No entanto, ele cito a recente queda nos preços das commodities no exterior como fator que pode aliviar a pressão sobre os alimentos e os bens industriais. 

“Mantemos nossa projeção de que o IPCA deve terminar o ano em 5,9%, mas não descartamos uma alta menor, devido à perspectiva de desaceleração da economia global após o aumento de tarifas de importação pelos Estados Unidos”, ponderou.

Sobre a política monetária, ele disse acreditar que o Copom deve manter o ritmo de alta dos juros já sinalizado em sua última reunião. “Acreditamos que o Banco Central seguirá com o aperto monetário até junho, quando a Selic deve chegar a 15%, mas reconhecemos que as incertezas no cenário externo podem antecipar o fim desse ciclo de alta.”

Leonardo Costa, economista do ASA, por sua vez, comentou que o qualitativo do IPCA de março foi pior que o registrado pela prévia do IPCA-15, por conta da reaceleração dos bens industrializados de uma leitura para outra, e com o núcleo desse grupo voltando a acelerar após algumas surpresas baixistas.

Segundo ele, para o 2º trimestre, a expectativa é de desaceleração dos núcleos do IPCA. “A inflação de alimentos arrefeceu no começo deste ano, o que deve ajudar a aliviar a inflação dos serviços de alimentação. Nos bens industrializados, expectativa de taxas mensais pouco menores no curto prazo, efeito da desaceleração nos núcleos dos IGPs.”

Já Igor Cadilhac, economista do PicPay, comentou que, embora haja algum alívio na margem para a maioria dos núcleos, a composição da inflação permaneceu preocupante em março. “As principais métricas continuam significativamente desancoradas na média dos últimos três meses (dessazonalizadas e anualizadas), o que mantém um cenário desafiador para a política monetária”, disse..

Ele continua projetando que o Copom vai elevar a Selic para 15%, com uma próxima alta de 50 pontos-base, seguida por outra de 25 pontos-base, patamar que deve permanecer até o fim do ano.

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