EUA x China: como a guerra comercial entre os países afeta a moda

As decisões de Donald Trump em relação às negociações comerciais dos Estados Unidos seguem rendendo, principalmente para a China. Após anunciar tarifas sobre os produtos importados de vários países, o presidente americano voltou atrás e anunciou uma pausa de 90 dias, limitada a 10%, mas além de manter a cobrança sobre os produtos chineses, ele aumentou o percentual. A elevação mais recente da nova tarifa foi para 125% sobre o preço de itens importados. Sobrou até para o cinema de Hollywood.

Mas, e na indústria da moda, como tudo isso influencia? Vem descobrir!

Trocas comerciais EUA x China

Em meio ao vai-e-vem de tarifas (veja os detalhes na galeria abaixo), vale ressaltar que os Estados Unidos adquirem mais produtos da China do que o contrário. Do montante de US$ 585 bilhões de trocas comerciais entre os dois países em 2024, US$ 440 bilhões foram exportações da nação asiática para a norte-americana, que exportou US$ 145 bilhões. O valor, 67% menor, equivale a 1% da economia anual estadunidense. Juntos, em 2025, os dois países compõem 43% da economia global.

As exportações da China para os EUA em 2024 incluíram, principalmente, produtos eletrônicos, como smartphones e laptops, além de baterias para veículos elétricos, brinquedos e equipamentos usados em telecomunicações. Dos EUA, conforme dados da Comissão de Comércio Internacional do país norte-americano, a China importou soja para alimentação de animais, aeronaves, motores, circuitos integrados, insumos de farmácia e petróleo.

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Já no início deste mês, em meio aos 75 países cujos produtos importados terão tarifas nos EUA, a China ficou com 34% (sem contar com os 20% já cobrados, que seriam somados ao valor final)

Mesmo com a trégua de 90 dias, Trump subiu a cobrança em mais 50% devido à resposta da China, que devolveu na mesma moeda, cobrando 34% dos produtos estadunidenses importados por lá
O país asiático, então, igualou sua cobrança interna em 84%, o que fez o presidente americano subir a tarifa para 125%. Somada aos 20% de antes, ela totaliza 145% a mais sobre produtos chineses importados nos EUA, o que fez a China proibir, de forma imediata, a entrada de filmes americanos em seu território
Nesta sexta-feira (11/4), o Ministério das Finanças chinês informou que os produtos americanos importados para a China terão tarifas de 84% a 125%. Já do "outro lado", Trump havia dito que, caso não conseguisse chegar a um consenso sobre os acordos comerciais, manteria as taxas anunciadas para importações dos países no início de abril
Entre as decisões recentes, Trump também revogou uma medida dos Estados Unidos que limitava o fluxo da água em meios como torneiras, chuveiros e lava-louças do país. “Gosto de tomar um bom banho e cuidar do meu lindo cabelo”, disse ele enquanto assinava a ordem executiva, que servia para economizar água e energia elétrica
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Donald Trump anunciou tarifas que serão impostas pelos EUA a outros países

Chip Somodevilla/Getty Images

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Já no início deste mês, em meio aos 75 países cujos produtos importados terão tarifas nos EUA, a China ficou com 34% (sem contar com os 20% já cobrados, que seriam somados ao valor final)

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Mesmo com a trégua de 90 dias, Trump subiu a cobrança em mais 50% devido à resposta da China, que devolveu na mesma moeda, cobrando 34% dos produtos estadunidenses importados por lá

GPT/Arte Metrópoles

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O país asiático, então, igualou sua cobrança interna em 84%, o que fez o presidente americano subir a tarifa para 125%. Somada aos 20% de antes, ela totaliza 145% a mais sobre produtos chineses importados nos EUA, o que fez a China proibir, de forma imediata, a entrada de filmes americanos em seu território

VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto

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Nesta sexta-feira (11/4), o Ministério das Finanças chinês informou que os produtos americanos importados para a China terão tarifas de 84% a 125%. Já do “outro lado”, Trump havia dito que, caso não conseguisse chegar a um consenso sobre os acordos comerciais, manteria as taxas anunciadas para importações dos países no início de abril

