Turismo que regenera (por Mariana Caminha)

Um estudo da Universidade de Queensland, publicado em 2024, revelou que o setor do turismo é responsável por aproximadamente 9% das emissões globais de gases de efeito estufa. Bem menor do que contribuições do setor de energia (cerca de 73%) ou da agricultura, florestas e outros usos da terra (em torno de 18–20%), mas especialistas estão atentos: a previsão da ONU Turismo é que esse número possa chegar a 30% até 2030, na contramão das metas do Acordo de Paris, que determina redução das emissões.

Há anos, quem vem defendendo melhores práticas para todos os atores do setor é a pesquisadora e especialista em turismo e mudanças climáticas Jaqueline Gil. Foi dela que ouvi, pela primeira vez, o termo “Turismo Regenerativo” – “uma das respostas aos múltiplos desafios que enfrentamos no âmbito da sustentabilidade e das alterações do clima”, ela me explicou.

A ideia de um turismo positivo em carbono, que gera múltiplos ganhos – para os viajantes, para os moradores locais e, principalmente, para a natureza – já está se tornando realidade no Brasil.

Por uma ótima causa, Jaqueline e eu embarcamos rumo ao Recife e, de lá, seguimos para Porto de Galinhas, onde fomos conhecer o trabalho da Biofábrica de Corais, uma startup de biotecnologia e ciência desenvolvida no Brasil, focada na restauração e na resiliência de recifes de coral.

Tivemos a oportunidade de ser cientistas por um dia, ou “biofabricantes de corais”, como fomos batizadas. Foi ali que percebi o quanto sabia pouco – quase nada – sobre a importância dos corais para a preservação da biodiversidade marinha e até para a economia. Aprendi, por exemplo, que com o aquecimento global, mais de 90% dos recifes de coral podem ser extintos até 2030, caso as projeções atuais não sejam revertidas.

Enquanto aprendíamos, transplantávamos corais para berçários, que depois foram cuidadosamente levados de volta ao fundo do mar. Foi uma experiência única – emocionante e inesquecível.

Imagine o potencial do turismo regenerativo em um país como o Brasil.

Para Jaqueline Gil, esse futuro não é apenas possível — é necessário. “As cabeças, os corações e as mãos dos turistas podem se tornar essenciais para acelerar o replantio de árvores, a transplantação de corais, o cuidado com a refaunação de animais em extinção, o renascimento de práticas culturais e a ressignificação de espaços públicos em locais favoráveis às ações climáticas.”

Vale muito a pena conhecer mais sobre o trabalho da Biofábrica de Corais. Além de virar cientista por um dia, você também pode apoiar o projeto adotando o seu próprio coral! Basta acessar www.biofabricadecorais.com

 

Mariana Caminha é jornalista e especialista em estratégias de comunicação voltadas para crise climática e desenvolvimento sustentável.

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