Favela do Moinho: atuação da PM incomoda moradores e preocupa União

São Paulo — A presença ostensiva de policiais militares na Favela do Moinho, no centro de São Paulo, tem gerado incômodo entre moradores da comunidade, que dizem se sentir intimidados pelos agentes, em meio às negociações de acordos habitacionais com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU).

Apesar de não participar das ações de remoção de moradores, a Polícia Militar aumentou sua atuação na favela desde que o governo do estado decidiu avançar com o processo de reassentamento das famílias.


Histórico de tensão

  • Uma moradora ouvida pelo Metrópoles afirma que uma base da PM está instalada na rua que dá acesso à favela desde o dia 15 de abril, data em que a população do local fez um protesto contra o projeto de desocupação do terreno.
  • A manifestação daquele dia terminou com o grupo sendo dispersado por policiais, que usaram bombas de efeito moral contra os moradores. Na mesma data, policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA) fizeram uma grande operação na região.
  • Três dias depois, na Sexta-Feira Santa, policiais entraram nas ruas da Favela do Moinho armados com fuzis. Na ocasião, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a PM prendeu um suspeito de tráfico de drogas na comunidade. A população, no entanto, disse que houve truculência contra os moradores durante a ação.
  • “Em plena Sexta-Feira Santa, com todo mundo preparando a ceia, a Polícia entrou [na rua] com a maior truculência, metendo revólver na cara da gente, mandando a gente entrar em casa”, afirma Alexssandra Aparecida da Silva, de 46 anos.
  • Ela conta que a mãe e o padrasto, assustados com o episódio, decidiram deixar a favela temporariamente por medo da violência policial.

Reclamação sobre PM chegou à União

A atuação da PM entrou nas negociações sobre a cessão da área pelo governo federal. O território onde a favela está localizada pertence à União e está sob responsabilidade da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), submetida ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).

A SPU também tem recebido relatos de moradores alegando que estão se sentindo pressionados a sair da comunidade por conta da presença da PM. Dentro do órgão, o entendimento é de que a presença policial não pode ter nenhuma relação com a remoção de moradores e de que o governo federal não aceitará intimidação.

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Protesto na entrada da Favela do Moinho

Entrada da Favela do Moinho, no centro da cidade
Ruas de terra, barracos de madeira e fios emaranhados fazem parte do cenário da Favela do Moinho
CDHU marca casas da Favela do Moinho
CDHU acompanha mudança na Favela do Moinho
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Favela do Moinho teve saneamento básico regularizado em 2022

Jessica Bernardo / Metrópoles

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Protesto na entrada da Favela do Moinho

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Entrada da Favela do Moinho, no centro da cidade

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Ruas de terra, barracos de madeira e fios emaranhados fazem parte do cenário da Favela do Moinho

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CDHU marca casas da Favela do Moinho

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CDHU acompanha mudança na Favela do Moinho

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Favela do Moinho está entre duas linhas de trem da CPTM

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Na semana passada, conforme noticiado pelo Metrópoles, a ministra de Gestão e Inovação, Esther Dweck, procurou o secretário de governo da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), Gilberto Kassab (PSD), para pedir mais diálogo por parte do governo estadual a respeito das ações na Favela do Moinho.

Em nota desta sexta-feira (25/4), a SPU afirmou que o governo federal “apoia as ações de mudança das famílias que já possuem um novo endereço, desde que essa seja a efetiva vontade das famílias e feitas sem intervenção de força policial”. Em ofício enviado na terça (22/4) à gestão Tarcísio, a secretaria exigiu que o governo estadual garanta que todos os moradores do local terão direito à moradia na região central.

O Metrópoles questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre a atuação da PM na Favela do Moinho. Em nota, a Polícia disse que sua presença na área tem como objetivo “garantir a segurança dos moradores e apoiar o reassentamento”.

“O policiamento busca proteger as famílias que aderiram voluntariamente à mudança, evitar represálias e impedir reocupações. A região é considerada estratégica para o tráfico e tem influência do crime organizado”, termina o texto.

Uma investigação do Ministério Público apontou que a favela foi utilizada como base para o PCC no centro da capital paulista.

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