Oceano Atlântico registra ‘combo ameaçador’ de calor, acidez e fome marinha

Imagem da costa rochosa do oceano Atlântico na Bretanha, localizado na França

Eventos extremos no oceano Atlântico podem ocasionar acidificação ou calor nos mares – Foto: Canva/ND

Eventos extremos no oceano Atlântico Sul têm se tornado mais frequentes e intensos nas últimas décadas. É o que revela um estudo liderado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), publicado nesta quarta-feira (16) na revista Nature Communications.

A pesquisa, conduzida pela professora Regina Rodrigues e com a colaboração de universidades internacionais, como a França, Suíça, Noruega e Austrália, analisou dados de 1999 a 2018.

Além disso, também observou um crescimento significativo na ocorrência simultânea de ondas de calor marinhas, alta acidificação e baixa concentração de clorofila.

Quais são as consequências dos eventos extremos no oceano Atlântico?

Conforme os pesquisadores, esses eventos podem comprometer a sobrevivência dos ecossistemas marinhos e afetar diretamente atividades econômicas como a pesca e a maricultura, essenciais para a segurança alimentar de países da América do Sul e da África.

Vale destacar que a pesquisa abrange seis regiões do Atlântico Sul, incluindo áreas do Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, além da costa do Uruguai e da Argentina.

A escolha dessas áreas se deve à alta produtividade biológica e à riqueza em biodiversidade, fatores que também tornam essas regiões mais vulneráveis.

Segundo a professora Regina, a interação entre o superaquecimento dos oceanos e acidificação, associada à baixa disponibilidade de alimento, forma um cenário preocupante para a fauna marinha.

Imagem de tartaruga marinha em oceano sem nada por trás

Eventos extremos no oceano Atlântico podem comprometer sobrevivência da vida marinha – Foto: Canva/ND

Existe chances de recuperação entre os eventos extremos?

De acordo com o estudo, até 2015, os ecossistemas ainda conseguiam se recuperar entre eventos extremos no oceano Atlântico. No entanto, a partir de 2016 os fenômenos passaram a ocorrer anualmente, elevando o risco de colapso ecológico.

“A ocorrência simultânea desses extremos afeta o crescimento, a reprodução e a sobrevivência de muitas espécies”, destaca Regina Rodrigues.

A pesquisa também ressalta a importância de entender os mecanismos físicos que geram esses fenômenos para aprimorar modelos de previsão oceânica.

Regina aponta que antecipar esses eventos pode ser decisivo para a adoção de políticas públicas voltadas à proteção das comunidades costeiras e ao planejamento da atividade pesqueira.

Mudanças já em andamento

A equipe observa que espécies marinhas estão migrando para áreas mais ao sul, como Uruguai e Argentina, o que pode alterar a dinâmica da pesca no Brasil. Enquanto isso, na África, onde a pesca é uma fonte essencial, o aumento dos eventos extremos no oceano Atlântico representa uma ameaça direta à segurança alimentar.

O estudo reforça a interdependência entre o aquecimento das águas, a acidificação e a redução na base da cadeia alimentar dos oceanos. Esses conjuntos de fatores agravam a vulnerabilidade dos ecossistemas.

Impactos anteriores e perspectivas futuras

Vale destacar que em março deste ano, Regina e sua equipe já haviam publicado outro estudo na revista Communications Earth & Environment, também do grupo Nature, sobre a maior onda de calor marinha registrada no Atlântico Tropical, em 2020.

O evento causou o branqueamento de mais de 90% dos corais na costa do Rio Grande do Norte, exemplificando os efeitos diretos das mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos.

Imagem de corais branqueados com peixes ao redor em mar com águas cristalinas após passar por eventos extremos no oceano Atlântico

Corais branqueados – Foto: Canva/ND

Os pesquisadores alertam que caso não ocorra a redução das emissões de gases de efeito estufa, os eventos extremos no oceano Atlântico Sul devem continuar e se tornar ainda mais frequentes e intensos, ameaçando a biodiversidade e o sustento de milhões de pessoas.

“Proteger os oceanos é essencial para garantir a segurança alimentar e o equilíbrio ambiental”, conclui Regina.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.