Estudo: 15% dos franceses já testaram relacionamentos abertos

Os franceses e as francesas estão cada vez mais adeptos aos relacionamentos abertos. A quantidade de casais que adotam esse modo de se relacionar ou dispostos a esse tipo de experiência vem aumentando no país, enquanto as identidades sexuais também evoluem.

Segundo uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) para o aplicativo de encontros extraconjugais Gleeden, as relações “alternativas” vêm atraindo cada vez mais adeptos na França. Embora a monogamia seja majoritária (65%), 8% das pessoas entrevistadas afirmam estar atualmente em um relacionamento aberto.

Em 2017, apenas 1% dos franceses afirmava seguir essa tendência, o que mostra um aumento de 7% em relação a 2025. Além disso, 15% das pessoas entrevistadas pelo Ifop afirmam que já estiveram em um relacionamento aberto.

O número é ainda maior quando o balanço se concentra nos parisienses. Na capital francesa, 17% dos homens e mulheres acima dos 18 anos afirmam estar em um relacionamento aberto atualmente. Mas 23% das pessoas entrevistadas e que vivem em Paris dizem que já fizeram parte de um casal poligâmico em algum momento da vida.

Para o diretor do pólo Gênero, Sexualidades e Saúde Sexual do Ifop, François Kraus, a discrepância entre Paris e o resto da França não é surpreendente. “O casal livre é algo mais valorizado socialmente nos meios progressistas”, analisa o responsável pela pesquisa, François Kraus, em entrevista ao jornal Libération.

De fato, a capital francesa, administrada por uma mulher, a prefeita Anne Hidalgo, do Partido Socialista, vota tradicionalmente em partidos progressistas e de esquerda. O posicionamento político, aliás, é uma característica relevante para os adeptos do relacionamento aberto. A maior porcentagem dos parisienses que já estiveram em um casal poligâmico é registrada entre simpatizantes do partido da esquerda radical França Insubmissa (32%).

Jovens e gays: perfil dos adeptos aos relacionamentos abertos

O estudo do Ifop confirma o que outras pesquisas já vêm mostrando nos últimos tempos sobre a sexualidade da população francesa. Os adeptos dos relacionamentos abertos são principalmente adultos jovens, na faixa dos 25 aos 34 anos (23%).

Além disso, quase a metade dos casais não-monogâmicos hoje na França é formado por homens gays e bissexuais (47%), seguidos por lésbicas e mulheres bissexuais (25%). Entre os heterossexuais adeptos aos relacionamentos abertos, 17% são homens e 9% mulheres.

Essa escolha de vida também tem um forte marcador de classe social. Os relacionamentos abertos são vividos majoritariamente por pessoas com diploma de estudos superiores (20%) e por cidadãos que exercem profissões consideradas “intelectuais” na França (23%), como médicos, advogados, engenheiros, arquitetos, jornalistas, artistas, professores de universidade, etc.

No que diz respeito à tendência política de quem rejeita a norma monogâmica, 26% vota no partido da esquerda radical França Insubmissa, 15% no Renascimento, partido centrista, do presidente Emmanuel Macron, 14% no partido socialista (esquerda mais tradicional), 12% nos ecologistas. Mas pessoas de posicionamento conservador também são adeptos de relacionamentos abertos: 11% votam no Partido Republicano (direita) e 15% no partido de extrema direita Reunião Nacional, segundo a pesquisa do Ifop.

Me Too e casamento para todos

O diretor do pólo Gênero, Sexualidades e Saúde Sexual do Ifop, François Kraus, avalia que os relacionamentos abertos são uma tendência que “se instala lentamente como uma alternativa a casais monogâmicos e heterossexuais tradicionais”. Segundo o especialista, o movimento Me Too, que surgiu em 2017 questionando a cultura do estupro, colocou em questão as normas conjugais tradicionais.

Junto com o casamento para todos, legalizado em 2013 na França, a mobilização feminista também é apontada como a principal responsável pela evolução das identidades sexuais na França. Um outro estudo, divulgado nesta semana, do Instituto Nacional de Estudo Demográficos da França (Ined), mostra que a rejeição à heterossexualidade vem aumentando no país.

A mudança é liderada por jovens, principalmente mulheres. Atualmente quase 20% das francesas entre 18 e 29 anos não se considera heterossexual: 10% são bissexuais, 5% panssexuais, 2% lésbicas e outros 2% são assexuais ou não sabe definir. Em 2015, apenas 3% das mulheres não se considerava heterossexual.

Entre os homens, a tendência também é observada, mas em uma escala menor. No total, 8% dos franceses que rejeitam a heteronormatividade, 4% bissexuais, 3% homossexuais, 1% assexual ou não sabe definir. Em 2015, eles eram 2%.

Segundo o diretor de pesquisa do Ined, Wilfried Rault, a heterossexualidade está “menos atraente” para uma parte dos jovens da França. Segundo ele, outros debates na sociedade, como a conscientização sobre a desigualdade de gêneros nas tarefas domésticas, também contribui para a evolução das identidades sexuais na França.

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