Fed independente em risco? Por que a investida de Trump contra Powell abala mercados

Mais uma fonte de pressão. Nos últimos dias, a pressão exercida pelo presidente dos EUA Donald Trump sobre Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, reacendeu o debate sobre a independência das instituições monetárias nos Estados Unidos. As críticas públicas de Trump a Powell, que incluem falas abertas em defesa de sua demissão, levantam questões cruciais sobre a capacidade do Fed de conduzir a política monetária sem interferências políticas.

Trump intensificou suas críticas a Powell na segunda, dizendo que a economia dos EUA está caminhando para uma desaceleração “a menos que o Sr. Tarde Demais, um grande perdedor, reduza as taxas de juros AGORA”, em uma postagem belicosa no Truth Social, que levantou preocupações sobre a autonomia do Fed.

A recente declaração de Trump nas redes sociais, afirmando que “a demissão de Powell não pode chegar rápido o suficiente!”, junto com comentários de outros membros de seu governo, intensificou as especulações sobre uma possível tentativa de remover o presidente do Fed.

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Durante o primeiro mandato de Trump, o presidente frequentemente expressou sua insatisfação com as decisões de Powell, especialmente em relação ao aumento das taxas de juros. Apesar de suas reclamações, a independência do Federal Reserve permaneceu relativamente intacta. No entanto, com a pressão crescente e a retórica mais agressiva durante seu segundo mandato, especialistas temem que a autonomia do Fed esteja em risco.

“A independência do Federal Reserve é fundamental para a estabilidade econômica, permitindo que a instituição tome decisões baseadas em dados econômicos e não em pressões políticas de curto prazo”, aponta Michael Feroli, economista do JPMorgan, em relatório sobre o tema. O alerta é de que qualquer erosão dessa independência possa ter consequências graves, incluindo um aumento da inflação e taxas de juros mais elevadas, que poderiam prejudicar a recuperação econômica em um momento já delicado.

O histórico jurídico sugere que a remoção de um “chair” do Fed só pode ocorrer “por justa causa”, uma definição que tradicionalmente exclui desacordos de política.

No entanto, a administração atual está testando os limites dessa proteção, conforme demonstrado por demissões recentes em agências independentes. A Suprema Corte dos EUA deve decidir em breve sobre a legalidade dessas ações, o que pode abrir precedentes perigosos para a independência do Fed.

Se a Suprema Corte decidir a favor do governo Trump, isso pode permitir que o governo substitua governadores/dirigentes atuais do Fed por leais à administração, alterando significativamente a dinâmica da política monetária. Para o economista, a possibilidade de um Fed politizado levanta preocupações sobre a eficácia das decisões econômicas, que historicamente têm sido tomadas com base em análises objetivas e não em considerações políticas.

Além disso, a pressão política sobre o Fed pode levar a um aumento nas expectativas de inflação. Com a administração buscando influenciar diretamente as decisões do banco central, investidores e mercados podem começar a exigir maiores compensações por riscos inflacionários, resultando em taxas de juros mais altas e um ambiente econômico mais instável.

Conforme aponta o economista, a história recente sugere que a interferência política na política monetária pode ter consequências ruins.

A avaliação é de que normalmente é benéfico que os mandatos do Fed não coincidam com os de governos, retirando assim a política monetária do ciclo político. O curto horizonte de tempo do calendário eleitoral poderia, de outra forma, tentar os formuladores de políticas monetárias orientados politicamente a tentar estimular a economia, mesmo quando isso é inadequado de uma perspectiva de longo prazo, aponta.

“Evidências internacionais indicam que bancos centrais que têm mais independência política tendem a promover uma inflação mais baixa e estável”, aponta.

O histórico sugere ainda que a interferência política contribuiu para uma política monetária ruim no final da década de 60 e início da década de 70, com consequências desfavoráveis para o desenvolvimento da inflação.

“Qualquer redução na independência do Fed adicionaria riscos de alta a uma perspectiva de inflação que já está sujeita a pressões ascendentes de tarifas e expectativas de inflação um tanto elevadas. Além disso, os participantes do mercado provavelmente exigiriam maior compensação por inflação e riscos de inflação, aumentando assim as taxas de juros de longo prazo, pesando sobre as perspectivas de atividade econômica e piorando a posição fiscal. Esperava-se que essas consequências adversas dessem ao presidente motivos para não ameaçar a independência do Fed, embora até agora o presidente muitas vezes tenha seguido em frente com suas intenções”, conclui a análise.

Cabe destacar que, na segunda, as ações americanas sofreram perdas acentuadas com Trump aumentando seus ataques ao chair do Fed, levando os investidores a se preocuparem com a independência do banco central, mesmo enquanto enfrentam os efeitos da guerra comercial errática e contínua de Trump. Todos os três principais índices caíram, com grandes perdas no grupo Sete Magníficas de ações de crescimento megacap pesando mais no Nasdaq, carregado de tecnologia.

“Os países que têm um banco central independente crescem mais rapidamente, têm inflação mais baixa; eles têm melhores resultados econômicos para seu povo”, reforçou Jed Ellerbroek, gerente de portfólio da Argent Capital Management em St. Louis. “E políticos que tentam influenciar o Fed são uma ideia muito ruim e muito assustadora para o mercado.”

(com Reuters)

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