Acidentes com mortes acendem alerta para segurança no trânsito na região

Em um mês, entre os dias 6 de março e 5 de abril, cinco pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito em vias municipais de Sapucaia do Sul. Embora tenham tido circunstâncias distintas, os casos refletem uma situação cada vez mais comum na região, com o aumento de ocorrências graves em ruas, avenidas e estradas e acendem o alerta para a necessidade de um trânsito mais seguro para motoristas e pedestres.

No dia 6 de março, duas mulheres foram atropeladas na pista de caminhada da Avenida Sapucaia



No dia 6 de março, duas mulheres foram atropeladas na pista de caminhada da Avenida Sapucaia

Foto: Brigada Militar/Especial

Em Sapucaia, de acordo com o secretário de Segurança Pública e Trânsito, André Câmara, de 1º de janeiro até a última sexta-feira (11), haviam sido registrados 102 acidentes em vias municipais, sendo 90 deles sem lesões, apenas danos materiais. As demais 12 ocorrências com lesões resultaram em seis mortes.

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Entre os casos mais recentes ocorridos no município, dois deles geraram grande comoção e envolveram ônibus. O primeiro, em 6 de março, causou a morte de Rosimeri Feiber da Silva, 50. Rosimeri e uma outra mulher, de 34 anos, foram atropeladas por um ônibus em cima da calçada, quando se exercitavam na pista de caminhada da Avenida Sapucaia, no Centro. À Polícia, o condutor do ônibus alegou ter passado mal instantes antes do acidente.

No dia 24 de março, pai e filha morreram atropelados por um ônibus na Rua dos Sabiás, no Loteamento Colina Verde, no bairro Vargas. Toni Vanderlei de Souza, 62, e a filha, Emanuelly de Souza, 5 foram atingidos por um ônibus desgovernado, quando estavam a caminho da escola da criança. A menina ficou presa às ferragens, ao ser prensada contra as grades da residência em que o veículo atingiu. O pai chegou a ser retirado, mas ambos não resistiram aos ferimentos e morreram no local do acidente.

“É com profundo pesar que acompanhamos os recentes acidentes de trânsito que resultaram em três perdas de vidas em nossa cidade. Ambos os casos foram situações isoladas envolvendo circunstâncias excepcionais, não representando um padrão crescente de acidentes na nossa cidade. Estes casos específicos ainda estão em investigação, mas a princípio foram resultados de falhas mecânicas em ônibus de empresas particulares”, comenta o secretário.

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Além destas, as demais ocorrências registradas entre o começo de março e o começo de abril resultaram em outros dois óbitos. No dia 13 de março, Iracema Silva Müller, 60, morreu na Avenida Sapucaia, vítima de atropelamento, após um carro colidir contra a bicicleta conduzida por ela. No dia 5 de abril, Alex Sandro Ramos, de 41 anos, condutor de um Outlander Mitsubishi, morreu ao perder o controle do veículo e colidi-lo contra a estrutura da passarela, conhecida como Passarela da Catedral, também na Avenida Sapucaia.

Conforme o secretário, a pasta sob sua titularidade tem trabalhado em ações preventivas e educativas, durante todo o ano, para tornar o trânsito de Sapucaia do Sul mais seguro. Dentre as iniciativas, estão a intensificação nas fiscalizações em pontos estratégicos em horários de maior movimento, campanhas educativas contínuas nas escolas, melhoria na sinalização viária, com foco em áreas de maior circulação de pedestres, operações integradas com a Brigada Militar e estudo técnico para implementação dos controladores de velocidade.

Segundo ele, entre os pontos que recebem atenção especial por conta do maior fluxo de veículos na cidade estão as avenidas Sapucaia, João Pereira de Vargas e Justino Camboim e a Rua Rubem Berta.

Reforço da segurança na pista de caminhada

Em relação ao trágico acidente ocorrido na pista de caminhada da Avenida Sapucaia, Câmara destaca que é importante ressaltar que se tratou de uma “fatalidade circunstancial”, envolvendo um ônibus de empresa particular que perdeu o controle. “Esse tipo de ocorrência é de natureza factual e, infelizmente, imprevisível, o que limita as possibilidades de prevenção absoluta”, diz.

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“Entretanto, mesmo reconhecendo que não há como prever todas as eventualidades, a Prefeitura está comprometida em reforçar a segurança no local por meio de algumas ações como o reforço da sinalização horizontal e vertical ao longo da avenida, para alertar tanto motoristas quanto pedestres, e a instalação de câmeras de segurança em pontos estratégicos, que permitirão monitoramento em tempo real e resposta mais rápida a situações de emergência”, conta.

Além disso, segundo ele, um estudo técnico completo está sendo realizado para identificação de outros pontos da via que necessitem intervenção específica, buscando minimizar riscos futuros. “Ressaltamos que a administração municipal está em constante diálogo com as empresas de transporte coletivo que atuam na cidade para garantir a manutenção adequada da frota e o cumprimento rigoroso das normas de segurança”, frisa.

Engenheiro analisa alternativas para um trânsito mais seguro

Engenheiro Civil e Professor de Infraestrutura de Transportes na Unisinos, Fabiano da Silva Jorge analisa que imprudências, falhas mecânicas e rodovias com problemas na pista de rolamento, sinalização e geometria estão entre as muitas causas para a ocorrência dos acidentes.

