Trump age como CEO dos EUA e abala geopolítica global em primeiros 100 dias

Completando 100 dias de seu segundo mandato, o presidente Donald Trump volta a provocar turbulências no cenário internacional com uma política econômica de confronto. Em meio a uma onda de tarifas comerciais — que atinge desde parceiros estratégicos como Canadá, México e Brasil até rivais como a China —, o governo norte-americano reacende tensões geopolíticas e enfrenta crescente desgaste interno.

A nova fase da doutrina “America First” vem acompanhada de medidas drásticas, como a imposição de tarifas de até 145% sobre produtos chineses e a revogação de iniciativas da gestão Biden. O pacote de decretos foi justificado com a declaração de emergências econômicas, energéticas e de segurança nacional, permitindo a Trump contornar o Congresso por meio de ordens executivas.

Em live realizada pela XP Investimentos, especialistas avaliaram os impactos dessa abordagem. A analista política Sol Azcune apontou que a imprevisibilidade da nova gestão já compromete a confiança dos mercados e afeta a popularidade do presidente. “A narrativa do governo de que o sacrifício é temporário e os frutos virão depois não está colando”, disse.

Anúncios e recuos seguidos 

A política apelidada de “Liberation Day”, em que o governo anuncia e revoga tarifas com frequência, tem sido um divisor de águas. O Brasil, por ora, foi atingido por tarifas de 10%, mas o México já enfrenta sua terceira rodada de anúncios. A China, principal alvo da retaliação, viu suas exportações sofrerem com tributos elevados.

A escalada tarifária tem efeitos diretos sobre a inflação — um dos temas mais sensíveis para o eleitor americano — e já pressiona o núcleo do Partido Republicano. Aliados históricos de Trump, como o senador Ted Cruz e o empresário Elon Musk, criticaram publicamente a política econômica e o excesso de decretos, que dificulta o planejamento do setor produtivo.

Apesar das críticas, o Congresso tem pouca margem de manobra para frear o presidente. Um projeto apresentado pelo senador Chuck Grassley que tenta restringir o poder executivo em questões tarifárias esbarra na força política de Trump. “Hoje, apenas com dois terços da Câmara e do Senado seria possível derrubar um veto. E isso é praticamente impossível com o apoio que ele tem”, afirmou Azcune.

No ambiente internacional, o reposicionamento dos Estados Unidos também preocupa. A política externa volta a priorizar interesses nacionais de curto prazo, com menor disposição para acordos multilaterais. Exportadores temem perder mercados estratégicos, e investidores demonstram cautela diante de um novo ciclo de isolacionismo.

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O CEO da Casa Branca

A XP também destacou que a tentativa de Trump de gerir o país como um CEO tem enfrentado entraves. “Você pode tentar enxugar a máquina, mas há questões como segurança nacional que não permitem improviso. Demissões em áreas críticas e dificuldade para reposições já trouxeram prejuízos políticos”, concluiu Azcune.

O presidente prometeu um governo mais eficiente e focado no fortalecimento interno. No entanto, os primeiros 100 dias revelam um estilo confrontador, sustentado por decretos e sustentado por uma base fiel, mas que enfrenta resistência crescente — inclusive dentro do próprio partido.

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