Sucessor de Francisco “herdará” banco do Vaticano, reformado após escândalos; conheça

Com a morte do Papa Francisco e a expectativa pela eleição de um novo pontífice, uma instituição discreta, mas poderosa, volta ao centro das atenções: o Instituto para as Obras de Religião (IOR), popularmente conhecido como o banco do Vaticano.

Criado para administrar os recursos da Igreja, o banco esteve envolvido em décadas de escândalos, o que levou Francisco a uma ampla tentativa de reestruturação durante seu pontificado.

Conheça o que se sabe sobre a instituição, seu passado permeado por crises, e o papel de Francisco na tentativa de resgatá-lo.

  • Instituição bilionária envolta em segredos
  • Francisco e o plano para limpar as finanças da Igreja
  • Centralização e novo modelo de governança
  • Escândalos persistem apesar das reformas

Instituição bilionária envolta em segredos

Fundado em 1942, o IOR foi criado para gerenciar os fundos de clérigos, dioceses e organizações religiosas ao redor do mundo. Apesar da missão, por décadas a instituição operou com pouca transparência e sob fortes suspeitas de corrupção. Segundo a Fortune, o banco tinha cerca de US$ 6,1 bilhões em ativos em 2023.

Ao longo de sua história, o banco acumulou envolvimentos com figuras ligadas à máfia e escândalos internacionais. Um dos mais notórios foi o colapso do Banco Ambrosiano, nos anos 1980, no qual o Vaticano tinha participação. O então presidente do banco, Roberto Calvi — conhecido como “o banqueiro de Deus” — foi encontrado morto sob uma ponte em Londres, com tijolos nos bolsos.

Outro caso envolveu Michele Sindona, consultor financeiro do Vaticano e ligado ao crime organizado, que esteve por trás da falência do Franklin National Bank nos Estados Unidos, em 1974. Ele foi condenado por fraude e morreu envenenado na prisão.

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Francisco e o plano para limpar as finanças da Igreja

Quando assumiu o papado, em 2013, Jorge Mario Bergoglio se deparou com um panorama que ele próprio classificaria como incompatível com os valores da Igreja. Uma de suas primeiras ações foi criar uma comissão para reformar o IOR e rever a estrutura financeira da Santa Sé.

Ainda naquele ano, o banco passou a publicar relatórios anuais, revelando pela primeira vez dados como lucros, custos operacionais e doações. Em 2014, milhares de contas foram encerradas para cumprir padrões internacionais de combate à lavagem de dinheiro.

Francisco também promoveu uma mudança de gestão: nomeou o francês Jean-Baptiste de Franssu, ex-CEO da Invesco Europe, como presidente do banco. Ele ocupa o cargo desde então.

Centralização e novo modelo de governança

Outra medida relevante foi a determinação para que todas as entidades da Santa Sé fechassem contas externas e transferissem seus investimentos para o IOR. O objetivo era concentrar os recursos sob gestão central e permitir maior supervisão.

“Por muito tempo, o IOR esteve protegido das regras de lavagem de dinheiro e transparência aplicadas a outras instituições financeiras, e a Igreja deve dar o exemplo”, afirmou à Bloomberg Francesco Di Ciommo, professor de direito financeiro na Universidade Luiss Guido Carli, em Roma.

Com isso, o Vaticano também anunciou a criação de um novo gestor único para os ativos da Santa Sé, com foco em assegurar que os fundos fossem usados de forma ética e compatível com os valores católicos.

Escândalos persistem apesar das reformas

Apesar dos avanços, os problemas não cessaram completamente. Em 2022, dois ex-diretores do IOR foram condenados por má conduta. No ano seguinte, um cardeal recebeu pena de cinco anos e meio por desviar US$ 200 milhões para um fundo privado, operação que levou a uma venda forçada de um imóvel de luxo em Londres, com prejuízo de mais de US$ 100 milhões.

Para o professor Federico Niglia, da Università per Stranieri, em Perugia, “muito foi feito, mas sempre há espaço para melhorias”, conforme declarou à Bloomberg.

Com a morte de Francisco e a iminente eleição de um novo papa, o futuro das reformas dependerá do sucessor.

(com Bloomberg e Fortune)

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