Aumento do preço do chocolate vai deixar a Páscoa “salgada”

Aqueles momentos de troca de chocolates entre familiares e da procura pelos ninhos de Páscoa por parte da criançada pode estar comprometido. A expectativa é que no próximo domingo, dia 20, o coelhinho não seja tão generosos quanto em outros anos. Talvez, até sem trazer os famosos ovos de chocolate, afetando a festividade cristã.

Luciano e Fábio, da Artesana Chocolates  | abc+



Luciano e Fábio, da Artesana Chocolates

Foto: Gabriel Stöhr/GES Especial

De dezembro de 2023 até o mesmo mês de 2024, ou seja, no recorte de um ano, o preço do cacau subiu 189% no mercado internacional. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia), a principal matéria-prima para a produção do chocolate foi a commodity agrícola que mais encareceu no período, ficando à frente do café (140,3%), do leite (22,6%), do milho (9,3%) e do trigo (9%). Segundo a entidade, a elevação ocorreu devido a uma redução na safra da fruta na Costa do Marfim, principal produtor mundial.

Segundo melhor

Com o aumento dos valores dos chocolates já visível no comércio, pode-se projetar uma Páscoa mais “salgada” neste ano. Mesmo com uma possível baixa nas vendas desses produtos, Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), destaca a importância da data festiva para o setor.

“A Páscoa continua sendo o segundo melhor evento em vendas para os supermercados (atrás apenas do Natal). Ela contempla vendas de ovos, chocolates, pequenos presentes, pescados, carnes, churrasco, bebidas e continua representando cerca de 8 a 10% das vendas do mês (abril)”, afirma Antônio.

Ainda sobre os doces, o presidente da Agas aponta para uma migração das compras para outros produtos derivados do chocolate, além dos ovos. “Esse ano pode ter um formato diferente. Uma migração de ovos para caixas de bombons, para embalagens especiais, chocolates artesanais ou pequenos presentes. Ou seja, o evento continua. Mas, especificamente, os ovos de Páscoa perdem um pouco o espaço e ganham os chocolates e embalagens especiais”, completa.

Os números confirmam a projeção da Agas. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), em 2025, foram produzidos 45 milhões de ovos de chocolate, uma redução de 22,5% em relação ao ano passado, quando foram fabricados 58 milhões. A Abicab aponta que, por outro lado, ocorreu um aumento na variedade de produtos feitos com chocolate. Em 2024, eram 611 tipos. Agora, a alta foi de 31,5%, elevando para 803 o número de opções.

Setores dividem a conta

Com o aumento do preço do cacau, todos os segmentos da cadeia até o chocolate chegar ao consumidor final precisam se adaptar. Sheila Kieling, 53 anos, gerente da Ferga, tradicional distribuidora alimentícia de Novo Hamburgo, afirma que precisa haver um “jogo de cintura” desde a indústria, passando pelas distribuidoras até chegar ao comércio para que isso ocorra de uma forma saudável para os negócios e também para o público.

“Muitas vezes, nós distribuidores temos que reduzir a nossa margem de lucro. Precisamos dividir esse peso com a indústria para não doer tanto no bolso do consumidor final. Temos que pensar que, além de termos o nosso lucro aqui, do outro lado tem alguém que muitas vezes está produzindo algo para completar a sua renda, ou até utilizando como renda principal da sua casa a venda desses produtos”, disse Sheila.

Fábio Heck, 44 anos, proprietário da Artesana, pode afirmar com propriedade como os diversos setores sentem o impacto do aumento. Sua empresa atua como distribuidora para outros comércios e também vende diretamente ao público. Por isso, entende como tem funcionado a “balança” nesta Páscoa.

“Esse aumento é algo sazonal. Nunca aconteceu algo parecido. O que dá para dizer é que nós como indústria não estamos repassando todo o aumento. A gente absorve um pouco da margem de lucro e tenta manejar outras questões”, disse o empresário.

