Prefeito de Salvador faz reforma e usa imóvel de luxo de empresário apontado como operador da Overclean

Há quase um mês, desde que Samuel Franco tornou-se alvo da terceira fase da Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 3 de abril, esta coluna vem investigando uma conexão suspeita entre o empresário e o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil). Documentos e depoimentos colhidos pela reportagem confirmam a aquisição, em 2021, de dois apartamentos no luxuoso condomínio Bay View, localizado em Barra Grande, Península de Maraú (BA), ambos registrados em nome de Franco. Um deles, porém, teria como verdadeiro proprietário o prefeito Bruno Reis.

Testemunhas ouvidas pela reportagem, entre elas moradores, prestadores de serviços e corretores imobiliários, relataram com detalhes o envolvimento direto de Bruno Reis não só na escolha e negociação do imóvel, mas também na contratação e acompanhamento de serviços personalizados como decoração, instalação de sistemas de ar-condicionado, vidraçaria e reformas gerais do mobiliário. Esses serviços foram solicitados diretamente por Reis, apesar da propriedade estar oficialmente em nome de Franco.

Quando os imóveis foram adquiridos, cada unidade no condomínio Bay View estava avaliada em aproximadamente R$ 900 mil, atualmente o valor saltou para uma média de R$ 1,5 milhão. O empreendimento é considerado exclusivo e sofisticado, oferecendo infraestrutura completa de lazer e localização privilegiada, voltado para a Baía de Camamu, região reconhecida pela alta valorização imobiliária.

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As ligações entre Bruno Reis e Samuel Franco não se limitam ao suposto uso particular do apartamento em Barra Grande. Segundo reportagem divulgada pela Folha de São Paulo, desde maio de 2022, os dois são sócios na SPE Vento Sul Empreendimentos Imobiliários Ltda. Documentos obtidos na Junta Comercial da Bahia revelam que o prefeito adquiriu, através da BB Patrimonial (empresa em sociedade com seus filhos), 10% das cotas da empresa por R$ 60 mil diretamente das mãos de Franco, que manteve 90% da sociedade.

Além dos vínculos societários, Reis publicamente já declarou proximidade pessoal com Franco. Em discurso registrado em vídeo durante evento empresarial, referiu-se a Samuel Franco como um “irmão que a vida deu” e admitiu manter contato diário com ele por telefone. O evento contou também com a participação de ACM Neto (União Brasil), ex-prefeito de Salvador e padrinho político de Reis, que igualmente possui um imóvel no condomínio Bay View.

As informações ganham peso adicional frente à Operação Overclean, investigação federal que apura desvios estimados em R$ 1,4 bilhão em contratos públicos ligados ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Samuel Franco é apontado pela PF como operador financeiro do esquema, recebendo pagamentos superiores a R$ 500 mil de empresas suspeitas de serem de fachada, como a BRA Teles Ltda. e a FAP Participações Ltda., entre abril de 2022 e março de 2024.

A Overclean já alcançou importantes nomes próximos ao círculo político de Bruno Reis e ACM Neto. O deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA) teve o nome citado, o que levou a apuração ao Supremo Tribunal Federal (STF), sob sigilo com relatoria do ministro Kassio Nunes Marques. Bruno Barral, ex-secretário municipal de Educação de Salvador, também foi afastado de suas funções públicas na terceira fase da operação.

A coluna pediu um posicionamento da PF sobre os imóveis, mas a o corporação se limitou a informar que não comenta sobre inquéritos em andamento. A reportagem também procurou a desfasa de Bruno Reis, mas não recebeu retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

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