Cupertino cita remédio para justificar morte de ator de Chiquititas

São Paulo — Paulo Cupertino Matias, julgado pelo assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais do jovem em 2019, conseguiu adiar o júri popular, marcado em 10 de novembro do ano passado, demitindo o advogado de defesa durante o primeiro dia. A atitude do réu fez com que o julgamento fosse cancelado até que ele constituísse uma nova defesa.

Pelo fato de não contratar advogado particular, o defensor público Renato Campos Pinto de Vitto, da 6ª Defensoria Pública, assumiu o caso, garantindo o direito de defesa de Cupertino. Para isso, ele solicitou à Justiça o esclarecimento sobre exames toxicológicos do ator e dos pais, além da feitura de croquis da cena do crime.

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) acolheu parcialmente os pedidos e foi seguido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que além disso manteve a prisão cautelar do réu, conforme decisão do último dia 7.

A defesa de Cupertino aposta em uma nova linha: os exames toxicológicos que constataram a presença de citalopram, um medicamento para o tratamento de depressão usado por Rafael Miguel, ex-ator de Chiquititas. As dúvidas foram repassadas ao Instituto de Criminalística (IC).

Entre as perguntas, a Defensoria Pública indaga se o medicamento é prescrito para “distúrbios ou transtornos psiquiátricos”, acrescentando se “o uso da substância pode interferir no humor e agressividade do paciente?” e, em caso afirmativo, “em que hipóteses?”.

Ao primeiro questionamento, a perita criminal Clarissa Arruda explicou que o citalopram é um antidepressivo indicado no tratamento de depressão e para prevenir a recorrência de novos episódios depressivos.

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Ele foi acusado há três anos de triplo homicídio qualificado
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Paulo Cupertino

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Paulo Cupertino em sítio em Mato Grosso do Sul

Polícia Civil de São Paulo/Reprodução

Já sobre eventuais comportamentos agressivos, a profissional do IC esclareceu que o questionamento deveria ser respondido por um médico legista, “por se tratar de avaliação de efeito de substância”.

A Justiça também acatou o pedido da defesa de Cupertino, para que o IC elabore croquis da casa do réu, determinando a distância entre o portão de acesso à rua com cada um dos cômodos da residência (quartos, sala, cozinha e banheiro). Aos peritos também foi determinado o cálculo da distância entre portão da casa de Cupertino com o carro das vítimas, assim como em relação aos corpos delas.

Até a publicação desta reportagem, os laudos não haviam sido anexados ao processo.

Pedidos negados

O defensor público ainda solicitou a inserção de novos depoimentos, assim como a decretação de segredo ao processo. Os pedidos foram negados tanto pelo MPSP como pelo TJSP.

Sobre o sigilo do caso, a Justiça argumentou que ele foi decretado somente durante a elaboração do inquérito policial, justamente para que a investigação não fosse frustrada com eventuais divulgações e, também, para evitar o acesso de pessoas ligadas ao réu, que na ocasião estava foragido.

“Vírus da mídia”

Em uma carta escrita da cadeia ao TJSP (veja galeria acima), cujo teor foi relevado pelo Metrópoles, Cupertino argumentou que os sete jurados que iriam definir sua sentença, ou eventual absolvição, haviam sido “infectados com o vírus da mídia” — referindo-se à repercussão nacional do crime contra a família do ator de Chiquititas.

“O processo veio a público em rede nacional, me expondo e colocando todo o sigilo e segredo de justiça em ‘óbito’ e, mais uma vez, contaminando meus direitos e formando e fortalecendo uma opinião pública e negativa contra mim”, escreveu.

No manuscrito, remetido à presidência do TJSP em junho de 2023, Cupertino pedia liberdade, afirmava ser inocente e dizia que seus direitos foram negados com “uma narrativa e fatos que não condizem com a verdade”.

Em uma manifestação obtida pelo Metrópoles, a promotora de Justiça Soraia Bicudo Simões Munhoz, por sua vez, afirmou existirem provas e testemunhos que embasam a denúncia contra Cupertino.

O réu ainda será julgado por triplo homicídio, qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa das vítimas. A data ainda não foi definida.

Além de Cupertino, Eduardo José Machado, conhecido como o Eduardo da Pizzaria, e Wanderley Antunes Ribeiro Senhora também serão julgados por terem ajudado Cupertino durante a fuga. O auxílio prestado por ambos foi apurado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Filha de Cupertino

Em depoimento no Tribunal do Júri, Isabela Tibcherani, filha de Paulo Cupertino, afirmou que ele era uma pessoa possessiva e que não aceitava o relacionamento da jovem com o ator Rafael Miguel.

No dia 9 de junho de 2019, ela estava na garagem da casa da família, em Pedreira, na zona sul paulistana, quando o pai atirou 13 vezes contra Rafael e os pais dele.

O ator e os familiares tinham ido até a residência de Isabela para falar com Cupertino sobre o namoro dos jovens, que não era aceito pelo pai da garota, então com 18 anos.

Na época, a jovem revelou que o pai era contra o namoro. Além disso, era possessivo e odiava mulheres. Na época, Isabela se disse surpresa por não ter sido também atingida pelos tiros.

“Ainda não consigo acreditar, mas estou me esforçando. Juro que o máximo que pensei que fosse possível era meu pai sair na mão [briga de socos]. Mas quando eles [Rafael e os pais] chegaram, ele me mandou entrar e começou a atirar”, declarou a namorada de Rafael em 2019.

Como mostrado pelo Metrópoles, ela pediu à Justiça que o pai fosse retirado do plenário do júri durante seu testemunho.

Segundo a promotora Soraia Munhoz, o pedido decorreu do “fundado temor e evidente constrangimento” de Isabela e a mãe dela, Vanessa Tibcherani, estarem no mesmo recinto que Cupertino.

O crime

De acordo com denúncia do MPSP, Paulo Cupertino matou o ator Rafael Miguel, que na época tinha 22 anos, o pai dele, João Alcisio Miguel, de 52, e a mãe, Miriam Selma Miguel, de 50, porque não aceitava o namoro do jovem com a filha dele, Isabela Tibcherani, na época com 18 anos. Os pais do ator estavam no local porque queriam conversar com Cupertino sobre o relacionamento dos filhos.

Os assassinatos ocorreram em Pedreira, zona sul paulistana. Segundo a denúncia, Cupertino disparou 13 vezes contra as vítimas.

Paulo Cupertino foi acusado de triplo homicídio qualificado. Depois do crime, fugiu para o Mato Grosso do Sul e, em seguida, para o Paraguai. Ele foi preso na mesma região onde o crime ocorreu, escondido em um hotel.

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