“Nós sentimos esse impacto nas duas pontas, tanto como indústria quanto comércio. Aqui na loja a gente repassou somente uns 30% desse aumento. Seguramos bastante os valores para não deixar de atender o pessoal nessa época”, acrescentou.

Ano das lembrancinhas

Uma opção dos consumidores é comprar dos produtores artesanais e garantir um chocolate bem mais em conta. Uma dessas pessoas que empreende com os doces é, Andréia Cristina Trein, 52 anos. Durante 20 anos ela concilia a profissão de gerente de mercado com a de confeiteira nas horas vagas. Até que, há 7 anos, decidiu colocar a produção de chocolates como atividade principal.

Andréia Cristina Trein faz produtos artesanais há 20 anos  | abc+



Andréia Cristina Trein faz produtos artesanais há 20 anos

Foto: Gabriel Stöhr/Especial

“Essa hoje é minha renda principal. E não é só na Páscoa que os negócios são bons. No Dia das Mães, dos Namorados, Natal… Em diversas datas consigo fazer boas vendas”, conta Andréia.

Ela ainda explica que o feriado de abril tem uma particularidade. Segundo Andréia, 90% dos pedidos costumam vir na última semana. “Maioria das pessoas costuma planejar isso na última hora, e muita coisa não tem como a gente adiantar. Então, os últimos dias são de trabalho muito intenso”, acrescenta.

CLIQUE AQUI PARA ENTRAR NA COMUNIDADE DO ABCMAIS NO WHATSAPP

Outro ponto da comemoração deste ano, conforme Andréia, é que será das “lembrancinhas”. “Certamente na hora de presentear o filho ou o netinho, o pessoal vai comprar um ovo. Mas, na maioria dos casos, as pessoas vão comprar coisas menores.”

Tradição prossegue

Para Cristiano, a Páscoa de 2025 tem um importante papel e pode remodelar a forma em que comemoramos os feriados. Ele diz que o setor está se adaptando ao aumento do cacau. “O importante dessa Páscoa também é trabalhar ela pensando na de 2026. Talvez esse seja o cenário para alguns anos, ainda não sabemos. Quando falamos do cacau, existe uma tendência de estabilização, mas não de voltar a ser o que era. Se tratando dessa matéria-prima podemos projetar no máximo daqui a três meses. A safra desse ano não foi tão melhor no ano passado, então a situação não deve ser tão diferente ano que vem”, projeta.

Chef Cristiano Schuck é formado em gastronomia | abc+



Chef Cristiano Schuck é formado em gastronomia

Foto: Gabriel Stöhr/Especial

Mesmo assim, a tradição tende a se manter. Uma unanimidade entre os profissionais do setor é que a população vai seguir se adaptando a esses momentos de crise. “Não acho que devido à crise a Páscoa não vai acontecer. Existe muita especulação sobre isso, mas eu digo que vai ser uma Páscoa com muito chocolate, sim! Não existe Páscoa sem chocolate.”

Mistura com outros ingredientes pode baratear o custo

Cristiano Schuck, 38 anos, que atua como representante comercial de distribuidoras de chocolate, aponta que, de fato, desenha-se uma Páscoa com uma maior amplitude de opções na hora de dar presentes. Então, mesmo com o aumento considerável nos preços dos chocolates, principalmente nos ovos de Páscoa, o consumidor pode optar por opções que agreguem outros materiais que não sejam derivados dos chocolates.

“O consumidor vai ter outras opções. Opções em tamanho, formatos, modelos, chocolate misturado com outros itens para tentar deixar mais barato esse chocolate na questão do preço. Como, por exemplo, flocos de arroz, cereais e recheios. A galera vai misturando para dar mais volume nesse produto”, afirma Cristiano, formado em gastronomia e especialista em confeitaria. Ele explica que a matéria-prima mais cara é a manteiga de cacau, o que deixa o chocolate branco mais caro que o ao leite, por exemplo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.