Insuficiência cardíaca e AVC: as causas da morte do papa Francisco


O uso de ventilação mecânica e a doença pulmonar não estão associados ao aumento do risco de sangramento cerebral, diz médico. Entenda o que é uma hemorragia cerebral, as causas e sintomas da condição. Insuficiência cardíaca e AVC foram as causas da morte do papa Francisco, nesta segunda-feira (21). O papa morreu aos 88 anos, às 2h35 pelo horário de Brasília, 7h35 pelo horário local.
A hemorragia cerebral ocorre quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe, causando sangramento dentro ou ao redor do cérebro e paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea.
Sangramentos no cérebro são geralmente caracterizados como acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como “derrame”, e a emergência médica que mais mata, incapacita e causa internações em todo o mundo.
O AVC tem duas formas principais de manifestação:
O AVC hemorrágico: ocorre quando há o rompimento de um vaso sanguíneo, provocando sangramento cerebral. É mais comum em idosos.
O AVC isquêmico: causado pela obstrução do fluxo sanguíneo para o cérebro.
Ambas as formas impedem o cérebro de receber oxigênio e nutrientes, o que pode causar danos irreversíveis.
No tipo hemorrágico, o quadro tende a ser mais grave, pois o sangue extravasado agride o tecido cerebral e pode elevar perigosamente a pressão dentro do crânio, o que exige intervenção imediata, explica o neurocirurgião Victor Hugo Espíndola, especialista em doenças cerebrovasculares.
Hemorragia cerebral é uma importante causa de mortalidade no mundo, principalmente nas primeiras horas após a sua ocorrência. A sua frequência tem se elevado, sobretudo em adultos devido ao controle inadequado dos fatores de riscos.
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Quadro tem relação com a internação?
O pontífice se recuperava de uma pneumonia nos dois pulmões e sofria complicações de um quadro respiratório, após ter ficado internado por 38 dias.
De acordo com Fernando de Mendonça Cardoso, coordenador do Diretório científico de Doenças Neurovasculares da Academia Brasileira de Neurologia (ABN-RJ), o uso de ventilação mecânica não está associado a aumento do risco de sangramento cerebral, assim como a doença pulmonar noticiada que gerou a interação de Francisco.
O neurologistana José Bauab acrescenta que, aos 88 anos, algumas causas eventualmente concorrem para aumentar o risco de uma hemorragia cerebral. Um deles, pela idade, é o fato de às vezes os vasos sanguíneos cerebrais já estarem muito finos, assim como as paredes das artérias. Também pode ocorrer o acúmulo de proteína amilóide nas artérias cerebrais.
“Também é possível que ele tenha tido alguma arritmia, que é muito comum nessas condições clínicas na pessoa idosa. E para o tratamento dessa arritmia, pode ter sido ministrado algum anticoagulante, que são medicamentos que afinam o sangue, os quais acarretam um risco maior hemorrágico em qualquer lugar do corpo”, afirma Bauab.
Hemorragia cerebral: entenda as causas
As principais causas de hemorragia cerebral são:
hipertensão arterial
e angiopatia amiloide: uma doença que acomete os idosos e é causada pelo depósito de uma proteína anormal nos vasos sanguíneos levando predisposição ao sangramento.
Outras causas incluem:
medicações que afinam o sangue como anticoagulantes
aneurisma: o problema é caracterizado pela dilatação anormal de um vaso sanguíneo, uma consequência do enfraquecimento das paredes da veia ou da artéria. Geralmente, provoca grandes sangramentos, mas é possível ocorrer uma pequena hemorragia, considerada um “alerta”. O tratamento costuma incluir intervenção cirúrgica.
mal formações arteriovenosas: um problema congênito (com o qual a pessoa já nasce) de anomalia do sistema vascular, criando artérias e veias de diferente tamanhos, malformadas e que podem romper. A depender do quadro, o tratamento pode ser por meio de colocação de molas por cateterismo, radiocirurgia ou cirurgia convencional.
drogas
traumatismos cranianos: em jovens, trauma teria que ser grande para causar sangramento, diferentemente da consequência em idosos, que pode ocorrer por uma simples batida em uma porta, por exemplo.
tumores: alguns tipos específicos, como o cavernoma cerebral, causam alterações que levam a sangramentos. O tratamento depende das características específicas de cada quadro.
