Aspirante a mártir, Bolsonaro martiriza-se antes de ser condenado

Na última sexta-feira (11), a ação penal do núcleo central da trama golpista de 2022 foi aberta no Supremo Tribunal Federal com a publicação do resultado da sessão da Primeira Turma que aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República.

São réus nessa ação o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete pessoas – entre elas, os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio de Oliveira. O ato dá início ao andamento do processo penal, fase que inclui a oitiva de testemunhas de defesa e acusação.

A notícia pegou de surpresa Bolsonaro, que estava em Santa Cruz, interior do Rio Grande do Norte, a serviço do seu partido. No mesmo dia, ele passou mal, foi atendido com dores gastrointestinais e transferido para um hospital de Natal.

Depois de exames, os médicos disseram que seu estado não era grave e que ele não seria operado. Bolsonaro gravou vídeos, sorrindo. Um dos seus acompanhantes fez logo questão de atribuir as dores à facada que Bolsonaro levou em Juiz de Fora, em 2018.

Ontem, o médico Claudio Birolini, enviado pela família a Natal, disse em entrevista coletiva:

“Da forma como ele chegou, bastante desidratado, [com] muita dor e distensão abdominal exuberante, dá para dizer com alguma segurança que esse foi o quadro mais exuberante em relação aos quadros anteriores que ele apresentou, embora eu não tenha acompanhado presencialmente as outras ocasiões”.

Alguns conselheiros de Bolsonaro queriam que ele fosse removido para São Paulo, aos cuidados da equipe do médico Antonio Luiz Macedo, que monitora seu estado desde a época da facada. Mas a ex-primeira-dama, Michelle, decidiu que ele iria para Brasília.

Bolsonaro ainda teve tempo de gravar um novo vídeo e postar uma mensagem no Instagram. No vídeo, afirmou que deveria voltar a Brasília “para continuarmos o tratamento com possível intervenção cirúrgica”. Escreveu no Instagram:

“Depois de tantos episódios semelhantes ao longo dos últimos anos, fui me acostumando com a dor e com o desconforto. Mas, desta vez, até os médicos se surpreenderam. Foi o quadro mais grave desde o atentado que quase me tirou a vida. Após minha transferência, provavelmente passarei por uma nova cirurgia”.

Da noite da sexta-feira para o amanhecer do sábado, Bolsonaro passou bem, segundo o médico Luiz Roberto Fonseca, do Hospital Rio Grande. Teve uma noite tranquila, com mais de 8 horas de sono. Ao acordar, caminhou pelo hospital sem se queixar.

Apesar das fortes dores que disse ter sentido, Bolsonaro saiu andando do hospital e partiu para o aeroporto, onde uma UTI do ar o aguardava. Desembarcou em Brasília às 21h30m. Foi para o hospital DF Star. Ali, um grupo de devotos já rezava por ele.

Sua internação é a 14ª desde a facada. Se operado, o será pela 7ª vez. Bolsonaro é um péssimo paciente. Nunca obedeceu completamente às regras ditadas pelo seu ex-médico Antonio Luiz Macedo. Que um dia admitiu isso, sem se referir a ele como “péssimo paciente”.

Bolsonaro não poderia tão cedo subir em um cavalo ou pilotar uma moto ou jet-sky, prescreveu Macedo – ele subiu e pilotou. Não poderia se entupir de açúcar, mas ele se entupiu. Comida apimentada, jamais – ele continuou comendo. Martirizou-se, portanto, porque quis.

Se condenado pelo Supremo, caso não fuja antes de ser preso, Bolsonaro alimenta a ideia de tornar-se uma espécie de mártir, vítima de um golpe judicial, e não do golpe que  tentou aplicar, sem sucesso. Assim, não perderá a condição de líder da direita.

Vida longa e justiça para Bolsonaro.

 

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