‘Resort do crime’: vídeo mostra ex-secretário executivo recebendo maço de dinheiro de diretor do Presídio de Igarassu; ambos foram presos


Eles são investigados pela Operação La Catedral, que descobriu esquema de corrupção e favorecimento de detentos. Vídeo mostra ex-secretário executivo recebendo maço de dinheiro de diretor do Presídio de Igarassu
Imagens obtidas pela TV Globo mostram o momento em que André de Araújo Albuquerque, ex-secretário executivo de administração penal de Pernambuco, aparece recebendo propina dentro do Presídio de Igarassu, no Grande Recife (veja vídeo acima).
No local, a Operação La Catedral, da Polícia Federal, descobriu um esquema de corrupção e favorecimento de detentos com direito a festas com churrasco, álcool, música ao vivo e entrada facilitada de garotas de programa.
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André de Araújo Albuquerque foi preso na operação no dia 8 de abril. Ele era assessor direto do atual secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Paulo Paes, e já havia sido superintendente de segurança prisional da secretaria.
A gravação foi feita no dia 6 de setembro de 2024. O vídeo, obtido com exclusividade, mostra o então secretário executivo numa sala com o então diretor do presídio, Charles Belarmino de Queiroz. Ele também foi preso pela operação e é apontado como um dos articuladores do esquema criminoso.
Charles abre uma tira um maço de dinheiro embaixo da mesa e, em certo momento, André coloca o dinheiro dentro de uma sacola. Ele permaneceu na sala por mais de 30 minutos.
O processo
Secretário (de pé) recebendo maço de dinheiro de diretor do Presídio de Igarassu
Reprodução
Em dezembro, André de Araújo Albuquerque foi exonerado do cargo na Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização. Em abril, ele foi preso numa nova fase da operação La Catedral. A decisão judicial que autorizou a prisão é uma medida cautelar concedida pelo desembargador Evandro Magalhães Melo, da 2º Câmara Criminal.
O magistrado afirma que a operação detalhou elementos concretos extraídos de quebras de sigilo telefônico, registros bancários e provas colhidas com autorização judicial.
Esse material, segundo ele, revela um complexo esquema criminoso operado no presídio, envolvendo tráfico de drogas, corrupção de servidores públicos, festas, facilitação da entrada de ilícitos e produção de drogas dentro da unidade prisional.
Nesse contexto, houve a apreensão do vídeo no celular do então diretor Charles Belarmino, mostrando o ex-secretário recebendo maços de dinheiro.
Segundo o texto, a investigação aponta que “tais valores decorrem de esquema de corrupção instalado dentro da unidade prisional, com práticas sistemáticas de cobrança de taxas para entrada de drogas, celulares, aluguel de celas e regalias a presos”.
O documento também afirma que as imagens captadas, segundo a autoridade policial, teriam sido registradas com uma câmera oculta supostamente instalada pelo próprio diretor Charles Belarmino, com intuito de produzir prova para eventual chantagem contra o então secretário executivo.
Para justificar a prisão preventiva, o desembargador escreve que “as imagens não apenas sugerem, mas indicam de maneira concreta o envolvimento direto do requerido com práticas criminosas estruturadas e sistemáticas no ambiente prisional, afetando diretamente a regularidade da administração pública penitenciária”.
Acrescenta, ainda, que a prisão preventiva, neste caso, “se revela proporcional, necessária e compatível com os princípios do estado democrático de direito”.
Por meio de nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização informou que André de Araújo Albuquerque foi afastado da função de secretário executivo em dezembro de 2024, antes da operação da Polícia Federal.
Disse, também, que a exoneração dele, do ex-diretor Charles Belarmino e de mais quatro policiais penais fez parte de ações estratégicas para identificar e coibir práticas ilícitas nas unidades prisionais. A secretaria também afirmou que não compactua com desvios de conduta por parte de servidores.
A TV Globo tentou, mas não conseguiu contato com as defesas dos dois gestores citados.
A operação
A Operação La Catedral foi deflagrada pela PF no fim de fevereiro.
As investigações começaram depois que a polícia identificou que um detento comandava diversos crimes de dentro da cadeia, com o apoio de servidores do sistema prisional.
Além das regalias para os presos, foram constatados outros crimes dentro do presídio, como o uso de drogas e também a produção de pasta base de cocaína dentro do Espaço Cultural da unidade.
Na primeira fase, foram presos o ex-diretor do presídio e quatro policiais penais. Na segunda fase, deflagrada em abril, o ex-secretário foi o alvo. Além de preso, ele também foi alvo de busca e apreensão.
Na casa dele, no Prado, na Zona Oeste do Recife, foram apreendidos arma funcional, aparelhos celulares e um veículo.
Entre os crimes investigados estão corrupção ativa e passiva, prevaricação, facilitação de entrada de objetos ilícitos na prisão, tráfico de drogas e organização criminosa.
De acordo com inquérito da Polícia Federal, o dinheiro da propina seria um pagamento que os presos, na figura dos chaveiros, repassavam para o diretor Charles Belarmino. As investigações também apontaram que o ex-secretário André de Araújo Albuquerque teria recebido parte do dinheiro.
As investigações da PF e da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) continuam, e o inquérito segue em segredo de Justiça.
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