Hemorragia cerebral
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Sintomas
Os principais sintomas das hemorragias cerebrais incluem:
dor de cabeça intensa e repentina
dificuldade para levantar os braços
perda da força
Náuseas
Vômitos
perda de equilíbrio
dormência ou formigamento em partes do corpo
alterações na visão
alterações na fala
sorriso torto
em casos graves, pode levar à perda de consciência e crises epilépticas
Caso você suspeite que uma pessoa esteja tendo um AVC, os médicos recomendam que se faça o teste SAMU:
Sorriso (peça para a pessoa sorrir. Veja se um lado do rosto não mexe)
Abraço (veja se a pessoa consegue elevar os dois braços como se fosse abraçar ou se um membro não se move)
Música (veja se a pessoa repete o pedacinho de uma música ou se enrola as palavras)
Urgente (chame o 192, serviço de urgência)
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de hemorragia cerebral é feito através de realização de exames de imagem, como:
tomografia computadorizada de crânio
ressonância magnética de crânio
Esses exames permitem identificar a hemorragia e estabelecer a sua localização, volume do sangramento e outras complicações.
A hemorragia cerebral pode causar morte por aumento da pressão intracraniana ou quando o sangramento ocorre em locais imprescindíveis para a vida como o tronco cerebral.
“Esses acontecimentos podem resultar em morte – tanto através de parada cardiocirculatória, já que o funcionamento cardíaco e pulmonar é comandado pelo cérebro – como através de morte encefálica com o comprometimento de áreas essenciais para manter o cérebro vivo”, explica Cardoso.
As consequências um AVC
As consequências do AVC dependem da rapidez do diagnóstico e o do tratamento, assim como da área afetada.
A condição pode paralisar um lado do corpo, prejudicar a fala ou afetar a visão. Esses efeitos serão temporários ou permanentes dependendo da recuperação, ou seja, quanto mais rápido a isquemia for eliminada, maior a chance de não ter sequela.
Atualmente, o AVC é uma das principais causas de morte, incapacitação e internações em todo o mundo. Por isso, é preciso ficar atento aos sintomas. Quanto mais rápido for o diagnóstico e o tratamento do AVC, maiores serão as chances de recuperação completa.
Como é feito o tratamento para um AVC isquêmico:
O tratamento é feito com remédios que dissolvem o coágulo ou diminuem a obstrução. Porém, os medicamentos devem ser ingeridos, principalmente, nas primeiras três horas após o aparecimento do problema.
Por isso, quando há suspeitas de que uma pessoa está sofrendo um AVC, a recomendação é levá-la imediatamente para o hospital. Quanto mais rápido for o socorro, maiores são as chances de recuperação.
Como é feito o tratamento para um AVC hemorrágico:
O tratamento para um AVC hemorrágico é complexo e depende da gravidade do caso. Ele deve ser iniciado o mais rápido possível para minimizar danos ao cérebro e melhorar as chances de recuperação. O tratamento inclui principalmente:
Controle da pressão arterial: Medicamentos anti-hipertensivos são usados para manter a pressão arterial sob controle e evitar a piora do sangramento
Medicação: analgésicos, sedativos e anticonvulsivantes podem ser administrados para controlar a dor, sedar o paciente e prevenir convulsões
Cirurgia: em casos graves, pode ser necessária uma cirurgia para remover o hematoma causado pelo sangramento e reparar os vasos sanguíneos
Terapia hemostática: utilização de vitamina K, plasma fresco congelado e transfusão de plaquetas para corrigir anormalidades na coagulação do sangue
Cuidados intensivos: monitoramento constante dos sinais vitais e suporte respiratório podem ser necessários, especialmente em unidades de terapia intensiva
Prevenção
O médico Espíndola destaca que a prevenção é o melhor caminho, e inclui:
manter uma rotina de exercícios
evitar álcool
evitar cigarro
cuidar da pressão arterial
controlar o estresse
Segundo dados da World Stroke Organization (Organização Mundial de AVC), um em cada seis indivíduos no mundo terá um AVC ao longo da vida. No Brasil, a cada cinco minutos uma morre após ter um AVC, de acordo com o Ministério da saúde.
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