Com Trump, Brasil vê janela para destravar acordo Mercosul-UE e prepara giro europeu

Em meio ao aumento do protecionismo nos Estados Unidos e à pressão geopolítica por novos acordos comerciais, o Brasil dá um novo passo para destravar o pacto entre Mercosul e União Europeia. De 23 a 30 de abril, a ApexBrasil e o Ministério das Relações Exteriores lideram uma missão diplomática à Europa para debater estratégias que ajudem a acelerar a validação do acordo comercial, assinado politicamente em dezembro de 2024, mas ainda pendente de aprovação formal.

A comitiva terá agendas em Lisboa, Varsóvia e Bruxelas. Os encontros envolverão os setores de Promoção Comercial e Investimentos, Ciência, Tecnologia e Inovação e Adidos Agrícolas. “Estamos falando da criação do maior bloco econômico do mundo, com mais de 700 milhões de pessoas. Este acordo sinaliza ao mundo o compromisso dos dois blocos com o multilateralismo”, afirmou o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, em nota.

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Recalibragem após tarifas

A movimentação brasileira ocorre em um momento de recalibragem do cenário internacional. A Comissão Europeia confirmou na semana passada que pretende submeter o acordo ao Parlamento Europeu e ao Conselho da UE antes do fim do verão europeu, ou seja, até meados de setembro. A verificação legal do texto já está em andamento e o executivo comunitário promete uma escuta ativa dos Estados-membros.

O clima de urgência se intensificou com a retomada de tarifas por parte do governo Trump, nos EUA. O presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, afirmou na última semana que conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a postura protecionista americana poder incentivar os europeus a fechar o acordo com o Mercosul, como forma de garantir acesso preferencial a um grande mercado do Sul global.

Em relatório divulgado nesta quarta-feira (16), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) recomendou maior integração comercial regional e reforço em acordos Sul-Sul como alternativas para mitigar os impactos das tarifas de Trump, que já colocam a economia global nos trilhos para desaceleração.

Europa dá sinais de abertura

Na Europa, os ventos começam a mudar. Embora França e Irlanda ainda se oponham ao texto, parte da elite política francesa tem revisto seu posicionamento, diante do risco de perder espaço nos EUA. Até mesmo críticos tradicionais, como a eurodeputada Marie-Pierre Vedrenne, vêm adotando um tom mais pragmático. “Permanecer contra esse acordo apenas por princípio não parece mais razoável”, declarou.

Se implementado, o pacto com Mercosul-UE, negociado por mais de 25 anos, reduzirá tarifas e facilitará investimentos entre os dois blocos, que juntos somam mais de US$ 22 trilhões em PIB. Para o Brasil, representa uma abertura comercial inédita e reforça seu papel na transição energética e na economia verde.

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