Um ano de angústia, espera e incerteza após a maior enchente da história do RS

“A gente achou que a água fosse baixar de tarde”, lembra o jornalista Anderson de Lima Loureiro, 46 anos, sobre a manhã do dia 2 de maio de 2024, quando ele e a tia, Nadir Lima Pacheco, 76, precisaram da ajuda de um barco para saírem de casa, no bairro Novo Esteio, em Esteio. “Saímos só com a roupa do corpo e os documentos”, recorda Nadir, citando que não esperavam que ficariam tanto tempo fora de casa. Ou melhor, que não mais poderiam voltar para ela.

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Casa de Anderson e da tia Nadir foi atingida pela enchente no bairro Novo Esteio e ficou inabitável



Casa de Anderson e da tia Nadir foi atingida pela enchente no bairro Novo Esteio e ficou inabitável

Foto: Priscila Carvalho/GES-Especial

Esteio foi um dos primeiros municípios da região afetados pela chuva volumosa que caiu entre o final de abril e o começo de maio de 2024 e que resultaram numa catástrofe jamais vista no Estado. De 29 de abril até o início da tarde de 1º de maio – ou seja, em menos de três dias completos –, o município registrou 292 milímetros de chuvas, valor que superava a média histórica para todo o mês de abril. Abrigos já recebiam famílias atingidas pela cheia de arroios, moradores de bairros como Liberdade, Três Marias e São Sebastião. E a prefeitura decretou Situação de Emergência já no dia 30 de abril.

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Bairro inundado

O Rio dos Sinos já havia atingido a Rua Arlindo Baierle, onde moravam Anderson e Nadir, outras vezes. Mas nunca sequer tinha entrado no pátio da casa deles. Desta vez, o bairro todo foi inundado, com mais de dois metros de altura de água em alguns pontos. “Quando a gente saiu daqui, a água já estava entrando em outras ruas, que nunca tinha alagado no Novo Esteio”, contou Anderson. Resgatados de barco, sobrinho e tia acreditavam que ficariam pouco tempo fora. A água com lama, porém, ficou por cerca de 20 dias no seu endereço. “Foi a primeira rua a alagar e a última a baixar a água”, destaca Anderson.

Residência pode desabar a qualquer momento

Anderson e Nadir foram abrigados na casa de um amigo, no Centro de Esteio. Depois, com a certeza de que sua moradia estava inabitável, receberam auxílio imediato de Aluguel Social e se mudaram para uma residência em Sapucaia do Sul, onde ainda residem.

Por conta da falta de segurança para entrar na casa mista do bairro Novo Esteio, que foi condenada e pode desabar a qualquer momento, sobrinho e tia ainda não conseguiram limpar o local. Móveis, eletrodomésticos e utensílios seguem revirados, e não foi possível pegar roupas que, talvez, ainda possam ser aproveitadas.

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Esperando pela nova casa

As memórias de dias de angústia se confundem com a incerteza do futuro para Anderson e Nadir. Além do Aluguel Social, a Prefeitura de Esteio forneceu suporte essencial e entregou, entre outras coisas, geladeira, fogão, mesa e colchões a eles. Mas a preocupação agora é que, um ano depois, ainda não se tem uma previsão de quando eles serão contemplados com um novo lar.

Anderson explica que está cadastrado para receber uma moradia, via governos e Caixa Econômica, mas seguem aguardando uma resposta: “A gente está esperando a resposta da Caixa e da prefeitura”.

Com a informação da prefeitura de que hoje o Novo Esteio é um bairro suscetível a outras inundações, por causa do rio, a intenção de sobrinho e tia é deixar o terreno, um dos primeiros da rua e onde moram há 40 anos. “Porque o que a gente passou foi muito complicado. Viemos desde 2015 numa sequência, só que nunca pegou água antes: foi julho de 2015, depois novembro de 2023 e, agora, maio de 2024, quando entrou mesmo na casa”, reforça Anderson.

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Mobilização cobrará respostas

A fim de cobrar mais medidas de prevenção a novos desastres e, principalmente, respostas e prazos para os moradores que ainda não tem previsão de quando receberão novas moradias, um protesto está marcado para este sábado (3). A mobilização, promovida por residentes no bairro Novo Esteio, mas que está convidando atingidos pela enchente de toda cidade e da região, está marcada para as 9h30, em frente à Escola Municipal Irmã Sibila.

No card enviado em grupos de WhatsApp, o texto lembra: “Faz um ano da enchente que destruiu o bairro Novo Esteio e nada foi feito para evitar que isso aconteça novamente. Famílias perderam tudo. Casas foram destruídas. Pessoas ficaram sem apoio e sem esperança”, argumenta. “Vamos nos reunir para cobrar respostas e respeito. Chega de promessas vazias. O Novo Esteio não será esquecido!”, convida o card.

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