DF: investigação da PF revela milícia com PMs e uso de dados sigilosos

A coluna teve acesso exclusivo à investigação sigilosa da Polícia Federal que desmontou um esquema de milícia privada operado por criminosos e policiais militares da ativa no Distrito Federal, suspeitos de atuar na cobrança violenta de dívidas, sob o pretexto de oferecer “serviços de segurança” a terceiros. As ações incluíam ameaças, coerção armada, uso de prerrogativas institucionais e extorsões disfarçadas de cobranças legais.

A operação, deflagrada em 14 de março deste ano e divulgada em primeira mão pela coluna, foi um desdobramento da Operação Fênix. A ação expôs como o grupo explorava informações privilegiadas, acesso a bancos de dados da segurança pública e uso da estrutura da PMDF para executar intimidações e garantir impunidade.

Como o esquema funcionava

De acordo com os documentos obtidos pela coluna, cinco pessoas são alvo das investigações:
– Caio César Pereira, apontado como líder do grupo;
– José Baduíno da Costa, seu tio, que intermediava ações;
– Brendon Pinheiro Tavares, também responsável por agenciar “cobranças”;
– e os policiais militares da ativa Gustavo Roma Agostini (segundo sargento) e Diego de Souza Pereira Maia (terceiro sargento), lotados na Polícia Militar do Distrito Federal.

Segundo investigações da PF, Caio César comandava o grupo, enquanto Brendon e José Baduíno buscavam clientes — geralmente agiotas ou empresários — interessados em “recuperar” valores por vias paralelas. Os PMs, por sua vez, executavam abordagens armadas, acessavam dados sigilosos de vítimas e realizavam vigilância física para constranger os alvos até o pagamento forçado das dívidas.

As mensagens extraídas do celular de Caio César confirmam que as vítimas eram pressionadas a assinar confissões de dívida e notas promissórias, em muitos casos sob intimidação direta ou implícita.

Casos concretos
– Em maio de 2024, o grupo viajou até outro estado para executar uma cobrança de alto valor. A vítima foi coagida a assinar uma nota promissória de R$ 1,5 milhão, após abordagem conduzida com presença de PMs.

– Em julho do mesmo ano, Brendon Tavares intermediou outra cobrança com base em um suposto serviço prestado a um terceiro. Novamente, houve uso de coação e estrutura policial para reforçar a intimidação.

Ambos os casos seguiram o mesmo padrão: abordagens ameaçadoras, uso de autoridade indevida e ausência total de respaldo legal.

O papel dos policiais

A coluna apurou que os PMs Gustavo Roma e Diego Maia teriam usado suas funções para consultar sistemas internos, levantar endereços, monitorar alvos e participar ativamente das cobranças. Em um dos casos, a dupla teria inclusive viajado a outro estado para intimidar pessoalmente um devedor.

No Portal da Transparência do DF, consta que Gustavo Roma recebe R$ 17,6 mil como segundo sargento da PMDF, enquanto Diego Maia tem salário bruto de R$ 15 mil como terceiro sargento.

A Justiça autorizou o compartilhamento das provas com a Polícia Civil, Receita Federal, Corregedoria da PMDF e Controladoria-Geral da União.

Os crimes investigados incluem extorsão com grave ameaça, formação de milícia privada, organização paramilitar, violação de sigilo funcional e abuso de autoridade.

O outro lado
Por meio de nota, a PMDF informou que não comenta assuntos “que estão em sede de investigação e ressalta que não coaduna com desvios de conduta, os quais serão rigorosamente apurados.”

A coluna entrou em contato com a corporação com a defesa dos envolvidos, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.

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