Dilara Irem Sancar/Anadolu via Getty Images

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Entre as decisões recentes, Trump também revogou uma medida dos Estados Unidos que limitava o fluxo da água em meios como torneiras, chuveiros e lava-louças do país. “Gosto de tomar um bom banho e cuidar do meu lindo cabelo”, disse ele enquanto assinava a ordem executiva, que servia para economizar água e energia elétrica

Andrew Harnik/Getty Images

 

O impacto na moda

A International Textile Manufacturers Federation, em comunicado, disse que a imposição dos aumentos tarifários pelos EUA é um “desafio significativo ao sistema comercial global existente”, estruturado com acordos multilaterais, regionais e bilaterais. Para o presidente da instituição, essas mudanças terão impacto significativo que inclui aumento dos preços de vestuário e, consequentemente, da inflação.

A China é o maior exportador de vestuário para os EUA (30% do total), que é um dos maiores mercados consumidores mundiais de roupas e calçados. Nessas duas áreas, o país norte-americano importa 98% e 99% dos itens consumidos, de acordo com o portal Business of Fashion. Após os anúncios de 2 de abril das tarifas a vários países, houve quedas nas ações de marcas como Lululemon, Nike, Ralph Lauren, Capri Holdings, PVH Corp. e Tapestry.

Cargas nos Estados Unidos - Metrópoles
Os Estados Unidos importam a maior parte dos itens de vestuário e calçado que o país consome

 

A United States Fashion Industry Association, por sua vez, explicou que as famílias de baixa renda, por comprometerem mais a renda para se vestir e calçar do que o público mais abastado, serão as mais afetadas. Também destacou que, como roupas femininas e genderless são mais tributadas do que as masculinas, as mulheres acabam sendo afetadas de forma desproporcional, pelo chamado “imposto rosa”.

“A realidade é que tarifas elevadas dificilmente trarão a indústria de volta aos EUA”, acrescentou. “A porcentagem de vestuário fabricado nos EUA permanece em apenas 3%. A indústria têxtil e de vestuário vem pagando tarifas mais altas há décadas, com pouco impacto na relocalização da produção”.

Perfil de Donald Trump no X e bandeira da China - Metrópoles
Trump voltou atrás, ao menos temporariamente, com a decisão sobre as taxas de importações de outros países. Com a China, no entanto, além de manter, o presidente americano aumentou as tarifas

 

Efeitos socioambientais

Keneth Pucker, professor da Tufts Fletcher School, analisou o impacto das tarifas em relação às ações sustentáveis das marcas. Na avaliação dele, com a diminuição dos lucros para praticamente todas as etiquetas de moda, determinadas empresas passarão a compensar as perdas investindo menos em ações como compensação de carbono e direitos trabalhistas.

“Os fabricantes sob pressão sobre os preços podem ser tentados a economizar em iniciativas trabalhistas e climáticas. Fábricas fecharão e milhares dos trabalhadores mais vulneráveis ​​do setor perderão seus empregos”, observou Pucker.

Fábrica de costura na China - Metrópoles
Com a eventual queda nos lucros de marcas de moda devido às tarifas, paira a preocupação sobre a diminuição do cuidado com medidas climáticas e trabalhistas

 

Mercado global

A produção chinesa é bem maior do que a população local é capaz de consumir, o que tem feito o país buscar amparo, sobretudo na Europa, para manter as transações comerciais em atividade. Isso pode vir a ocorrer com preços bem mais baixos do que os já praticados – abaixo até do custo de produção.

Fábrica têxtil na China - Metrópoles
As exportações são importantes para a China, pois, entre os fatores, o país produz mais do que consome

 

“Estamos preocupados com a escalada da guerra comercial com a China”, comunicou a USFIA, em declaração emitida nessa quarta-feira (9/4). “Em última análise, ninguém ganha em uma guerra comercial, então esperamos que os aumentos tarifários de hoje levem a uma negociação séria para resolver os problemas comerciais de longa data entre os EUA e a China.”

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