Opinião: ‘Sem Jobs, a Apple perdeu a mística e virou uma empresa comum’

Uma reportagem do New York Times, publicada nesta semana, apresentava um título sugestivo: “What’s wrong with Apple?” (“O que há de errado com a Apple?”). O texto mostrava que, antes mesmo do tarifaço de Donald Trump, que fez a empresa perder US$ 773 bilhões em valor de mercado, a companhia fundada por Steve Jobs já enfrentava sérias dificuldades.

Um parágrafo, em especial, chamava a atenção do leitor: “A Apple esperava reavivar sua sorte no ano passado com um headset de realidade virtual, o Vision Pro, e um sistema de inteligência artificial chamado Apple Intelligence. As vendas do headset, no entanto, foram decepcionantes, e os recursos exclusivos do sistema de Inteligência Artificial foram adiados porque não funcionaram tão bem quanto a empresa esperava”.

Os óculos Vision Pro foram vistos como uma forma de retomar o passado inovador da Apple. Mas o produto decepcionou, basicamente por duas razões. A primeira é justamente a falta do crivo de Jobs, um visionário que colocava a experiência do usuário acima de qualquer questão. E, neste quesito, o Vision Pro é simplesmente uma geringonça ruim de usar.

Além disso, muitos viram no aparelho de realidade virtual algo parecido com o carro criado nos anos 1940 por Preston Tucker, o Torpedo. Era um produto tão à frente de seus tempo que não despertou interesse do consumidor. Talvez o mundo ainda não esteja preparado para um mergulho na realidade virtual com os recursos tecnológicos atuais.

Este mundo, hoje, é parecido com o da internet nos tempos de acesso discado, com computadores de mesa e modems lerdíssimos, que tornavam a experiência de navegar pelos sites bastante monótona. Somente depois que a velocidade e a capacidade de banda foram melhoradas – inclusive em aparelhos celulares – é que o uso da rede explodiu. O mesmo pode ocorrer com a realidade virtual. Uma ferramenta que precisa de avanços tecnológicos para fazer mais sentido.

De qualquer modo, o fato é que a Apple perdeu a mística que havia nos tempos de seu fundador. Isso acontecia basicamente porque Steve Jobs criava produtos do nada, identificando necessidades que ninguém mais poderia prever. Foi assim quando o Ipod foi lançado em 2001. Não chegou a ser o primeiro aparelhinho do gênero, mas tinha bossas de navegação que saíram da cabeça de seu criador (o botão “shuffle”, para surpreender o usuário com seleções aleatórias de faixas musicais entrou na configuração final por insistência de Jobs).

Sem o Ipod não haveria Iphone. E, em 2007, o primeiro smartphone de verdade foi lançado pela Apple. Embora ainda rudimentar, o primeiro Iphone (tenho um deles até hoje) já vinha com ‘touch screen’ e apresentava alguns aplicativos – além de trazer funções como tocador de música e câmera fotográfica.

Jobs morreu de câncer em 2011. De lá para cá, Iphones e Ipads receberam apenas upgrades de equipamento – uma vez que o design do produto, desde o modelo 12, retomou o padrão utilizado no Iphone 4, o último projetado sob supervisão do fundador da Apple.

Em termos de upgrade, por sinal, os concorrentes estão fazendo um trabalho até melhor que o da empresa americana, que também deixou de inovar no visual de seus smartphones.

Qual será a saída para a companhia? Encontrar um novo líder. Alguém com a capacidade de arriscar e inovar com sintonia às necessidades do consumidor. Um CEO que consiga entregar aos clientes aquilo que eles precisam desesperadamente – mas ainda não sabem disso. Um executivo que saiba gerir. Mas, antes de mais nada, tenha o poder da criação disruptiva. Somente assim é que a empresa voltará a ser o que a Apple já foi um dia.

Leia mais notícias e análises clicando aqui

O post Opinião: ‘Sem Jobs, a Apple perdeu a mística e virou uma empresa comum’ apareceu primeiro em BM&C NEWS.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.