O filme que Kubrick considerava o melhor de todos os tempos

O filme que Kubrick considerava o melhor de todos os tempos

Stanley Kubrick é considerado um dos diretores mais influentes e respeitados da história do cinema. Conhecido por sua abordagem meticulosa, estética precisa e narrativas complexas, ele dirigiu clássicos como 2001: Uma Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica e O Iluminado. Suas escolhas artísticas moldaram o pensamento de gerações de cineastas e críticos, tornando qualquer declaração sua uma fonte valiosa de reflexão sobre a arte cinematográfica.

Em meio à vasta obra e ao legado que deixou, a curiosidade sobre quais filmes impactaram Kubrick costuma despertar grande atenção. Saber quais produções ele admirava é uma forma de entender não somente seu olhar como espectador, mas também os valores que ele atribuía ao cinema enquanto arte. Essa perspectiva pode surpreender aqueles que esperam escolhas compatíveis com seu próprio estilo sombrio e cerebral.

Qual filme Stanley Kubrick chamou de “o melhor que já vi” – e por que essa escolha surpreende?

Entre tantas obras-primas que marcaram a história do cinema, Stanley Kubrick declarou que o musical O Show Deve Continuar (All That Jazz, 1979), dirigido por Bob Fosse, era “o melhor filme que já vi”. A revelação consta na biografia escrita por John Baxter, trazendo à tona uma escolha inesperada para um cineasta conhecido por temas densos e existencialistas. Trata-se de um filme autobiográfico e estilizado, que combina fantasia e realidade ao retratar os excessos e angústias de um coreógrafo perfeccionista.

Essa preferência desconcertou muitos críticos e cinéfilos, pois O Show Deve Continuar contrasta radicalmente com o estilo visual e narrativo das obras de Kubrick. Ao mesmo tempo, sugere que ele valorizava elementos como autenticidade emocional, ousadia narrativa e retratos intensos da condição humana – características centrais também em sua própria filmografia, ainda que expressas de maneira distinta. Isso convida o público a repensar o que faz de um filme uma verdadeira obra-prima.

O filme que Kubrick considerava o melhor de todos os tempos
Filme O Show Deve Continuar – Créditos: The Movie Database / Divulgação

Quais aspectos de O Show Deve Continuar podem ter tocado Kubrick de maneira tão profunda?

Apesar de sua estética musical e envolvimento com o mundo da dança, O Show Deve Continuar aborda temas universais como o esgotamento criativo, o hedonismo autodestrutivo e a angústia diante da mortalidade. O protagonista, interpretado por Roy Scheider, é um alter-ego de Bob Fosse e personifica o artista obcecado com a perfeição, mesmo à beira do colapso físico e emocional. Essa representação crua e sem adornos da luta interna pode ter tocado Kubrick, ele próprio um perfeccionista notório.

Além disso, a estrutura do filme – com cenas que alternam livremente entre realidade, alucinação e performance – demonstra uma liberdade formal que desafia convenções e aposta na linguagem audiovisual como expressão subjetiva. Esse tipo de abordagem pode ter sido admirada por Kubrick pela ousadia de explorar formas narrativas menos convencionais, ampliando os limites do cinema tradicional sem perder profundidade ou coerência artística.

De que maneira a visão de Kubrick redefine a recepção crítica do filme?

Na época de seu lançamento, O Show Deve Continuar foi bem recebido pela crítica e venceu quatro Oscars, mas nem sempre figurou entre os filmes mais lembrados da história do cinema. Com o passar dos anos, porém, sua complexidade artística passou a ser cada vez mais reconhecida. O fato de ter sido tão admirado por Kubrick contribui significativamente para essa reavaliação, dando novo peso à obra na memória coletiva da crítica e do público.

A valorização posterior do filme reforça como certas obras precisam de tempo e contexto para serem compreendidas plenamente. A opinião de um cineasta do calibre de Kubrick ajuda a lançar nova luz sobre produções que, embora não tenham o mesmo apelo imediato de blockbusters ou dramas históricos, oferecem densidade emocional e inovação formal raramente igualadas. Nesse sentido, O Show Deve Continuar conquista um lugar mais sólido entre os grandes filmes do século XX.

Como a escolha de Kubrick contribui para compreender sua sensibilidade artística?

A preferência por um filme que expõe com crueza as dores da criação e a finitude da vida revela um lado de Kubrick que muitos não associam à sua persona pública. Ao elogiar um musical com forte carga emocional e estilização visual, ele mostra sensibilidade para diferentes registros estéticos e narrativos. Isso evidencia que sua apreciação cinematográfica ia além da racionalidade e do controle técnico, envolvendo também empatia e emoção.

Essa escolha também sugere que Kubrick valorizava a coragem artística acima de rótulos de gênero. O Show Deve Continuar não é somente um musical; é uma confissão emocional, uma dança com a morte, uma crítica ao culto da produtividade. Ao reconhecer esse valor, Kubrick demonstra que, para ele, o verdadeiro mérito de um filme estava na sua capacidade de provocar reflexão e impacto duradouro, mais do que em sua forma superficial.

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