Bruno Henrique faltou a depoimento na PF e pediu para não ser ouvido

O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, seria ouvido pela Polícia Federal (PF) no inquérito que apurou se ele forçou um cartão amarelo na partida contra o Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023. No entanto, o jogador optou por não comparecer ao interrogatório. Não prestar depoimento nessa fase é um direito do investigado.

Bruno Henrique acabou indiciado por estelionato e fraude em competição esportiva, como divulgado com exclusividade pelo Metrópoles.

O depoimento estava marcado para às 15h do dia 1º de abril e era a última oitiva prevista pela PF antes da conclusão da investigação que levou ao indiciamento do atleta e de outros suspeitos.

O Metrópoles apurou que os investigadores pretendiam questionar o atacante sobre mensagens encontradas no celular do irmão dele, Wander Nunes Pinto Júnior, que colocam o jogador na mira da investigação por estelionato e fraude em competição esportiva — crimes imputados ao atacante do Flamengo.

Bruno Henrique, por meio dos advogados, informou à PF que não desejava ser interrogado sobre os fatos e que optava por apresentar esclarecimentos por escrito — o que também não ocorreu. A defesa do atacante também solicitou que não fosse marcada uma nova data para o depoimento e entregou uma planilha do Flamengo com o cronograma semanal de atividades do jogador.

Segundo o documento, obtido pela reportagem, Bruno Henrique teria compromissos pela manhã com o elenco no Ninho do Urubu, centro de treinamento do clube, e à tarde, a partir das 15h30, passaria por tratamento no departamento médico.

O elenco rubro-negro viajou para a Venezuela na quarta-feira (2/4) — dia seguinte ao depoimento marcado — para a estreia na Libertadores. Investigadores ouvidos sob reserva disseram compreender a ausência do jogador, mas destacaram que, ao pedir que o depoimento não fosse remarcado, Bruno Henrique perdeu a chance de se manifestar formalmente no inquérito.

A PF ouviu todos os outros investigados — incluindo o irmão do atacante, Wander Pinto —, que também foram indiciados. Todos optaram por permanecer em silêncio nos depoimentos.

Investigações

Apesar de já ter indiciado Bruno Henrique, a PF segue com as investigações sobre o esquema de apostas envolvendo o jogador e agora concentra esforços em novas frentes para aprofundar as apurações sobre o cartão amarelo recebido por ele na partida contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro de 2023.

Os investigadores identificaram que, além das casas de apostas que apontaram concentração superior a 95% das apostas na possibilidade de o atacante receber um cartão amarelo, ao menos outra plataforma — a Blaze — foi utilizada pelo núcleo ligado a Bruno Henrique para realizar apostas com esse objetivo.

A PF agora concentra as investigações em torno de quatro apostas feitas na Blaze por suspeitos que também foram indiciados no caso. De acordo com a apuração, todos os envolvidos mantêm relações diretas com o irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, apontado como o responsável por intermediar as apostas em nome do atleta rubro-negro.

No entanto, a PF afirma enfrentar dificuldades para obter informações completas da Blaze. Até o momento, a empresa forneceu apenas os dados cadastrais dos quatro apostadores sob investigação: Rafaela Cristina Elias Bassan, Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Douglas Ribeiro Pina Barcelos e Andryl Sales Nascimento dos Reis.

Outras plataformas, como Betano, GaleraBet e KTO, repassaram não apenas os dados cadastrais como também valores apostados e ganhos obtidos — porém suspensos sob alegação de violações. Já a Blaze alegou que não pode fornecer tais informações, amparando-se no Marco Civil da Internet e na Lei de Lavagem de Dinheiro para preservar os dados dos usuários.

A justificativa da empresa, porém, é contestada por investigadores ouvidos pelo Metrópoles, que argumentam que a recusa compromete o avanço das apurações e contraria o entendimento de colaboração com autoridades policiais previsto em lei.

A reportagem não conseguiu contato com nenhum dos citados nessa matéria. O espaço permanece aberto para manifestações.

