Perto do ponto de não retorno (Por Tasso Azevedo)

O Pantanal, vasta planície inundável do Brasil e a maior do mundo, é, atualmente, um dramático epicentro das adversidades climáticas exacerbadas pela ação humana. A região enfrenta secas severas e incêndios descontrolados, fenômenos que espelham não apenas uma crise ambiental local, mas, também, uma perturbação climática de escala global.

Os eventos no Pantanal não são um fenômeno isolado. O planeta testemunha um crescimento alarmante na frequência e na gravidade de eventos climáticos extremos. Tempestades devastadoras e ondas de calor sem precedentes são observadas das Américas à Europa, evidenciando uma crise que desafia fronteiras geográficas e exige atenção internacional.

Essa intensificação dos eventos extremos deve-se à interação das atividades humanas com os delicados sistemas naturais do planeta. A queima de combustíveis fósseis, práticas agrícolas insustentáveis e, crucialmente, o desmatamento e a degradação acelerada, especialmente nas regiões tropicais, contribuem significativamente para este cenário.

As florestas e savanas da Amazônia e do Cerrado são vitais para a regulação hídrica e climática. Ao serem degradadas, comprometem o regime de chuvas e afetam regiões dependentes, como o Pantanal. O desmatamento nesses biomas contribui de forma decisiva para a redução drástica na humidade, que precipita secas e incêndios.

É alarmante constatar que, nas últimas três décadas, o Pantanal sofreu uma redução de 60% da sua superfície de água, segundo os dados do MapBiomas, iniciativa que, desde 2015, analisa o uso do solo nos diversos biomas brasileiros. É um indicativo claro do impacto que as alterações climáticas e a destruição dos ecossistemas têm sobre os ambientes aquáticos e a biodiversidade.

A interligação entre o desmatamento nos biomas vizinhos e a alteração no ciclo de água do Pantanal é um exemplo palpável de como os impactos ambientais são interconectados e amplificados pelas atividades humanas. Secas prolongadas no Pantanal não apenas reduzem a humidade do solo e da vegetação, tornando a área mais propensa a incêndios; também afetam a biodiversidade e a vida das comunidades locais.

Diante deste quadro desafiador, a mitigação emerge como uma necessidade urgente. Reduzir emissões de gases de efeito estufa, promover práticas agrícolas sustentáveis e preservar áreas florestais são medidas essenciais. A colaboração global entre sociedades, governos e organizações é fundamental para desenvolver estratégias de adaptação e mitigação que possam enfrentar uma crise tão iminente quanto escalável.

Compreender a magnitude da crise climática e o papel vital que cada um pode desempenhar na promoção de um futuro mais sustentável é crucial.

Podemos estar muito próximos de “pontos de ruptura” climáticos que, uma vez ultrapassados, podem desencadear mudanças irreversíveis e autoperpetuantes nos sistemas terrestres, tornando a vida significativamente mais difícil e imprevisível para as gerações futuras. Evitar esses pontos críticos significa manter a integridade de ecossistemas vitais, como as florestas tropicais e o gelo polar, cuja destruição poderia desestabilizar o clima global de maneiras que ainda lutamos para compreender completamente.

A adoção de medidas rigorosas de proteção ambiental e a rápida transição para uma economia de baixo carbono são essenciais para mitigar os riscos de ultrapassar esses pontos de não retorno. Agir agora não é apenas uma responsabilidade ética; é uma necessidade pragmática para garantir um futuro sustentável e habitável. A nossa geração tem o dever de reconhecer e responder a estas ameaças com a urgência e seriedade que elas exigem, para assegurar que não comprometemos a capacidade de o nosso planeta sustentar a nossa e as futuras gerações.

 

(Transcrito do PÚBLICO-Brasil)

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