Papa Francisco defendeu abolir armas nucleares: ‘Corremos o risco de destruir a humanidade’


Discursos e sermões em 12 anos de pontificado mostram que Francisco considerava as armas nucleares um instrumento de guerra ilegítimo e que somente a posse já deveria ser condenada como algo imoral. Próximo Papa deverá institucionalizar as conquistas de Francisco, diz professor
A opinião veemente do papa Francisco contra as armas nucleares está evidente nos discursos e sermões do pontífice. Com mensagens firmes, ele se posicionava como uma das vozes mais influentes no apelo à eliminação total das armas nucleares, propondo uma paz construída com base na justiça, no diálogo e no respeito pela vida.
“Um dos anseios mais profundos do coração humano é por segurança, paz e estabilidade. A posse de armas nucleares e outras armas de destruição em massa não é a resposta a esse desejo; na verdade, elas parecem sempre frustrá-lo”, declarou.
Ao longo dos 12 anos à frente da Igreja Católica, o papa Francisco realizou 2.390 discursos e 570 homilias. Temas globais caros ao pontífice, como a crise imigratória, a pobreza e as guerras, eram frequentes nas suas falas, assim como temas mais voltados à própria igreja, como a participação de mulheres nos assuntos eclesiástico e a bênção aos homossexuais.
O g1 submeteu todos os discursos e homilias disponíveis no site do Vaticano – 9,6 mil páginas – a uma ferramenta de inteligência artificial para encontrar frases do papa sobre esses e outros assuntos. Cada frase e seu contexto foram, posteriormente, analisados por jornalistas e checados nos documentos originais. Veja abaixo.
Os discursos foram proferidos em diferentes ocasiões, como encontros com grupos religiosos de diversos países, jornalistas e oficiais de justiça. Já as homilias foram todas pronunciadas durante missas celebradas pelo papa.
O papa Francisco fez 40 viagens e visitou mais de 60 países. Ele costumava falar com a imprensa durante suas viagens de avião
EPA/BBC
O papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos. Ele considerava que as armas nucleares eram um instrumento de guerra ilegítimo e que somente a posse delas já deveria ser condenada como algo imoral. Sua maior preocupação era com os riscos concretos de destruição em massa, inclusive por acidentes ou erros de cálculo.
“Em 34 anos, foi-se andando sempre mais além. Hoje estamos no limite. Com o arsenal nuclear tão sofisticado, corremos o risco de destruir a humanidade, ou pelo menos grande parte dela”, disse Francisco em 2016, em resposta a uma pergunta do jornalista americano Joshua McElwee, sobre o que o papa diria aos políticos que não querem renunciar aos arsenais nucleares nem reduzi-los.
Ele era favorável aos esforços multilaterais para o desarmamento e a não proliferação — como o Tratado da ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares, ratificado por mais de 90 países.
Na sua visita a Nagasaki, em 2019, Francisco fez questão de recordar a dor causada pelos bombardeios de 1945, honrando as vítimas e suas famílias, e pedindo um esforço global pela eliminação definitiva desse tipo de armamento.
Em 2021, na encíclica Fratelli Tutti, o Papa reforçou suas dúvidas sobre a eficácia da dissuasão nuclear como política de segurança. “Uma estabilidade baseada no medo não é sustentável”, escreveu.
Para Francisco, as armas nucleares são uma ameaça existencial e moralmente inaceitável, por isso, ele defendia o desarmamento integral e a construção da paz baseada na confiança mútua e na ética da solidariedade, em vez do medo e da intimidação.
“Nosso mundo é marcado por uma dicotomia perversa que tenta defender e garantir a estabilidade e a paz por meio de uma falsa sensação de segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba envenenando as relações entre os povos e obstruindo qualquer forma de diálogo”.
Vida e legado de Papa Francisco
Nascido em 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, na Argentina, Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Ele também foi o primeiro jesuíta no posto. Em seu pontificado, adotou postura de diálogo com o mundo, com um olhar atento para fora da Igreja.
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O Papa faleceu em 21 de abril de 2025, aos 88 anos, na Casa Santa Marta, no Vaticano, um mês após ter alta do hospital, onde ficou internado por 38 dias para tratar uma pneumonia nos dois pulmões. A causa oficial da morte foi um acidente vascular cerebral (AVC), seguido de insuficiência cardíaca irreversível (leia mais).
Líderes religiosos e políticos expressaram pesar e destacaram seu legado de humildade, diálogo inter-religioso e defesa dos mais vulneráveis, e milhares de fiéis se reuniram na Praça de São Pedro para prestar homenagens.​
O corpo do Papa Francisco será levado para a Basílica de São Pedro, em Roma, para que fiéis possam prestar a última homenagem ao papa, mas ele será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore. A última vez que isso aconteceu foi em 1903, com o enterro do papa Leão XIII.
O processo para a escolha de seu sucessor, o conclave, deverá começar em breve, conforme as normas da Igreja Católica.​
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