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Troca de mensagens entre BH e o irmão pedindo ajuda para pagar a pensão e o cartão de crédito

Troca de mensagens entre BH e o irmão pedindo ajuda para pagar a pensão e o cartão de crédito
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Troca de mensagens entre BH e o irmão pedindo ajuda para pagar a pensão e o cartão de crédito

Iminente denúncia

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) prevê denunciar o atacante do Flamengo Bruno Henrique até o fim de abril.

Enquanto a PF concluía o inquérito sobre o cartão amarelo recebido pelo atleta no confronto contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro de 2023, promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) conduzem uma investigação sobre o mesmo caso — a expectativa é de que a apuração do MP seja finalizada em até duas semanas.

As investigações detalhadas pela PF já haviam sido compartilhadas com os promotores antes mesmo do indiciamento de Bruno Henrique. O caso é tocado no Distrito Federal porque o jogo ocorreu em Brasília (DF).

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O Metrópoles apurou que o Ministério Público não considera a possibilidade de oferecer um acordo ao atacante, uma vez que os crimes atribuídos a ele não se enquadram nos critérios para o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), restrito a delitos com pena mínima inferior a quatro anos.

Além da possível denúncia na esfera criminal, Bruno Henrique também é alvo de um pedido do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para que as provas reunidas pela PF sejam compartilhadas em um processo que poderá tramitar na Corte.

Apostas suspeitas

Casas de apostas indicaram à PF que mais de 95% das apostas no confronto entre Flamengo e Santos, pelo Campeonato Brasileiro de 2023, estavam concentradas na possibilidade de o atacante Bruno Henrique receber um cartão amarelo.

De acordo com as casas Betano, GaleraBet e KTO, a maior parte do volume apostado, antes mesmo do início da partida, estava direcionada à punição ao jogador.

A Betano informou à PF que 98% das apostas foram para o cartão de Bruno Henrique. Já a GaleraBet apontou concentração de 95% no mesmo quesito. A KTO confirmou o direcionamento significativo das apostas ao atleta, embora não tenha especificado os percentuais.

Apesar da movimentação, uma das apostas feitas pelo irmão do atacante, Wander Nunes Pinto Júnior, foi bloqueada para saque por uma das plataformas. O motivo, segundo a casa, foi a identificação de atividade suspeita diante do volume incomum de apostas na penalidade ao jogador rubro-negro.

Ele chegou a pedir dinheiro emprestado ao atacante após a demora para receber.

Em mensagens apreendidas no aparelho celular de Wander, os investigadores encontraram um diálogo entre os dois em 9 de dezembro de 2023 — mais de um mês após a partida entre Flamengo e Santos pelo Campeonato Brasileiro.

Nas mensagens, Wander pede R$ 4 mil emprestado ao atacante rubro-negro para pagar dívidas no cartão de crédito e pensão. Ele justificou que não tinha “nenhum centavo” e que, “pra você ter ideia, sabe a parada que você me deu ideia do Santos [a aposta], até hoje eles não pagou (sic)”.

“Coloquei [R$] 3 [mil] pra ganhar [R$] 12 [mil], e eles bloquearam por suspeita. Tô pensando aqui, se você puder fazer isso, você vai me salvar, de coração mesmo. Tem como descontar [R$] 10 [mil] da casa, e você me dá, aí pago tudo aqui, sobra um dinheiro pra ir na praia e aí eu comprar a casa eu recupero esse dinheiro e reponho ele. Igual te falei: eu não ia pedir pra você, mais eu já não tenho mais solução pra quem recorrer me ajuda nessa aí por favor (sic)”, pediu o irmão do atacante.

Para a PF, a mensagem indica que, na ligação às vésperas da partida entre os dois times, Bruno Henrique teria avisado que tomaria amarelo para que Wander pudesse ganhar na aposta.

Em resposta, BH respondeu: “Tendi nada oq vc falou aqui Juninho (sic)”. E Wander responde: “Fala aí, mano, o que você não entendeu?”. Bruno Henrique retruca: “Isso aqui”.

Na sequência, a mensagem que a PF considerou como uma das mais impactantes dentro do indiciamento mostra o irmão do atacante rubro-negro citando explicitamente o esquema de apostas.

