Último hospital no norte de Gaza fecha após novos ataques israelenses

Um bombardeio israelense danificou gravemente um dos poucos hospitais ainda em funcionamento na Faixa de Gaza neste domingo (13/4), com Israel alegando ter como alvo um “centro de comando” do movimento islâmico palestino Hamas. Não houve relatos de vítimas no ataque ao hospital Al-Ahli na Cidade de Gaza (norte), também conhecido como Hospital Batista Árabe Al-Ahli, que ocorreu depois de Israel anunciar que estenderia sua ofensiva “para a maior parte” do território palestino devastado e sitiado.

Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, que foi desencadeada por um ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, dezenas de milhares de habitantes do enclave se refugiaram em hospitais, muitos dos quais foram danificados ou desativados.

O ataque ao hospital Al-Ahli ocorreu “alguns minutos depois de um aviso do exército israelense que pedia a evacuação de pacientes e acompanhantes”, de acordo com a Defesa Civil Palestina.

Após o aviso para deixar a área no meio da noite emitido pelo Exército israelense, pacientes e familiares de doentes foram para as ruas com suas camas de hospital e, em alguns casos, cilindros de oxigênio. Segundo a Defesa Civil local, o bombardeio destruiu o prédio de cirurgia e a estação de produção de oxigênio para as unidades de tratamento intensivo.

As cenas de caos ao redor do hospital Al-Ahli são devastadoras. Os vídeos gravados pelo jornalista palestino Anas Al-Sharif, da Al Jazeera, antes dos ataques são impressionantes, afirma a correspondente da RFI em Jerusalém, Aabla Jounaidi.

A Diocese Anglicana de Jerusalém, que administra o hospital, disse em um comunicado à imprensa que o pedido do Exército de Israel veio apenas cerca de 20 minutos antes do bombardeio do hospital. De acordo com o médico americano Razan Al Nahhas, que está há 50 dias em Gaza, pelo menos três pacientes morreram durante a evacuação, incluindo uma criança que usava oxigênio.

“Saímos correndo do hospital. Quando chegamos à porta [da frente], eles a bombardearam e houve uma enorme explosão”, contou Naïla Imad, uma paciente de 42 anos deslocada e retirada do hospital. “Meus filhos e eu estamos sem teto. Fomos deslocados mais de 20 vezes, não sabemos mais para onde ir”, disse ela à AFP.

Hospital Al-Ahli encerra atividades

O hospital parou de funcionar, disse Mounir Al-Barsh, funcionário do Ministério da Saúde do Hamas, o movimento que assumiu o poder em Gaza em 2007. De acordo com as imagens da AFP, grandes pedaços de concreto e pilhas de metal retorcido estão espalhados pelo local, onde homens estão vasculhando os escombros. A explosão deixou um buraco aberto no prédio, cujas portas de ferro foram arrancadas de suas dobradiças.

“Foi um inferno”, declarou Khaled Dalloul, que foi retirado com seu tio do hospital Al-Ahli. “Não há lugar para receber tratamento ou dormir. É uma sentença de morte coletiva”.

O complexo hospitalar de Al-Ahli “era usado pelos terroristas do Hamas para planejar e realizar ataques contra civis e tropas israelenses”, defendeu o exército israelense, que declarou em um comunicado à imprensa que havia tomado medidas antes de bombardear o local para poupar os civis.

Os hospitais, que são protegidos pela lei humanitária internacional, foram atingidos várias vezes pelo Exército israelense na Faixa de Gaza.

Os setores de recepção e emergência do Al-Ahli foram destruídos pelo fogo causado pelo ataque, que pôde ser visto por várias testemunhas na Cidade de Gaza. Também foram danificados o laboratório, a farmácia e o estoque de oxigênio para tratamento intensivo. Os médicos e enfermeiros do Al-Ahli estavam acostumados a trabalhar nas piores condições possíveis, mas agora esse que era o último hospital em funcionamento na área está fora de serviço.

Alguns pacientes foram encaminhados para um hospital menor e menos equipado, que também foi parcialmente destruído: o hospital de Al-Shifa, a cerca de 3 km de distância. No entanto, não há nenhuma garantia que os doentes chegarão sãos e salvos, dadas as condições de transporte.

Instalações de saúde frequentemente visadas por Israel

A Diocese Anglicana de Jerusalém disse estar “horrorizada” com o ataque. “Esse bombardeio ao hospital é agora o quinto desde que a guerra começou em 2023, e desta vez ocorreu na manhã do Domingo de Ramos e no início da Semana Santa”, disse, em comunicado. “Pedimos a todos os governos e pessoas de boa vontade que intervenham para pôr fim a todos os tipos de ataques a instituições médicas e humanitárias”, acrescentou.

O resultado desses ataques, denunciados pela Defesa Civil Palestina e pelo Ministério das Relações Exteriores da Palestina, ainda não é conhecido. O Hamas está mais uma vez acusando Israel de crimes de guerra. Al-Ahli é o 35° hospital bombardeado desde outubro de 2023. Ele havia sido alvo, logo no início da guerra, em meados de outubro de 2023, de um ataque que matou centenas de pessoas, lembra a AFP.

As autoridades palestinas também acusam Israel de destruir deliberadamente o sistema de saúde da Faixa de Gaza.

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