Queda nos lucros e recessão próxima: executivos dos EUA traçam cenários após tarifaço

Mais atenção às falas dos executivos do que aos números dos primeiros três meses do ano em meio à guerra comercial. Essa já era a expectativa para os resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25) das empresas americanas, cuja temporada ganhou força nesta semana.

Assim, em teleconferências diversas, executivos de grandes bancos que divulgaram seus resultados destacaram as projeções para a economia e impacto nos negócios com os mais recentes desdobramentos da economia global – e não são nada positivas.

O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, disse esperar que as estimativas de lucros corporativos caiam em meio à incerteza criada pelas negociações comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump.

Na teleconferência, o CFO do JPMorgan, Jeremy Barnum, disse não ver motivo para retirar as estimativas do banco, que dependem do desempenho da economia e das taxas de juros.

Seu chefe, Dimon, então interrompeu o executivo, falando sobre o mundo corporativo em geral: “Eu apenas adicionaria que algumas empresas retiraram suas projeções. Espero ver mais disso.” “Os analistas geralmente reduziram suas estimativas de lucros do S&P 500 em 5%”, disse Dimon, sobre os últimos dias. “Acho que veremos essa queda ainda maior.”

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Já o presidente-executivo do Wells Fargo, Charlie Scharf, alertou que as tarifas de importação dos Estados Unidos correm o risco de desacelerar o crescimento econômico do país.

“Apoiamos a disposição do governo de analisar as barreiras ao comércio justo para os Estados Unidos, embora certamente haja riscos associados a essas ações significativas”, ressaltou em comunicado. “Esperamos volatilidade e incerteza contínuas e estamos preparados para um ambiente econômico mais lento em 2025, mas o resultado real dependerá dos desdobramentos das mudanças políticas”, reforçou.

O Morgan Stanley também ressaltou o aumento da volatilidade no mercado após divulgar seus resultados, cujo lucro de US$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre ficou acima do esperado pelo mercado.

No período, o banco teve receita líquida recorde de ações, com aumento de 45% ano a ano, com investidores reequilibrando portfólios em meio a um ambiente mais volátil nos mercados, aumentando os volumes, principalmente em ações de tecnologia e industriais.

Parte relevante dessa volatilidade nos mercados globais foi desencadeada pela nova política comercial norte-americana e o lançamento do modelo de IA generativa da chinesa DeepSeek.

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A receita com negociação de renda fixa também cresceu, uma vez que preocupações renovadas sobre estagflação levaram investidores a fazer hedge agressivamente e mudar os tipos de títulos que eles detinham e por quais períodos.

“A volatilidade aumentou a atividade de trading e houve desalavancagem”, disse a diretora financeira do banco, Sharon Yeshaya, acrescentando que os clientes continuaram ativos. “Até agora, não vimos sinais de disfunção do mercado.”

O potencial de recessão e a incerteza sobre a trajetória da taxa de juros do Federal Reserve têm deixado os investidores nervosos.

A receita de gestão de patrimônio do Morgan Stanley — uma área de foco importante — chegou a US$ 7,3 bilhões, em comparação com US$ 6,9 bilhões no ano anterior.

“A volatilidade impacta a atividade estratégica. Tínhamos o maior pipeline em anos, mas isso está demorando mais para se materializar. Os conselhos das empresas ficaram mais cautelosos”, acrescentou Yeshaya.

A executiva afirmou que as empresas não estão cancelando negócios, apenas adiando. A receita de banco de investimento do Morgan Stanley cresceu 8% em relação ao ano anterior, com maior receita de consultoria e subscrição de renda fixa. As receitas de subscrição de ações caíram porque emissores e investidores consideraram a incerteza do mercado.

Recessão no radar?

Nesta sexta, o CEO da BlackRock, Larry Fink, afirmou que os Estados Unidos estão “muito perto, senão já em uma recessão”, em meio à crescente incerteza econômica gerada por tarifas comerciais impostas pelo governo Trump.

Em entrevista à CNBC, Fink destacou que o cenário atual é marcado por desaceleração generalizada e falta de previsibilidade. “Agora temos uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas — isso significa incerteza elevada por mais tempo”, declarou.

Fink também criticou a abrangência das tarifas anunciadas em 2 de abril. “As tarifas dos EUA foram além de tudo que eu poderia imaginar em 49 anos de carreira”, afirmou a analistas em teleconferência. As medidas provocaram forte queda nos mercados globais, com o S&P 500 acumulando, em 3 e 4 de abril, sua maior retração em dois dias desde março de 2020.

Embora o presidente Donald Trump tenha anunciado, na quarta-feira, uma pausa de 90 dias em parte das tarifas, manteve impostos de 10% sobre a maioria dos países e tarifas de 145% sobre importações da China.

Segundo Fink, os impactos não se restringem ao mercado financeiro. “A queda nos mercados afeta milhões de pessoas comuns e suas economias para aposentadoria”, disse. A BlackRock observa atualmente um volume recorde de US$ 950 bilhões em contas de caixa, sinalizando cautela dos investidores.

Apesar do momento desafiador, Fink vê oportunidades futuras em inteligência artificial e infraestrutura, e projeta maior alocação de recursos na Europa.

(com Reuters)

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