Rio Grande do Sul aposta em qualificação para ser polo do setor de semicondutores até 2030

O Rio Grande do Sul quer se tornar um polo para o setor de semicondutores até 2030. Para cumprir o objetivo, foi criado o Fórum Permanente do Programa Semicondutores RS, que reúne o governo estadual, instituições de ensino e empresas.

Chips da coreana HT Micron são encapsulados em São Leopoldo  | abc+



Chips da coreana HT Micron são encapsulados em São Leopoldo

Foto: Unisinos/ Divulgação

Conforme o diretor de conhecimento da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), Guilherme Camboim, o modelo de governança surgiu de um estudo e visa dar continuidade no investimento em recursos humanos a longo prazo.

“É algo estratégico para que o país reduza a dependência de importação. Semicondutores são um tipo de insumo utilizado em diversas áreas da tecnologia. Desde veículos até aparelhos eletrônicos.”

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Uma das iniciativas foi o curso de Formação de Projetistas de Circuitos Integrados. As aulas na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em Alegrete, começaram em setembro de 2024 e a primeira turma se formou no início de março.

No total, 20 alunos de cidades como Santa Maria, Quaraí, São Luiz Gonzaga, Itaqui, Cruz Alta, Porto Alegre, Natal (RN), Aracaju (SE) e Florianópolis (SC) participaram da formação. Um edital havia sido lançado pelo governo do Estado, com investimento de R$ 869,2 mil.

Além de formar novos projetistas (engenheiros formados ou estudantes no fim do curso), a especialização oferecida pagou uma bolsa mensal de R$ 4 mil para cada aluno durante os seis meses de aulas. “Seis já estão empregados e outros estão em processo de seleção”, diz Camboim.

O coordenador da Sict esclarece que após a formação, os formandos continuam sendo acompanhados pelo Estado. “É fundamental fazer o acompanhamento dos estudantes pelos próximos meses.”

Segundo passo

A formação de novos projetistas foi só o início, já que a segunda etapa na fabricação de semicondutores também terá uma especialização no Rio Grande do Sul. Até o dia 16 de abril estão abertas as inscrições para o curso de Encapsulamento de Semicondutores.

A especialização será ministrada na ITT Chip, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo. Serão seis meses de aulas, que começam no dia 2 de junho e terminam em novembro com um estágio de até quatro semanas em alguma empresa parceira.

Chip da HT Micron encapsulado em São Leopoldo  | abc+



Chip da HT Micron encapsulado em São Leopoldo

Foto: André Seewald/ HT Micron

Os 30 alunos selecionados vão receber bolsas integrais no valor de R$ 5 mil mensais. As 30 horas semanais estão programadas para ocorrer nos turnos da manhã e tarde. “Pela manhã será a parte teórica e durante a tarde, a prática”, completa Cambim. Ele esclarece que a turma vai ajudar a “fortalecer a cadeira de produção.”

O Estado já conta com uma empresa na área de encapsulamento de semicondutores, a coreana HT Micron, instalada justamente em São Leopoldo. Os professores Celso Peter e Sandro Ferreira. Até quinta-feira (10), 72 engenheiros já estavam inscritos e a expectativa é de que até o dia 16 de abril, 90 pessoas estejam inscritas. Destes, 30 serão selecionados para participar da especialização.

As inscrições podem ser feitas através do site www.unisinos.br/institucional/bolsa-sict. Um dos critérios é a necessidade de inglês fluente, já que o idioma é considerado o oficial no ramo dos semicondutores.

“Fundamental ter mão de obra especializada”

“É fundamental ter mão de obra especializada para atrair empresas.” A frase é do coordenador geral da ITT Chip, Celso Peter, que argumenta a necessidade de mais investimento na área da tecnologia.

Segundo ele, a indústria de semicondutores é baseada no conhecimento. “Precisamos de pessoas qualificadas. O mercado migra de acordo com a oferta de profissionais.”

Especialização será ministrada na ITT Chip, que fica na Unisinos em São Leopoldo  | abc+



Especialização será ministrada na ITT Chip, que fica na Unisinos em São Leopoldo

Foto: ITT Chip/ Divulgação

Peter lembra que foi assim no Vale do Silício, nos Estados Unidos. “Essas empresas se estabeleceram no entorno da Universidade de Stanford. Depois migraram para outras regiões dos EUA, também com universidades fortes e atualmente estão em grande número no continente asiático.”

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O professor cita que países como Cingapura, Taiwan, Malásia e Filipinas, além da China, dominam o mercado dos semicondutores. “O encapsulamento de chips, por exemplo, é feito quase que 100% na Ásia.”

Vale lembrar que durante a pandemia da Covid-19, o setor automotivo sofreu com a falta de semicondutores, incluindo o brasileiro, onde a produção da General Motors (GM) precisou ser suspensa em São Caetano do Sul (SP) e na planta de Gravataí (RS).

Após a pandemia, o governo dos Estados Unidos inclusive passou a investir no segmente, com o chamado Chip Act. “A Europa também está investindo, percebeu a importância para não se tornar tão dependente.

RS no mercado

O coordenador do ITT salienta que em termos de Brasil, o Rio Grande do Sul está bem no mercado dos semicondutores. “Temos empresas das três áreas instaladas no Estado: projetistas (design de chips), fabricação de wafer de silício (matéria-prima de semicondutores) e encapsulamento. Portanto, a chance de crescimento é maior.”

Peter cita o exemplo do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), localizado na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. “O trabalho feito lá é fundamental para o crescimento do ramo no país.”

Wafer de silício utilizado na fabricação de semicondutores  | abc+



Wafer de silício utilizado na fabricação de semicondutores

Foto: Veteezy/ Divulgação

Ainda sobre o mercado, além HT Micron, o Estado está próximo de ganhar mais uma empresa na área de encapsulamento de semicondutores: a Tellescom, com sede em São Paulo e indústria em Manaus (AM). O projeto, estudado há mais de dois anos, prevê não só o encapsulamento, mas também o testes de semicondutores com foco na indústria automotiva.

A informação foi confirmada pelo governo do Estado e, apesar de não ter uma cidade escolhida, tem a certeza que a nova sede será instalada na região metropolitana. O investimento será de aproximadamente 200 milhões de dólares, ou seja, mais de R$ 1 bilhão.

“Apesar do déficit de profissionais na área da tecnologia, o Rio Grande do Sul oferece pessoal capacitado”, afirma o professor da Unisinos sobre a vinda de uma nova empresa.

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Peter reitera que o incentivo precisa começar ainda no ensino médio. “No Vale do Sinos ainda temos uma boa formação de ensino médio e técnico, como a Fundação Liberato (Novo Hamburgo), os polos do IFSUL, a Escola Técnica Frederico Guilherme Schmidt (São Leopoldo).”

Brasil em localização estratégica

Para o professor, outra vantagem do Brasil em relação aos países asiáticos está em sua localização. “É mais perto para os Estados Unidos importar produtos do Brasil, do que da Ásia, chega com muito mais facilidade.”

Ainda há a questão para outras empresas a nível mundial. Ele lembra que a Nvidia não fabrica semicondutores. “Eles apenas planejam e pagam outras empresas para fabricar os componentes.” O mesmo acontece com a Apple, que apenas projeta o iPhone nos Estados Unidos, com os dispositivos produzidos na Ásia (China, Taiwan e Índia).

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“Por isso precisamos investir cada vez mais em capacitação. Atrair mais empresas e manter as que já estão instaladas no Estado”, completa.

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