Diplomacia brasileira nega crise e fala em “resgate” com a Ucrânia

A diplomacia do Brasil na Ucrânia nega qualquer crise com o país liderado por Volodymyr Zelensky, mesmo com recentes declarações inflamadas de Kiev, em relação à viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Rússia.

De acordo com autoridades brasileiras na Ucrânia, ouvidas pelo Metrópoles, sob condição de anonimato, a relação a nível diplomático funciona bem – ao menos pela perspectiva brasileira. O que o Brasil busca, no momento, é o resgate da diplomacia presidencial.

Desde que assumiu seu terceiro mandato, Lula tem enfrentado dificuldades em dialogar com Zelensky, já que o presidente ucraniano enxerga algumas posturas do líder brasileiro como “pró-Rússia”.

Exemplo recente aconteceu no início de abril, quando Kiev recusou por duas vezes uma tentativa de conversa telefônica entre Lula e Zelensky. O principal ponto que travou o diálogo entre os dois presidentes é a participação do líder brasileiro nos eventos do Dia da Vitória, em Moscou. Para o governo da Ucrânia, a ida de Lula à Rússia é visto como mais um gesto de apoio as ações da administração de Vladimir Putin.

“Existe uma tentativa de resgate da diplomacia presidencial. Não existe crise diplomática, nossa relação é muito boa”, disse uma fonte ligada à diplomacia brasileira em Kiev. “Nossa relação é muito boa, os contatos são fluídos no nível abaixo, na cooperação com os ministérios. Está tudo funcionando perfeitamente bem”.

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Em NY, em 2023, Lula se reuniu pela primeira vez com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky

Lula, Zelensky e suas equipes
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Lula e Zelensky já falaram, mas por videoconferência

Ricardo Stuckert/PR

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Em NY, em 2023, Lula se reuniu pela primeira vez com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky

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Diálogo sem tomar lados

Segundo a diplomacia brasileira na Ucrânia, parte das críticas de Kiev surgem após interpretações erradas da posição do Brasil, e do governo Lula, sobre o conflito.

“A Europa muitas vezes tem outra visão de diplomacia. Uma diplomacia de exclusão, de isolamento, de sanções, e o Brasil não adota essa linha. Mas não adotar essa linha não significa tomar partido, nem para um lado, nem para o outro”, disse um diplomata brasileiro com conhecimento sobre o assunto. “Nós advogamos pelo diálogo, a capacidade de negociação entre as partes, a solução diplomática. Não acreditamos na solução militar, e é dessa forma que nós achamos que podemos melhor ajudar a Ucrânia e Rússia a encontrar a paz”.

“Jogo vergonhoso”

O último ponto de embate entre Brasil e Ucrânia surgiu no início desta semana, após o embaixador ucraniano em Brasília, Andrii Melnyk, convidar Lula para visitar Kiev, antes de ir à Moscou para o Dia da Vitória.

Depois do aceno do diplomata ucraniano, autoridades brasileiras dizem aguardar um convite formal para avaliar a possível visita de Lula ao país governado por Volodymyr Zelensky.

A declaração não foi recebida com bons olhos pela diplomacia ucraniana, que revelou a existência de convites formais de Zelensky para encontros com Lula há mais de um ano, por meio de cartas que não teriam sido respondidas. Por isso, Kiev se recusa a fazer uma nova solicitação do tipo. À reportagem uma fonte do alto escalão do governo da Ucrânia chamou o gesto brasileiro de “jogo nojento e vergonhoso”.

Ainda assim, autoridades brasileiras insistem que viagens de tal envergadura exigem convites formais. O que, segundo fontes diplomáticas, pode caminhar caso o telefonema entre Lula e Zelensky seja realizado.

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