Aliança de moeda vira saída contra alta nos roubos e preço do ouro

São Paulo — O aumento no número de roubos e a alta no preço do grama do ouro têm feito casais procurarem alternativas ao metal que é normalmente utilizado para se fazer alianças. Por esses motivos, tem crescido a procura por alianças produzidas com moedas antigas, uma solução que pode custar até 10% do valor das tradicionais.

O grama do ouro saltou de R$ 390 para R$ 600 em apenas um ano, um aumento de 54% desde abril de 2024. Como consequência, cresceu também a cobiça dos ladrões pelo objeto que simboliza o amor e a fidelidade entre casais.

Nos dois primeiros meses do ano, foram registrados 838 roubos em que alianças foram levadas das vítimas na capital paulista, ante 640 casos de igual período de 2024. Trata-se de um aumento de 31%, com predominância em bairros das zonas oeste e sul, como Campo Limpo, Morumbi, Capão Redondo, Parque Santo Antônio e Pinheiros.

A atendente Silvana Camargo de Sousa, 50 anos, buscou na aliança feita com moeda antiga a opção razoável diante do medo de perder, além do bem afetivo, o valor material que acompanha uma de ouro.

O noivo, agora marido, queria a tradicional, mas acabou cedendo diante da violência urbana. “Está tendo muito assalto. Eu estava de casamento marcado e falei para o meu noivo comprar a de moeda antiga”, diz, recém-casada, moradora de Pirituba (zona norte).

Silvana não vê desvantagens no uso. “É uma aliança tradicional, vem forrada de prata por dentro e de moeda por fora”, diz. “Às vezes, dá uma escurecida na pele, por causa do ácido úrico. Mas é só dar uma limpadinha com produto, que volta”, afirma.

8 imagens

Fábrica de aliança de moeda antiga, em São Paulo

Moedas antigas que serão transformadas em alianças em São Paulo
Mostruário de alianças de moeda antiga
Fábrica de aliança de moeda antiga, em São Paulo
Mostruário de alianças de moeda antiga
1 de 8

Mulher segura alianças de moeda antiga, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

2 de 8

Fábrica de aliança de moeda antiga, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

3 de 8

Moedas antigas que serão transformadas em alianças em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

4 de 8

Mostruário de alianças de moeda antiga

William Cardoso/Metrópoles

5 de 8

Fábrica de aliança de moeda antiga, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

6 de 8

Mostruário de alianças de moeda antiga

William Cardoso/Metrópoles

7 de 8

Fábrica de aliança de moeda antiga, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

8 de 8

Mostruário de alianças de moeda antiga

William Cardoso/Metrópoles

 

A aliança de moeda antiga pode não evitar a abordagem do ladrão, que dificilmente saberá diferenciar, em meio a um assalto, o tipo de metal que foi utilizado para fazer o objeto — para leigos, é praticamente impossível saber do que é feita. Mas o prejuízo será menor, se for levada, apesar do desgaste emocional.

A professora Camila, 39 anos, aprova a aliança de moeda, que vai trocar daqui a quatro meses por outra de mesmo material, na data do casamento — já comprou e mostrou a caixinha, com detalhes em pedras. “Limpando direitinho nunca perde o brilho”, afirma. A motivação foi financeira. “Eu não gastaria com ouro o que gastei com essa de moeda”, diz.

Vendas

A empresária Rebeca Mendes Alves, 30 anos, afirma que, no último ano, o preço do ouro e o crescimento no número de assaltos fizeram crescer em cerca de 50% a procura pelas alianças de moeda antiga.

Segundo Rebeca, os casais têm adotado estratégias sem abrir totalmente a mão do ouro. “Os clientes optam por levar as alianças de moeda antiga e de ouro também. Eles intercalam. Quando vão sair, usam as alianças de moeda antiga devido aos assaltos, e quando estão em casa ou mais tranquilos usam a aliança de ouro”, diz.

Segundo a empresária, as alianças de ouro saem a partir de R$ 1.200, enquanto as de moeda antiga custam desde R$ 200 em sua loja.

A promotora de vendas Bruna Braga, 28 anos, trabalha desde a adolescência nas proximidades da Praça da Sé, tradicional reduto de venda de alianças na cidade de São Paulo.

“Do ano passado para cá, a procura tem sido bem maior. O pessoal vem com interesse, até pela questão do valor do ouro, que aumentou muito. Preferem a moeda antiga, que tem a garantia permanente, ao contrário das alianças banhadas, que vão perder a cor. Pela sustentabilidade, o valor do custo menor, o pessoal tem procurado bastante”, afirma.

Bruna diz que algumas pessoas ressaltam também a questão da segurança, por mais que seja difícil que um ladrão consiga diferenciar o material. Ela também cita a “dobradinha” entre os dois tipos de material, como forma de diminuir o prejuízo em um assalto. “Alguns casais que têm a aliança de ouro vêm procurar a de moeda antiga para usar no dia a dia”, diz.

O que diz a SSP

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirma que tem intensificado esforços no combate aos roubos de itens valiosos, como relógios de luxo e joias – dentre elas, alianças. “A Polícia Civil conduz investigações voltadas para desmantelar as redes criminosas que operam no mercado clandestino desses objetos e realiza ações de inteligência, com o objetivo de identificar os responsáveis por esses crimes e seus pontos de venda. Além disso, a Polícia Militar tem intensificado o patrulhamento nas áreas mais vulneráveis a esse tipo de delito”, diz, em nota.

Segundo a SSP, nos últimos três anos, a 4ª Delegacia de Investigação de Crimes contra o Patrimônio, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), tem realizado um trabalho intensivo no combate aos roubos e furtos de relógios de luxo e joias.

“Durante esse período, a delegacia indiciou 400 pessoas, sendo 160 delas presas em flagrante. Além disso, foram solicitados 315 pedidos de prisão preventiva e 190 de prisão temporária, com o intuito de desarticular quadrilhas envolvidas nesse tipo de crime. A atuação da equipe também resultou no cumprimento de 622 mandados de busca e na identificação e prisão de 36 receptadores”, afirma.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.