“No dia que você me deu ideia do cartão, eu apostei 3 mil pra ganhar 12 mil. Só que até hoje eles não pagou, eles colocou a aposta sobre análise, e o dinheiro está todo preso lá 12K. Aí estava pensando me ajuda nessa aí com 10 mil só pra resolver minhas coisas até esse dinheiro sair, pagar o cartão, pagar pensão dos meninos que está atrasada, me estabilizar aqui. Eu não queria te pedir, só que eu não tenho outra solução, eu ia até fazer um empréstimo pra resolver isso mais eu não consegui, a única solução que tive a recorrer é você. Se você me ajudar nessa aí você vai me salvar não tenho nem mais onde recorrer, como não vou comprar a casa agora tira desse dinheiro da casa assim que resolver já reembolso esse valor que dá pra estabilizar. Me ajuda nessa aí por favor!”, escreveu Wander na mensagem do WhatsApp.

O diálogo apreendido pela PF mostra que a conversa entre os dois prosseguiu no dia seguinte, em 10 de dezembro, quando Bruno Henrique responde o irmão sobre o “empréstimo”, dizendo que “iria ver” o caso do Wander. As mensagens que a PF teve acesso mostram que, às 11h25 do mesmo dia, Bruno Henrique envia uma espécie de comprovante bancário ao irmão.

“Pegando dinheiro vc paga em”. Em resposta, Wander escreveu: “Demoro essa porra saindo eu te mando”.

Mensagens

A PF chegou a apreender o celular do jogador, mas não encontrou registros relevantes. Entre 3.989 conversas analisadas no WhatsApp, muitas estavam vazias ou apagadas — o que, para os investigadores, pode indicar que Bruno Henrique deletou parte dos diálogos.

No entanto, os agentes conseguiram acesso ao celular do irmão do atacante, no qual localizaram conversas que reforçam o envolvimento de Bruno Henrique no esquema de apostas relacionadas ao recebimento de cartão amarelo durante partida entre Flamengo e Santos pelo Brasileirão de 2023.

O Metrópoles revelou parte dessas mensagens. Em um dos trechos, Bruno Henrique teria passado ao irmão informações antecipadas sobre quando tomaria o cartão. Em determinado momento, Wander questiona o atacante: “Será que vai aguentar ficar até lá sem cartão?”.

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Conversas Bruno Henrique

Conversas Bruno Henrique
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Conversas Bruno Henrique – Metrópoles

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Conversas Bruno Henrique

Na conversa, Bruno Henrique comenta que só receberia o cartão se “entrasse forte em alguém”. Diante disso, Wander responde que iria “guardar dinheiro”, indicando que faria uma aposta sobre o cartão no jogo contra o Santos. Ele ainda completa: “Investimento com sucesso”.

Para a PF, a troca de mensagens sugere que o jogador atuava em conjunto com o irmão para antecipar resultados ligados a apostas esportivas.

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Jogador do Flamengo foi indiciado por estelionato e fraude em competições esportivas

Mais 10 pessoas foram indiciadas, além do atacante
Bruno Henrique foi indiciado pela Polícia Federal
O título da Supercopa de 2025 coroou o atacante como o jogador com mais títulos na história do Rubro-Negro
Com o gol diante do Vasco, Bruno Henrique chegou ao 3º no ano
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Atacante é suspeito de forçar um cartão amarelo

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Jogador do Flamengo foi indiciado por estelionato e fraude em competições esportivas

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Mais 10 pessoas foram indiciadas, além do atacante

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Bruno Henrique foi indiciado pela Polícia Federal

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O título da Supercopa de 2025 coroou o atacante como o jogador com mais títulos na história do Rubro-Negro

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Com o gol diante do Vasco, Bruno Henrique chegou ao 3º no ano

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Bruno é suspeito de ter levado cartão amarelo de propósito

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Bruno ajudou o Flamengo a conquistar a Libertadores

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Segundo a PF, pessoas da sua família teriam se beneficiado

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De acordo com o MPDFT, Bruno Henrique supostamente buscou, de forma deliberada, ser punido pelo árbitro com cartões durante partida entre o Flamengo e o Santos

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