O verdadeiro papel da imprensa no turismo – especialmente em tempos de crise

Em momentos de instabilidade, quando o chão parece ceder sob os pés de milhares de profissionais e empresas, o papel da imprensa não é o de se esconder atrás de cortinas ou de bajular plateias com títulos vazios e premiações sem critério. Neste dia do trabalhador, quero relembrar que o papel da imprensa é – e sempre será – o de informar, com responsabilidade, consistência e coragem. E, mais do que isso, é o de dialogar, de aparecer, de dar as caras.

A recente crise envolvendo a operadora ViagensPromo escancarou, mais uma vez, a confusão que ainda persiste no entendimento sobre o que cabe e o que não cabe ao jornalismo especializado no turismo. Em meio a uma das maiores turbulências recentes do setor, o Mercado & Eventos se posicionou como o primeiro veículo a lançar luz sobre os indícios de irregularidade. Fizemos isso com base em dados, depoimentos e responsabilidade editorial. Com cobrança de posicionamento. Com pressão para informar os leitores, aflitos, que naquele momento, viviam sem qualquer certeza. Não com boatos, nem com julgamentos precipitados.

Enquanto muitos aguardavam, propositalmente, pronunciamentos oficiais que se arrastavam ou preferiam se manter à margem, nós fizemos o que se espera de um veículo sério: informamos. Mas não paramos aí. Promovemos debates com associações, demos voz às agências que foram lesadas, acompanhamos desdobramentos judiciais e criamos espaço para a recolocação de profissionais afetados pelo colapso da operadora. Estivemos nos eventos, ouvimos os agentes, nos fizemos presentes. A imprensa tem, sim, o dever de ouvir a cadeia produtiva, de entender o que está sendo vivido na ponta, de abrir caminhos.

Mas há quem ainda confunda nosso papel com o de empresas de relações públicas. E isso, com todo o respeito, é um erro. O jornalismo sério não se faz com agrados ou omissões. Não se faz com títulos para inflar egos. E definitivamente não se faz com base em suposições ou “achismos” de ‘especialistas’ que ignoram critérios legais e éticos.

Durante essa crise, como em tantas outras, também fomos surpreendidos. Assim como os agentes de viagens que atuaram de forma correta e foram, mesmo assim, lesados, nós também não tínhamos como antecipar o que viria. Também não tivemos acesso a informações privilegiadas, como muitos acreditam. Como poderíamos imaginar o estouro de uma bomba silenciosa que afetaria toda a cadeia?

O que nos diferencia é que, a partir do momento em que surgiram os primeiros sinais de fumaça, não hesitamos em acionar nosso dever. Apuramos, publicamos, seguimos cobrindo. E, em nenhum momento, nos omitimos.

Também é necessário reforçar: há limites no que a imprensa pode afirmar. Não cabe à imprensa antecipar sentenças. Cabe, sim, mostrar os fatos, ouvir as fontes, dar espaço para que vítimas e envolvidos se posicionem, como temos feito desde o início.

Não escrevemos para agradar. Escrevemos para informar. Para dar perspectiva. Para provocar reflexão. Para conectar os pontos. E, em tempos de crise, mais do que nunca, para contribuir com soluções. Se o jornalismo deve, também, educar seu público, que esse artigo sirva de convite à reflexão sobre o que se espera – ou se cobra – da imprensa especializada no turismo.

É natural, compreensível até, que em meio à dor e à frustração, haja quem direcione sua indignação ao mensageiro. Mas não percamos o foco: a responsabilização deve ser exigida das instâncias corretas. Empresas, órgãos públicos, autoridades reguladoras.

O M&E seguirá fazendo sua parte. Com rigor. Com presença. Com responsabilidade.

E sempre com a verdade como norte.

  • Janaina Brito é editora do M&E
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