PM aborda advogado de caso de jovem morto por defender grávida

São Paulo — O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP de Piracicaba, Gustavo Pires, relatou ter passado por uma abordagem policial violenta ao retornar, nessa quinta-feira (10/4), ao local em que o jovem Gabriel Junior Oliveira Alves da Silva, de 22 anos, foi morto após ter sido baleado na cabeça por um policial militar (PM), no dia 1º de abril.

Em seu perfil no Instagram, o advogado disse que voltou ao local, na Rua Cosmorama, em Piracicaba, no interior de São Paulo, para ouvir novas testemunhas. “Durante minha permanência, vi algumas viaturas circulando”, disse.

Gustavo diz ter deixado a rua por volta das 19h20, quando percebeu duas viaturas posicionadas na via em que ele estava subindo para deixar a comunidade. Com medo de ser vítima de uma abordagem forjada, ele pediu para seu estagiário, Sérgio Brunno, preparar o celular para gravar. Veja:

Quando as viaturas alcançaram o carro de Gustavo, ele estava em uma ligação de vídeo. “Fui obrigado a encerrar a ligação, sob gritos e ordens agressivas. Insistiram para que eu entregasse meu celular, o que eu recusei”, escreveu no post.

O advogado falou ter sido ordenado a sair de seu carro e se dirigir até um portão com as mãos na cabeça. Ele foi revistado e seu veículo, vasculhado. Um dos policiais portava um fuzil muito próximo a Gustavo, que avaliou a situação como “claro tom de intimidação”. Com os gritos do agente armado, populares começaram a filmar a cena, o que mudou a abordagem dos policiais.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, por meio de nota, que a Polícia Militar não compactua com desvios de conduta ou excessos por parte de seus agentes, punindo com rigor todas as ocorrências dessa natureza.

PM já havia voltado ao local onde jovem foi morto

Agentes da Polícia Militar (PM) voltaram mais de uma vez ao local onde o jovem Gabriel Junior Oliveira Alves da Silva, de 22 anos, morreu após ter sido baleado na cabeça por um policial durante abordagem que aconteceu em Piracicaba.

Viaturas rondaram a Rua Cosmorama na noite do dia 3 de abril, enquanto os moradores faziam uma manifestação e, no dia seguinte, agentes removeram as placas — que pediam por justiça — que estavam coladas nas casas da região.

Rebeca Mirian Alves Braga, a esposa de Gabriel, acredita que os policiais estão voltando lá para ameaçar a população. “Para nós nos calarmos”, disse ela ao Metrópoles. Vizinhos da vítima compartilham o mesmo sentimento. Segundo Rebeca, os agentes não falam nada, apenas saem da viatura com as armas na mão e ficam parados.

Questionada, a SSP informou que o policiamento ostensivo e preventivo foi intensificado na região.

Os agentes Júnior César Rodrigues e Leonardo Machado Prudêncio, envolvidos na abordagem que resultou na execução de Gabriel, foram afastados da PM. A corporação afirmou que os envolvidos serão “devidamente responsabilizados” e que não tolera desvios de conduta.

Relembre o caso

Gabriel Junior Oliveira Alves da Silva morreu após ter sido baleado na cabeça por um policial militar durante abordagem que aconteceu em na noite de terça-feira. Segundo o boletim de ocorrência, o disparo foi feito após o jovem ter pego uma pedra para defender sua esposa, Rebeca Mirian Alves Braga, que também se insurgiu contra os policiais.

Vídeos gravados por celulares mostram o momento em que Rebeca, que está grávida, é puxada por um agente. Em outro registro feito pelas pessoas que estavam ao redor, é possível ouvir o disparo que matou Gabriel. “Matou o menino”, gritam os vizinhos, desesperados.

Veja:

Gabriel chegou a ser conduzido pelo Samu ao Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba, onde a morte foi constatada.


O que se sabe

  • Os policiais militares Júnior César Rodrigues e Leonardo Machado Prudêncio estavam fazendo patrulhamento na região quando avistaram Gabriel com um volume suspeito.
  • O jovem resistiu à abordagem. Sua esposa também se insurgiu contra os policiais.
  • No momento em que o PM Júnior foi apoiar o PM Prudêncio, que estava com Rebeca, Gabriel pegou uma pedra e foi em direção aos agentes.
  • O policial Júnior César pediu para o jovem soltar a pedra, o que ele não fez. Com a aproximação de Gabriel, o PM fez o disparo.

Ainda de acordo com o boletim de ocorrência (B.O.), as armas dos policiais militares foram apreendidas. O caso será apurado por meio de inquérito policial militar (IPM).

A SSP informou que, além do IPM, o caso está sendo investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios do Deic do Deinter 9 — diretoria da Polícia Civil que atende a região de Piracicaba.

Ainda de acordo com a pasta, a Polícia Militar afirmou que não tolera desvios de conduta ou excessos. “Se constatadas irregularidades, os envolvidos serão devidamente responsabilizados”, disseram.

Segundo a pasta, a Corregedoria da PM está à disposição para receber e apurar eventuais denúncias de irregularidades envolvendo seus agentes.

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