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“A engenharia civil tem um papel extremamente importante na segurança e conforto do usuário enquanto ele está se deslocando nas rodovias ou ainda nas ruas urbanas de nossos municípios. Hoje contamos com profissionais especialistas em engenharia de tráfego, de trânsito e de mobilidade que podem contribuir de forma concreta para diagnosticar e proceder de ações mais assertivas para melhorar este cenário assustador de acidentes recorrentes e que cada vez mais tiram vidas”, diz.

Carro se choca contra estrutura de passarela e motorista morre no Vale do Sinos



Carro se choca contra estrutura de passarela e motorista morre no Vale do Sinos

Foto: Brigada Militar

Nas rodovias, federais e estaduais, o engenheiro destaca que ações como duplicações de pistas, regularização de acessos, implantação de rotatórias, controladores de velocidade, passarelas para pedestres e de viadutos em perímetros urbanos podem garantir mais segurança viária. “Mas não menos importante são as ações de manutenção e conservação das pistas e principalmente da sinalização viária, pois estas vão potencializar a garantia de segurança e conforto para todos os usuários”, completa.

Nas ruas urbanas, Jorge pontua as ações como estudos de mobilidade e de trânsito como imprescindíveis, uma vez que as características dos movimentos são completamente diferentes das rodovias. “As possibilidades de fluxos e da necessidade de veículos, motos, ciclistas e pedestres estarem, digamos, dividindo espaços é maior e assim precisamos ter um olhar mais preventivo nas ações”, explica.

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Para o engenheiro, educação no trânsito, implantação de controladores de velocidades, inserção de faixa de pedestres e fiscalização são exemplos de ações necessárias para uma maior segurança nas vias urbanas.

“Mas independentemente de ser rodovias ou ruas urbanas, todas estas ações educativas, preventivas e/ou corretivas só terão efeitos se todos nós usuários, estando na condição de motoristas, ciclistas ou pedestres, agirmos com prudência sempre. O excesso de velocidade, ingerir álcool e dirigir, desrespeitar a sinalização, uso de celular, ultrapassagens de risco, atravessar pistas em locais não apropriados, circular com bicicletas e demais meios de transporte alternativo em locais inapropriados são algumas das principais ações que potencializam em muito o risco de acidentes. O trânsito precisa da atenção e prudência de todos”, destaca.

Investigação

Em entrevista recente ao Jornal VS, a titular da 1ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo, a delegada Cibelle Savi, comentou que nas investigações de crimes de trânsito é fundamental a análise de imagens de câmeras de videomonitoramento ou a presença de testemunhas.“Sabemos que os crimes de trânsito, no geral, exigem o dolo, a vontade de praticar o fato por parte do agente. Mas o homicídio culposo de trânsito não envolve o dolo, ele envolve uma imprudência, uma negligência ou uma imperícia que resulta na perda da vida da vítima”, comenta.

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Segundo ela, a conduta da autoridade policial na condução do caso dependerá de diferentes fatores. “Quando não envolve o dolo e o condutor do veículo para e presta pronto e integral socorro à vítima, no geral, não se prende em flagrante, nem tão pouco arbitra fiança”, explica.

“Existem algumas situações que tornam o caso mais gravoso, como o condutor estar embriagado, dirigindo numa velocidade muito acima do permitido, não prestar socorro. Aí o delegado vai analisar se aquela situação demanda de acordo com os preceitos do Código de Trânsito Brasileiro a autuação em flagrante ou se dentro das suas possibilidades o condutor fez o que deveria ter feito para minimizar as consequências e não faz a autuação em flagrante”, completa.

Riqueza de detalhes auxiliam na elaboração do inquérito

A delegada ressalta, ainda, a importância do trabalho do Instituto-Geral de Perícias (IGP) nas investigações de crimes de trânsito.

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“Através do IGP conseguimos diversas informações complementares que nos auxiliam a chegar o mais próximo da cena do fato. Essas análises mecânicas nos veículos, velocidades estimadas, lesão que de fato gerou o óbito da vítima, dentre outras informações. Quanto mais elementos nós colocarmos neste inquérito policial, mais formatado ele será encaminhado ao poder judiciário, para facilitar tanto à família da vítima a buscar algum tipo de indenização, responsabilização, quanto também para o próprio Ministério Público para oferecer ou não esta denúncia e ao órgão julgador no momento de proferir a sua sentença”, esclarece a delegada.

Penas

Segundo Cibelle, no caso do homicídio de trânsito decorrente do condutor embriagado, a pena é de 5 a 8 anos de reclusão. “Em razão da gravidade dessas penas, o autor ficará preso em flagrante, já que como a pena mínima é superior a cinco anos, o delegado não poderá arbitrar fiança, já que nós arbitramos fiança apenas até 4 anos de prisão nos crimes.”, explica.

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“Quando o homicídio de trânsito é culposo, e não existe nenhum caractere majorante para ele, a pena é um pouco abrandada, fica de 2 a 4 anos de detenção. Nesta hipótese, o delegado estará, sim, autorizado a avaliar as circunstâncias e se for o caso, ao arbitramento de fiança e liberação do agente”, ensina.

 

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