Mercado de títulos dos EUA enfrenta liquidez menor e novos desafios

A demanda global por títulos do Tesouro dos Estados Unidos tem mostrado sinais de enfraquecimento, aumentando a preocupação entre analistas sobre os impactos nos ativos de risco e nos mercados emergentes. Durante entrevista ao programa BM&C News, Andressa Durão, economista do ASA, avaliou que o fenômeno pode forçar o Tesouro americano a oferecer juros mais elevados para atrair compradores, elevando os custos de financiamento da dívida.

Segundo Durão, essa mudança no mercado reflete menos uma retirada de capitais e mais uma disfunção de liquidez. “A ideia é que a gente esteja vendo uma disfunção mesmo no mercado por conta dessa perda de excepcionalismo americano“, explicou.

Avaliação global descarta fuga de capitais dos Estados Unidos

Durante discussões recentes no Fundo Monetário Internacional (FMI), o tema ganhou destaque entre especialistas, mas o consenso atual, conforme detalhou Durão, é de que não há evidência de uma fuga expressiva de capitais dos Estados Unidos.

O que a gente está vendo mesmo seria uma disfunção, uma disfuncionalidade de mercado, uma questão de liquidez de mercado, e não uma retirada abrupta de investimentos“, afirmou. A economista explicou que, embora haja uma desaceleração na participação de países como a China na compra de títulos, esse movimento é gradual e já vinha sendo observado anteriormente, sem representar uma mudança abrupta no comportamento dos investidores globais.

Novo ambiente econômico nos EUA altera dinâmica de mercado

A mudança de percepção ocorre após anos de forte desempenho econômico dos Estados Unidos, especialmente no período pós-pandemia. De acordo com Durão, a recuperação robusta, com alta produtividade e crescimento acima do potencial, adiou os efeitos esperados de um ciclo de aperto monetário mais agressivo por parte do Federal Reserve.

Tivemos uma produtividade elevadíssima, uma economia crescendo muito acima do potencial e não vimos o aperto monetário batendo da forma como deveria ser“, avaliou a economista. Na visão dela, o Fed conseguiu realizar um ‘soft landing’, mas enfrenta agora um novo desafio de política monetária que afeta diretamente a dinâmica de emissão e precificação dos títulos.

Tesouro americano pode precisar ajustar estratégia de emissão

Com a queda na liquidez e o novo ambiente de avaliação econômica, o Tesouro dos Estados Unidos poderá ser obrigado a revisar suas estratégias de emissão de títulos públicos. Durão explicou que ajustes nos prazos dos papéis — priorizando emissões de curto ou longo prazo — podem ser uma resposta para reequilibrar a demanda e reduzir as pressões no mercado.

Provavelmente o Tesouro vai ter um trabalho de entender como que vai ficar essas participações, o que vai ser de curto prazo e de longo prazo para tentar corrigir essa disfunção“, disse.

Impacto nos mercados emergentes e ativos de risco

A menor liquidez no mercado de títulos americanos também traz implicações para outros mercados. Se os Estados Unidos precisarem oferecer juros mais elevados, o efeito pode ser um aumento no prêmio de risco para ativos globais, especialmente nos mercados emergentes, que tendem a ser mais sensíveis às mudanças nas condições financeiras internacionais.

Apesar da preocupação, Durão reforçou que o movimento atual é mais técnico do que estrutural. “É uma questão de liquidez e reprecificação do mercado em um novo cenário econômico, e não de retirada dos investidores globais dos Estados Unidos”, concluiu.

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