“Eu creio que o legado que ele nos deixa não pode morrer”, diz arcebispo de Porto Alegre sobre Papa Francisco

“Certamente fica uma saudade.” Foi desta maneira que o arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Cardeal Spengler, definiu a despedida do Papa Francisco, que morreu na madrugada desta segunda-feira (21). A notícia pegou a todos de surpresa depois que o líder da Igreja Católica participou das celebrações da Páscoa, no Vaticano, neste domingo (20). 

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Arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, lamentou a morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (21)



Arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, lamentou a morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (21)

Foto: Nicole Goulart/Especial

“Traz sim consternação de um lado. Mas por outro, também, o que nos anima é a fé. Se a certeza da morte entristece, a certeza da ressurreição nos dá um horizonte, nos oferece um horizonte. É com esta perspectiva que nós interpretamos este momento que estamos vivendo. Para nós, como homens de igreja, pessoas ligadas de forma toda particular ao Papa, certamente fica uma saudade. Uma saudade pelo jeito simples, pelo modo que nos acolhia, atento, desejoso de escutar e ao mesmo tempo, pronto para a palavra assertiva.”, declara. 

Também à frente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o arcebispo concedeu uma breve entrevista coletiva na Cúria Metropolitana, próxima a Arquidiocese de Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira. Com a voz calma e firme, Dom Jaime acredita que o trabalho realizado pelo Papa nos últimos 12 anos permanecerá na igreja e no contexto geopolítico internacional. 

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“Eu creio que o legado que ele nos deixa não pode morrer. Uma atenção toda especial àqueles que ninguém talvez dá a suficiente atenção. Essa atenção dele pelos mais fragilizados, pela questão da paz. Foi ele que trouxe para a linguagem internacional aquela ideia de que nós estamos vivendo uma Terceira Guerra Mundial aos pedaços”, destaca sem esquecer da atuação de Francisco na defesa das pautas ambientais, como a preservação da floresta amazônica. 

“Foi o primeiro Papa latino-americano da história da igreja. E certamente isso para nós latino-americanos nos honra e, ao mesmo tempo, nos deixa uma responsabilidade”, destaca.

Conclave sem data marcada

De acordo com o próprio arcebispo, nenhuma convocação para o conclave foi feita até o momento. Isso porque, após a morte do Papa Francisco, a igreja se volta para os ritos fúnebres e homenagens. “Talvez amanhã [terça-feira], se conseguir, vou viajar para Roma”, afirma. 

“Ao longo do pontificado, o Papa buscou realmente tornar o colégio representativo das mais diversas realidades eclesiais hoje. Nesse momento, vamos ver o que virá pela frente. Eu imagino que diante desta configuração, desta diversidade, que ao mesmo tempo é uma riqueza extraordinária, encontrar um nome de consenso com as amplas exigências do tempo presente vai exigir de todos aqueles que participam desta escolha muita oração, muita sensibilidade, perspicácia e discernimento”, observa. 

Dom Jaime Spengler foi nomeado como cardeal em dezembro e, em menos de seis meses no cargo, irá para o seu primeiro conclave. “Para mim tudo isso é muito estranho. Eu confesso que ainda não compreendi suficientemente tudo isso que me aconteceu a partir de outubro do ano passado. A verdade é que nesse momento o sentimento é de responsabilidade. Melhor, de corresponsabilidade”, frisa. 

Alguém atento aos desafios do tempo presente

Para o arcebispo, a escolha deve ser rodeada de muita atenção. “Está em questão não só encontrar alguém que assuma como bispo de Roma, mas encontrar alguém que realmente tenha como no coração o presente e o futuro da própria igreja”, afirma. 

“O que deve nos orientar não simplesmente questões humanas, políticas, de simpatia, antipatia, ou coisa parecida. Mas o que deve nos orientar é essa busca por uma personalidade que esteja a altura de responder aos desafios do tempo presente, tendo presente também os sinais dos tempos”, destaca. 

De acordo com o jornal Estadão, 14 cardeais estão cotados para assumir a liderança da Igreja Católica. “Conhecemos alguns de encontros esporádicos, das mídias, da reflexão teológica, do nível de participação nos diversos âmbitos da vida eclesial. Mais do que isso, eu espero ali durante o trabalho que nós teremos pela frente de conhecer melhor. Cooperar realmente, eu diria assim, não o melhor, mas de encontrar alguém que seja capaz de ler os sinais dos tempos e dar respostas à altura dos desafios do tempo presente”, reforça. 

Primeiro e último contato com o Papa Francisco

Dom Jaime Spengler relembra que se encontrou com o pontífice pela primeira vez na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013. Nas palavras do arcebispo foi “algo simples, fugaz, mas que ficou na memória”, após um almoço na casa do arcebispo do estado fluminense. 

“Eu me recordo de uma forma muito bonita, quando eu me aproximei e ele me perguntou qual era o meu nome. Eu era bispo auxiliar aqui há dois anos e disse em espanhol Jaime”, relata. Logo após, o Papa perguntou pelo sobrenome. “Eu disse Spengler e ele fez ‘ah’. Depois fiquei sabendo que naquela manhã tinha sido discutido o sucessor de Dom Dadeus Grings aqui em Porto Alegre. E naquela manhã ele havia escolhido a minha pessoa, só não me conhecia pessoalmente, nunca tinha me visto”, conta. 

Já o último contato foi uma semana antes da internação hospitalar do Papa Francisco, em fevereiro. O encontro de uma hora foi na Casa Santa Marta, onde o Papa Francisco morava, e não no Palácio Apostólico, onde costumam ser as audiências. O arcebispo comenta que foi orientado sobre o estado de saúde, mas que ainda se surpreendeu com a disposição do pontífice.

“Foi muito interessante porque mesmo com a dificuldade que nós víamos para se expressar e conversar, ele queria saber de tudo e de todos. O que nos chamou mais ainda a atenção foi que quando nós saímos da audiência, havia um grupo de mais de cem médicos que estavam esperando para serem atendidos. Além de um grupo de bispos e padres de igrejas orientais que estavam ali organizados para uma audiência. Isso emite uma força de vontade extraordinária tendo em vista aquilo que era o trabalho dele no cotidiano. Eu diria que era um homem com uma vontade de ferro.”

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