Padre acusado de violência sexual estaria em reuniões pré-conclave

O padre Juan Luis Cipriani é a figura religiosa mais influente do Peru. Após a morte de Francisco em 21 de abril, o cardeal sul-americano prestou homenagem ao papa na Basílica de São Pedro e em Santa Maria Maggiore, onde o pontífice argentino foi enterrado.

As imagens mostram o cardeal peruano com um olhar sério e as mãos entrelaçadas. No Vaticano, ele vestiu uma batina preta, um cinto vermelho, um solidéu e uma cruz peitoral. Francisco havia proibido o religioso de usar o traje após a revelação das acusações contra ele, em 2018.

Para a Rede Peruana de Sobreviventes, “Cipriani e os cardeais que o autorizam a agir dessa forma estão revitimizando a vítima, o que é imperdoável”. Segundo a associação, “esta é uma mensagem preocupante, que destrói a confiança nos critérios que serão utilizados para a escolha do próximo pontífice”.

Em 2019, Francisco obrigou Cipriani a se exilar do Peru, a não dar mais declarações e a deixar de usar trajes ou símbolos inerentes ao cargo de cardeal, segundo o jornal espanhol El País.

Em janeiro, o Vaticano confirmou que “medidas disciplinares específicas relacionadas à atividade pública, local de residência e uso de insígnias” foram impostas ao cardeal, que “assinou e aceitou”.

Mas, em uma carta pública defendendo sua inocência, o arcebispo Cipriani garante que Francisco permitiu em 2020 “que ele retomasse suas funções pastorais”.

Cardeal nega a acusação

Segundo o jornal El País, a vítima, um homem que está agora com 58 anos, acusa o clérigo de tê-lo “tocado, acariciado e beijado” quando tinha entre 16 e 17 anos.

“Não cometi nenhum crime e não abusei sexualmente de ninguém, nem em 1983, nem antes, nem depois”, assegurou o cardeal em sua carta, publicada na mídia peruana em janeiro. Ele denuncia o fato de ter sido sancionado sem ter direito à defesa.

Apesar de ter mais de 80 anos, o que o impede de participar do conclave para eleger o sucessor de Francisco a partir de 7 de maio, o cardeal peruano tem acesso às reuniões preparatórias.

Durante uma dessas reuniões, na segunda-feira, os cardeais mencionaram a luta contra a violência sexual entre os projetos prioritários do próximo pontífice.

Em um comunicado enviado à AFP, Anne Barrett Doyle, codiretora da ONG Bishop Accountability, com sede nos Estados Unidos, que documenta a violência cometida por clérigos, criticou a presença do prelado na assembleia.

“Isso demonstra a lacuna existente entre as palavras e as ações da Igreja em termos de agressão”, lamentou. Para muitos observadores, Francisco fez mais do que qualquer outro papa para prevenir e punir a violência sexual dentro da Igreja Católica.

Ele puniu os prelados e tornou obrigatória a denúncia de possíveis crimes ou tentativas de ocultação. A única exceção envolve o segredo da confissão: o sacerdote é obrigado a encorajar o agressor a se denunciar, mas não é obrigado a fazer a denúncia.

Suas reformas, portanto, permanecem muito insuficientes aos olhos das associações de sobreviventes. “A tolerância zero é um slogan vazio, desde que não esteja consagrado no direito canônico”, disse Matthias Katsch, um sobrevivente alemão e ativista da associação Eckiger Tisch, ao site Crux.

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