Diocese de Cachoeiro se despede de Papa Francisco com texto emocionante

Jorge Mario Bergoglio se foi. Aos 88 anos, na manhã desta segunda-feira, 21 de abril, o homem que mudou o rosto da Igreja Católica nos últimos 12 anos entregou sua alma ao Deus em quem sempre confiou com a simplicidade dos pobres. A notícia foi confirmada pelo Vaticano: Francisco morreu às 7h35 (horário local), após semanas de recuperação de uma dupla pneumonia.

O papa do fim do mundo — como se autodefiniu no dia de sua eleição — encerra agora sua missão com um legado que resiste a rótulos e fórmulas fáceis. Francisco não foi apenas um papa. Foi um chamado. Um gesto. Uma pausa num mundo ruidoso.

O fim de uma luta silenciosa

O agravamento da saúde de Francisco começou discretamente. Em fevereiro deste ano, ele passou a ter dificuldades para discursar em público, sinal de que algo não ia bem. No dia 14 daquele mês, foi internado com um diagnóstico inicial de bronquite, que logo evoluiu para uma pneumonia nos dois pulmões — um quadro grave, especialmente para alguém de sua idade.

Durante mais de um mês, o hospital Agostino Gemelli tornou-se a sua casa. Mesmo debilitado, insistia em participar, ainda que de longe, das celebrações religiosas. Francisco pediu desculpas aos fiéis por não estar na tradicional oração dominical da Praça São Pedro. Na segunda-feira, 17 de fevereiro, um novo boletim trouxe o diagnóstico de uma infecção polimicrobiana — resistente, complexa. A última semana foi silenciosa. Ele estava em casa, sob cuidados médicos, e parecia mais frágil a cada aparição.

Hoje, seu corpo já repousa no Vaticano. O funeral, ainda sem data definida, será certamente um dos maiores da história moderna da Igreja.

A biografia de um improvável

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936. Filho de imigrantes italianos, viveu uma juventude simples. Entrou para a Companhia de Jesus (os jesuítas) e, com o tempo, tornou-se uma figura influente dentro da Igreja argentina. Em 1998, foi nomeado arcebispo de Buenos Aires. Em 2001, tornou-se cardeal pelas mãos de João Paulo II.

Francisco nunca pareceu interessado em subir na hierarquia. Não gostava dos holofotes. Evitava as câmeras. Preferia o subúrbio ao centro, o silêncio à vaidade clerical. Justamente por isso, foi eleito papa em 2013 — o primeiro não europeu em mais de 1.200 anos, o primeiro do hemisfério sul, o primeiro jesuíta e o primeiro a adotar o nome de Francisco.

Inspirou-se em São Francisco de Assis, o santo da pobreza e da paz. Sua escolha dizia tudo: “Não esqueça dos pobres”, foi o que ouviu de um cardeal brasileiro logo após sua eleição. Ele não esqueceu.

Uma Igreja em movimento

Sob seu comando, a Igreja se fez menos torre de marfim e mais praça pública. Francisco lavou os pés de mulheres e muçulmanos em missas da Quinta-feira Santa. Visitou campos de refugiados. Falou sobre mudança climática com a mesma seriedade com que falava da oração. Publicou Laudato si’, uma encíclica ecológica revolucionária, que fez até líderes da ONU ouvirem com atenção a voz do velho padre de Roma.

Sua postura dividiu. Foi chamado de “comunista” por uns, “conservador” por outros. Mas Francisco nunca se interessou por agradar ideologias. Ele apenas voltava ao Evangelho. Chamava a Igreja de “hospital de campanha”. Pedia que ela fosse mais samaritana e menos farisaica.

Jamais mudou dogmas — manteve a visão tradicional sobre temas delicados como o aborto ou o casamento — mas provocou profundas conversas dentro da Igreja. Falou de acolhimento, não de exclusão. Quis que todos se sentissem parte da Casa do Pai, mesmo quando o mundo dizia que não havia lugar para elas.

O peso da cruz

O fardo de liderar uma instituição de dois mil anos nunca foi leve. Francisco o carregou com o corpo curvado e o olhar atento. Enfrentou resistências internas, críticas duras. Criou comissões, pediu perdão.

Mesmo assim, persistia. Com sua voz rouca, seus gestos lentos, sua fé sem espetáculo.

*A herança que não se mede*
Francisco nos deixou um ensinamento que talvez nenhuma bula papal possa expressar: a fé não está no altar dourado, mas no olhar que se abaixa para escutar. Foi um líder espiritual que escolheu o caminho da humanidade — e não da perfeição.

Hoje, milhares já se dirigem à Praça de São Pedro. Choram. Agradecem. Rezam. Mas talvez o maior tributo a ele seja o que ele mesmo pediu em 2013, ao ser eleito: “Rezem por mim”. Rezem, sim — mas, acima de tudo, cuidem uns dos outros. Foi o que ele tentou nos dizer todos os dias.

O papa que veio do fim do mundo foi, no fim, aquele que nos ensinou a olhar para os que vivem nos cantos esquecidos do mundo.

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