Ainda falta um ano para as eleições. Ou só falta um ano para as eleições

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Foto: TSE

O mês de abril de 2025 marca exatamente um ano para que sejam iniciadas as movimentações de vulto para as eleições gerais brasileiras de 2026, cabendo analisar o
quadro tanto da situação como das oposições, com foco tanto nas disputas pela Presidência da República e pelo Congresso Nacional como nas 27 unidades federativas que compõem a nação.

Tal marco temporal está ligado ao fato de que abril de 2026 será o prazo final para que os eventuais candidatos estejam devidamente filiados ao partido político no qual irão disputar as eleições de outubro e para que as necessárias desincompatibilizações de alguns cargos sejam concluídas, como por exemplo no caso de governadores que buscam a corrida presidencial.

Nessa disputa para o cargo mais alto da República, o governo busca a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegaria a um inédito quarto mandato. Apesar da vantagem em disputar na condição de incumbente, Lula enfrenta duas situações adversas: os questionamentos sobre sua saúde ante os 80 anos que deve completar no próximo ano e a queda de popularidade do governo correlacionada com a inflação, especialmente do preço dos alimentos.

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Em ambos os casos, o governo federal tem buscado utilizar melhor a comunicação institucional, capitaneada pelo publicitário Sidônio Palmeira, com vistas a mostrar Lula mais ativo em compromissos oficiais e, ao mesmo tempo, exibir os esforços da gestão para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. Por ora, os resultados ainda são tímidos, mas já é possível observar que a impopularidade estancou, apesar de ainda não ter sido revertida.

Para construir a candidatura à reeleição, contudo, Lula ainda precisa alinhavar melhor as alianças partidárias, sobretudo para além do campo da esquerda. Nesse sentido, é necessário que dê continuidade a uma reforma de seu ministério, abrindo mais espaço para as siglas aliadas. A despeito da premência desses acordos, tal reforma ministerial ainda segue inconclusa e não parece mais estar entre as prioridades do governo neste momento.

Com a reticência do governo em ceder mais espaço a tais siglas, as oposições avançam sobre esses partidos do Centrão, sendo que a votação de urgência na Câmara dos Deputados para o projeto de lei de anistia para os participantes dos atos de 8 de janeiro acendeu um sinal de alerta para o governo Lula: partidos com titulares nas pastas do governo federal – União Brasil, PSD, Progressistas, MDB e Republicanos – deram mais da metade das assinaturas para a aprovação do decreto.

A postura de tais siglas demonstra que há uma boa probabilidade de que elas se voltem a um projeto oposicionista no pleito do próximo ano e, se ainda não desembarcaram do governo para este outro lado, provavelmente isso se deva ao campo da direita permanecer em compasso de espera diante da situação e do comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, submetido recentemente a um novo procedimento cirúrgico no abdômen, aguarda os desdobramentos do processo judicial no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem grandes chances de condená-lo, inclusive a uma pena em regime fechado. Ademais, permanece inelegível junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030, o que inviabilizaria sua participação nas eleições do próximo ano.

Apesar disso, o ex-presidente insiste em se colocar como candidato, denotando uma estratégia semelhante à do atual presidente Lula, nas eleições de 2018, quando, apesar de preso, lançou-se na disputa, sendo substituído por seu vice (e atual ministro) Fernando Haddad. No caso de Bolsonaro, entretanto, a substituição parece ficar em família, com maiores chances para o filho Eduardo Bolsonaro, que hoje se radicou nos Estados Unidos e estabelece pontes com o governo daquele país, sob a liderança de Donald Trump.

Neste ponto, cumpre esclarecer que a estratégia de Bolsonaro não tem sido bem aceita entre seus próprios aliados, uma vez que acaba por “amarrar” as lideranças do campo da direita, prejudicando tanto o aspecto jurídico (sobre filiações e desincompatibilizações) como o político (no estabelecimento de alianças e na montagem dos palanques nacional e estaduais). Ao esperar a definição de Bolsonaro, alguns nomes como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Romeu Zema permanecem na indefinição entre as candidaturas a presidente, vice-presidente, governador (em caso de reeleição) e senador.

Aqueles aliados que advogam pela retirada da candidatura de Bolsonaro apontam para dois benefícios que o próprio ex-presidente e seu entorno poderiam colher. Primeiramente, a eleição de um presidente na direita abriria a possibilidade para que esse indultasse os condenados pelo STF, incluindo Bolsonaro. Em segundo lugar, permitiria uma organização melhor da direita para compor o Senado Federal com seus quadros, buscando inclusive antepor a supremacia da Corte Suprema, ameaçando com eventual impedimento de seus ministros.

As eleições para o Senado, aliás, serão um grande campo de batalha no próximo ano, dado que dois terços de sua composição devem ser renovados, opondo o bolsonarismo a uma possível aliança que iria da esquerda à centro-direita, visando isolar aqueles e evitar uma crise institucional com o Judiciário. Diante dessas estratégias de ambos os lados e somado aos problemas do governo e ao resultado das últimas eleições municipais, fica cada vez mais clara a tendência de o país virar à direita.

Em uma configuração política como essa, Lula precisaria fazer concessões claras para buscar uma nova recondução, como já fica claro diante de mudanças de seu discurso (como no caso da crítica aos beneficiários do Bolsa-Família) e de suas políticas (como no caso do lançamento de uma faixa do Minha Casa, Minha Vida que atenda a classe-média). Ainda assim, teria claras dificuldades de governabilidade e precisaria sinalizar uma migração ao centro que não realizou neste mandato.

Já um eventual nome da direita – cujo favoritismo atual recai sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas – tenderia a ter uma maior facilidade para governar, ainda que tivesse de ceder às pressões dos aliados do Centrão, o que é uma situação inescapável a qualquer um que venha a chefiar o Executivo, principalmente no momento atual de hipertrofia de um Poder Legislativo com ampliados poderes de agenda e orçamentais.

Por fim, mas não menos importante, não podemos descartar que a ascensão significativa de um candidato da direita poderia compelir Lula a desistir de uma nova disputa, a fim de evitar o encerramento de sua carreira política com uma derrota, o que poderia abrir prematuramente a possibilidade de uma renovação da esquerda ou mesmo da emergência de uma candidatura de centro.

Ainda falta um ano para começarmos a observar esses nós serem desatados. Ou podemos dizer que falta só um ano…

*Leandro Consentino é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), atua na como docente desde 2010 e, atualmente, é professor de graduação em Economia e Administração e do Programa Avançado em Gestão Pública do Insper


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