Brasil pode ganhar competitividade após tarifaço, prevê CEO da Bradesco Asset

Enquanto o embate comercial entre Estados Unidos e China agita os mercados globais, o Brasil surge como um dos países menos afetados e com potencial para colher frutos desse cenário.

É o que analisa Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset, uma das grandes vencedoras da primeira edição da Premiação Outliers InfoMoney, que reconheceu os destaques do mercado em 16 categorias. Em um evento que ouviu os próprios gestores, a Bradesco levou para casa cinco troféus.

“No relativo, o Brasil acabou ficando bem”, afirma ele, destacando que o país sofreu menos impacto em comparação a outras nações emergentes e pode ocupar espaço no comércio internacional em razão das tarifas impostas entre as duas potências.

Segundo Funchal, os produtos brasileiros podem ganhar competitividade tanto nos EUA quanto na China.

“A soja é o melhor exemplo de produto brasileiro que pode entrar na China em substituição à soja americana. E nos Estados Unidos, a gente tem um setor de vestuário, calçado, aeronave, tudo isso pode ocupar um espaço que, relativamente, a nossa taxação está menor”, diz o executivo em entrevista exclusiva ao InfoMoney.

Leia também: Bradesco vence categoria de Votação Popular na Premiação Outliers InfoMoney

Apesar disso, ele pondera que o efeito líquido da guerra comercial ainda é incerto, já que uma desaceleração global mais intensa também afetaria o Brasil — ainda que em menor grau.

Confira os principais trechos da entrevista concedida por Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset:

InfoMoney: Pensando do ponto de vista de investimentos, ainda é cedo para falar em oportunidades ou já dá para observar alguma coisa?

Bruno Funchal: É muito cedo. Ainda está muito no início das rodadas. Mas, de fato, muita volatilidade e mudanças de direção acabam trazendo algumas oportunidades. Víamos o mercado americano, a bolsa americana, com valuations bastante altos, e sempre se falava que algum dia viria um ajuste. Vem um ajuste a partir dessa medida idiossincrática do Trump que trouxe um ajuste bastante forte para o mercado americano. E em geral, o que se mostra é que quando tem uma queda muito forte, 6 meses, um ou 2 anos depois, acaba tendo uma valorização que compensa bastante. Mas isso são dados estatísticos… Isso dá um sinal de oportunidade, mas, mesmo assim, de novo, é oportunidade para quem quer tomar esse risco. Então é bastante risco e bastante volatilidade.

IM: Diante do cenário que temos hoje, quais as expectativas em relação a indicadores econômicos e projeções para 2025? Houve alguma mudança para a Bradesco Asset em relação a dólar, juros e a própria bolsa de valores?

BF: Por enquanto, as mudanças são mais marginais, até porque ainda estamos no processo e temos que ver para onde isso vai convergir. Se tivermos uma guerra tarifária mais contundente, provavelmente vamos ter um crescimento menor e a inflação será afetada pelas tarifas, que acabam afetando os preços dos produtos. Falta informação para fazer esse tipo de revisão. Temos revisado os dados da economia brasileira. Começamos o ano com projeção de crescimento um pouco abaixo de 2%, e já revisamos para 2%. A inflação projetamos perto de 6%, em 5,8%, o câmbio próximo de R$ 6, e a taxa de juros projetada é de 15%, permanecendo nesse patamar até o final do ano.

IM: Para a bolsa, vocês trabalham com algum número?

BF: Não.

IM: Há uma expectativa de gatilhos que possam destravar valores em setores importantes da economia brasileira? Alguma ação do governo que possa ajudar ao longo deste ano?

BF: A maior ajuda que poderia vir é o reforço da credibilidade fiscal. A perda de confiança na nossa regra fiscal atrapalhou bastante. Medidas que permitam ao governo cumprir a regra e fazer com que a dívida [pública] não se acelere e que de fato converse com a política monetária. Porque estamos com economia bastante acelerada com o processo inflacionário. Vemos o Banco Central trabalhando para ter a inflação convergindo para a meta. Temos que ter uma coordenação entre as políticas econômica, fiscal e monetária. Temos visto a monetária mais contracionista, a fiscal nem tanto. Essa harmonização é importante.

IM: A Bradesco Asset saiu da premiação Outliers InfoMoney com cinco prêmios, entre eles, melhores fundos de renda fixa e de crédito privado. Vocês tiveram algum empenho especial em relação ao crédito privado? Nos últimos anos, alguns casos de recuperações judiciais preocuparam os investidores… Qual o panorama para o segmento hoje?

