Sintomas da fibromialgia podem ser amenizados com transplante de fezes

Um estudo liderado pela Universidade McGill, no Canadá, descobriu que a transfusão da microbiota intestinal de mulheres com fibromialgia para camundongos pode causar sintomas da doença, como dor, alterações metabólicas e inflamação nervosa. O estudo foi publicado na revista científica Neuron na última quinta-feira (24/4).

Afetando cerca de 2% a 4% da população, a fibromialgia aparece principalmente em mulheres, e sua causa exata ainda é desconhecida. Ela é caracterizada por dor crônica generalizada, fadiga, distúrbios do sono, alterações cognitivas, sintomas gastrointestinais e depressão.

Como foi feito o estudo

Os estudiosos utilizaram camundongos fêmeas sem nenhuma microbiota no intestino. Os animais receberam o transplante da microbiota fecal (TMF) de dois grupos de mulheres: um tinha fibromialgia e outro, da mesma idade, não tinha a doença.

Para avaliar a dor e alterações sistêmicas nos animais, os cientistas utilizaram ensaios comportamentais, sequenciamento de RNA de célula única, perfil metabolômico, imagens de cálcio dos gânglios da raiz dorsal e fizeram a análise da microglia espinhal.

Em quatro semanas, camundongos que receberam microbiota de pacientes com fibromialgia desenvolveram hipersensibilidade mecânica ao calor e ao frio, dor espontânea e dor muscular. Após quatro meses do transplante, os animais tiveram sintomas de dor persistente e comportamentos semelhantes à depressão.

Todas essa mudanças coincidiram com alterações na composição da microbiota intestinal, ativação imunológica marcada por monócitos clássicos e microglia espinhal, alterações no metabolismo de aminoácidos e ácidos biliares e redução da densidade de fibras nervosas intraepidérmicas.

A substituição da microbiota ligada à fibromialgia pela de doadoras saudáveis reverteu a hipersensibilidade à dor. A suplementação oral de ácido biliar também reduziu as respostas à dor em camundongos.

Teste em humanos

Em um ensaio clínico aberto, 14 mulheres com fibromialgia grave receberam cinco doses orais da microbiota fecal do grupo de participantes saudáveis. As cápsulas foram administradas quinzenalmente, depois que as voluntárias tomaram antibióticos e passaram por uma limpeza intestinal para permitir que uma nova microbiota se estabelecesse melhor.

Das 14 mulheres que receberam cápsulas com microbiota de doadoras saudáveis, 12 relataram uma melhora significativa na dor e nos sintomas relacionados.

Embora os resultados sejam preliminares e ainda precisem ser confirmados com estudos maiores e mais rigorosos, a descoberta representa um avanço importante, abrindo caminhos para novos tratamentos da fibromialgia.

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