Comunidade Kaingang de Canela realiza eventos festivos para celebrar as origens e conquistas dos povos indígenas

O mês de abril é dedicado às celebrações aos povos indígenas. Em todo o Brasil, o sábado, dia 19, foi para enaltecer as diversidades culturais, história e a luta por direitos das comunidades originárias. Apesar de todos os desafios diários, há motivos para comemorar.

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Escola indígena de Canela conta com cerca de 20 alunos



Escola indígena de Canela conta com cerca de 20 alunos

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

O avanço de políticas públicas de reconhecimento, educação e saúde são conquistas na aldeia Kógünh Mág. Da etnia Kaingang, atualmente, 65 indígenas residem na Floresta Nacional (Flona) de Canela. O receio de perder as terras ancestrais deu espaço para a prática de projetos.

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O cacique Maurício Salvador conta que uma das grandes vitórias da aldeia ocorreu em setembro de 2024, quando foi firmado um acordo de convivência que assegura a permanência da comunidade na Flona. Foram dois anos de tratativas até a consolidação do documento, pelo Sistema de Conciliação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A deliberação também estabelece diretrizes em uma parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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“O intuito é que a gente faça a dupla proteção do meio ambiente, em uma gestão compartilhada, com a convivência cultural garantida, a questão do usufruto do território e dos recursos naturais. O objetivo maior é a preservação e conservação do meio ambiente. São dois órgãos que querem o mesmo, mas que têm um formato diferente de gestão”, explica.

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Maurício comenta que o documento também servirá de exemplo para outras retomadas, criando uma ferramenta que pode ser utilizada para amenizar o conflito.

Saúde, educação e turismo

Floresta Nacional (Flona) de Canela



Floresta Nacional (Flona) de Canela

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Com a garantia do território, o cacique reforça que a comunidade começou a buscar caminhos para fortalecer a relação com as terras. “Fizemos a construção da nossa casa de cura, de reza e da nossa escola. Agora, queremos ir para a área da saúde, com o nosso posto medicinal”, conta.

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Outra área que interessa é a do turismo. Um dos projetos da aldeia é a construção de um museu, para contar a história do povo e a ligação com a região. Artefatos encontrados pelos indígenas no local serão cedidos ao espaço.

A partir disso, o intuito é trabalhar com o etnoturismo que, além de preservar e divulgar a cultura indígena a partir da experiência dos turistas, também servirá como fonte de renda para as famílias da comunidade.

Festival cultural e jogos indígenas serão realizados nesta semana

Maurício Salvador é cacique da aldeia Kaingang de Canela



Maurício Salvador é cacique da aldeia Kaingang de Canela

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Entre os eventos de celebração, a aldeia Kaingang de Canela prepara uma programação especial para este mês. O Festival Cultural Kaingang será realizado nos dias 22 e 23, na Flona, com apresentações culturais, venda de artesanato, trilhas ecológicas guiadas e outras atrações.

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O cacique Maurício reforça que a entrada será gratuita para os indígenas, mas haverá cobrança de ingressos para o público em geral. Os tíquetes estão sendo vendidos por R$ 40 – com opção de meia-entrada -, através do site sympla.com.br.

Já de 24 a 26 de abril, a expectativa é pelos jogos indígenas, com competições tradicionais, como arco e fecha e corrida com tora. Para esses dias, o acesso será gratuito para todos e haverá também oficinas de língua Kaingang. Mais de dez aldeias já confirmaram presença das equipes, grupos de danças e também dos candidatos que vão concorrer aos títulos de indígena mais bela e indígena guerreiro. São esperadas mais de 500 pessoas ao longo dos cinco dias de programação, sempre das 9 às 20 horas.

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“Através dessas atividades, queremos explicar um pouco da nossa relação com o nosso território, as comidas típicas, medicina tradicional. Teremos várias atividades acontecendo simultaneamente. É uma oportunidade de divulgar o que temos feito na nossa comunidade e também que as pessoas conheçam o nosso território”, declara o cacique, afirmando o apoio de editais de fomento para a realização dos eventos.

As ações da comunidade são divulgadas pelo perfil do Instagram @kaingangcanela.

Ampliação das atividades na escola indígena

Escola indígena de Canela conta com cerca de 20 alunos



Escola indígena de Canela conta com cerca de 20 alunos

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL

Assim como as escolas de ensino regular, a escola estadual indígena Kaingang Jagtyd Fykóg também se dedicou a utilizar a celebração da Páscoa como forma de aprendizado. As cerca de 20 crianças que estudam na instituição participaram de atividades alusivas à data. Uma delas foi a colheita e beneficiamento da taquara até se transformar em um cesto.

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Quem comandou a ação foi a professora Jucemari da Silva Corrêa, de 41 anos, que foi a responsável pelo processo de criação da escola, ainda em 2023. Unindo diversas disciplinas, o primeiro passo foi encontrar a matéria-prima.

Depois, transformar a taquara em tiras finas e trançar. Matemática, geografia, história e artes foram algumas das matérias trabalhadas ao longo dos dias. “A gente faz questão de ensinar para eles a vivência dos nossos antepassados”, frisa Juce, como é conhecida.

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Mestranda em Educação, ela é servidora do Estado e teve o início da formação escolar em instituições indígenas. Após o ato de criação da escola de ensino fundamental em Canela, em dezembro do ano passado, a meta agora é implementar o ensino médio e também a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Indígenas farão tradução inédita da Constituição

Professor de Canela participou da assinatura do termo



Professor de Canela participou da assinatura do termo

Foto: Mônica Pereira/GES-ESPECIAL/Divulgação

A aldeia de Canela também se prepara para trabalhar em um projeto inédito, que é o de traduzir a Constituição Federal. Reconhecendo o papel fundamental das línguas originárias na construção de uma justiça mais plural, inclusiva e democrática, o texto constitucional brasileiro será traduzido para as línguas Kaiowá, Kaingang e Tikuna.

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O termo de execução cultural (TEC) foi assinado, junto à Advocacia-Geral da União (AGU), em 25 de março. O desafio é encarado com muito orgulho pela aldeia, que deve levar cerca de 18 meses para concluir o trabalho, que vai mobilizar a comunidade local.

“É um orgulho para nós e também um privilégio muito grande. Esse reconhecimento vai dar visibilidade para a nossa e outras comunidades indígenas. A nossa mobilização é sempre pelo fortalecimento da nossa cultura”, alega o cacique.

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Quem representou os kaingangs na oportunidade foi Leonel Caetano Chaves, de 43 anos. Professor de Matemática, ele mora em Canela há dois anos e atua na escola indígena. “É uma vitória para a nossa cultura. Ficamos cheios de orgulho, mas sabemos que é uma responsabilidade. A constituição já tem a garantia dos nossos direitos, mas escrever e ler na nossa língua vai ser mais gratificante ainda”, atesta.

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