BF: O crédito privado é uma classe que cresceu muito nos últimos anos, com o aprofundamento do mercado de capitais no Brasil. Em um passado recente, em 2016 e 2017, o mercado era muito menor do que hoje. Vimos o desenvolvimento mercado e veio a demanda, o apetite dos investidores por essa classe, que acabou expandindo muito. Vimos um grande fluxo para essa classe, especialmente nos últimos dois anos, enquanto houve saída dos multimercados e ações. Temos um processo muito estruturado, com forte governança, para fazer esse tipo de análise. Em 2023, tivemos eventos de crédito no mercado, mas conseguimos passar bem, enquanto o mercado em geral sofreu com isso. Com certeza acaba sendo um dos elementos que nos permitiu ser destaque na categoria de crédito no Outliers. Mas é uma classe que veio para ficar, então, é uma forma de diversificar o risco. E em geral, as cotas de fundos de crédito variam muito pouco. Tem pouca volatilidade aparente, mas pode ter descontinuidades por conta de eventos de crédito. Não é que não tem risco, é um tipo de risco diferente, ou volatilidade diferente. Temos visto, em geral, pelo menos nos balanços das empresas, não vemos grande problema para esse ano.

Saiba mais: Bradesco vence categoria Fundo de RF Crédito Privado na Premiação Outliers InfoMoney

IM: Se fosse para destacar uma estratégia que fez diferença para a Bradesco Asset ser reconhecida na premiação, qual seria?

BF: Com certeza os fundos de crédito, particularmente o Ultra, que foi muito reconhecido e demandado. Muitas vezes precisamos até fechar o fundo, tamanha a procura. O mercado cresceu e conseguimos crescer com ele e entregar bons resultados com consistência. daí vem o reconhecimento não só por fazer a gestão, mas pelo bom trabalho em um produto específico. Isso nos torna uma referência na área. Houve até uma mudança de percepção. Antes éramos muito reconhecidos em renda fixa e previdência, agora o crédito adiciona uma nova competência.

IM: Considerando o momento de incertezas fiscais e inflação pressionada, quais são as estratégias de alocação em previdência atualmente?

BF: A previdência tem mudado bastante. Nos últimos sete anos, a temos tido mais liberdade para estruturar novos produtos de previdência. A regulamentação evoluiu e hoje conseguimos estruturar produtos com o mesmo nível de sofisticação dos fundos condominiais, que em tese têm menos restrição. Isso é importante para permitir diversificação para o investidor que está olhando para o longo prazo. Além disso, há os benefícios tributários da previdência, que são relevantes no Brasil. Com mais liberdade de estruturação e benefícios fiscais, é uma classe que cresce de forma significativa.

IM: A Bradesco Asset estava próxima de atingir R$ 1 trilhão sob gestão. Já atingiu essa marca? Pode falar também sobre a trajetória e as verticais em que atuam, para quem ainda não conhece a gestora?

BF: Ainda não atingimos a marca. A Bradesco Asset foi criada em 2001 e completa 24 anos em 2025. É uma asset de escala, com produtos em todas as classes. Colocamos muito esforço em pesquisa, dados e infraestrutura tecnológica para apoiar nossos gestores. Mas o mais importante é entender as necessidades dos clientes, oferecer os produtos certos e entregar resultados com consistência.

IM: Você assumiu o posto de CEO em 2022. Como foi essa trajetória até o momento atual e quais os principais desafios desde então?

BF: O mercado muda muito em termos de ciclos econômicos. De 2020 a 2022, o mercado estava muito direcionado para fundos multimercados e de ações, por conta do período de juros baixos. Quando os juros subiram, houve uma migração para renda fixa e crédito. Também passamos por mudanças regulatórias importantes, como a da CVM, com modelos que dão mais transparência sobre as taxas, o que acaba trazendo mudanças estruturais no próprio modelo de negócio. Cada vez mais, é importante agregar valor ao cliente para além do produto, com serviços e informação. Isso é o que vai dar o tom daqui para frente.

IM: Qual é a principal dica para o investidor neste momento de turbulência?

BF: Turbulência sempre vai existir. É preciso entender seus objetivos e fazer uma boa diversificação. Estar próximo de quem entende e saber qual é o seu perfil. Não adianta querer ganhar o máximo possível com um produto de altíssima volatilidade que não vai ficar satisfeito. É preciso se conhecer, conhecer as alternativas e montar uma carteira que entregue seus objetivos com uma jornada de investimento satisfatória.

The post Brasil pode ganhar competitividade após tarifaço, prevê CEO da Bradesco Asset appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.