DF: milícia tinha empresa de segurança fake e cobrança para agiotas

A coluna teve acesso exclusivo à investigação da Polícia Federal (PF) que revelou o funcionamento de uma milícia privada estruturada no Distrito Federal, com a participação direta de policiais militares da ativa. O grupo é acusado de executar cobranças violentas de dívidas, especialmente em favor de agiotas e empresários, e utilizava como fachada uma empresa de segurança clandestina, sem autorização da PF para operar na área.

A operação, deflagrada em março deste ano, é desdobramento da Operação Fênix e teve como base dados extraídos do celular de um dos alvos. A investigação expôs o uso de ameaças armadas, coação psicológica e privilégios do cargo público para garantir que as cobranças fossem cumpridas, com vítimas sendo obrigadas a assinar notas promissórias e termos de confissão de dívida, frequentemente sob pressão.

Empresa de fachada escondia extorsões
Segundo os documentos obtidos pela coluna, o grupo simulava atuar no ramo da segurança privada, usando uma empresa sem autorização legal para prestar o serviço. Essa estrutura servia para disfarçar as atividades criminosas, enquanto o verdadeiro objetivo era prestar “serviços de cobrança” encomendados por terceiros, inclusive agiotas.

A fachada empresarial era usada para legitimar as abordagens feitas por integrantes da organização, que se apresentavam como seguranças ou representantes legais para justificar ações que, na prática, envolviam intimidações, abordagens armadas e perseguição a devedores.

Como operava o grupo
Cinco pessoas são formalmente investigadas:

  • Caio César Pereira, apontado como o líder da organização;
  • José Baduíno da Costa, responsável por intermediações;
  • Brendon Pinheiro Tavares, que atuava como agenciador de “cobranças”;
  • Gustavo Roma Agostini e Diego de Souza Pereira Maia, policiais militares da ativa da PMDF, que executavam as cobranças.

Segundo a PF, a atuação dos policiais era essencial para o sucesso do esquema. Eles usavam sistemas internos da segurança pública para obter endereços, dados pessoais e rotinas das vítimas, além de participarem ativamente das abordagens e vigilância. A investigação aponta que viagens interestaduais também foram realizadas para pressionar devedores.

Casos e modus operandi
A investigação descreve que o grupo oferecia seus serviços de cobrança a agiotas ou pessoas que queriam “resolver pendências” fora da justiça. Em troca de pagamento, os alvos da cobrança eram abordados de forma violenta, coagidos a aceitar dívidas formalizadas e ameaçados caso se recusassem a pagar.

As mensagens extraídas de celulares e os documentos apreendidos indicam que, em pelo menos duas ocasiões, o grupo viajou a outros estados para executar as cobranças, deixando rastro de ações típicas de milícia privada e organização criminosa paramilitar.

O que dizem os citados
A PMDF informou que não comenta casos sob investigação, mas destacou que não tolera desvios de conduta e que todas as denúncias são apuradas rigorosamente. A coluna também tentou contato com a defesa dos envolvidos, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto.

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