Milícia do Brás tinha sacola de dinheiro e apelidou arma de VAR. Vídeo

São Paulo — Vídeos que circularam entre a cúpula de uma milícia, acusada de extorquir comerciantes no Brás, na região central de São Paulo, mostram suspeitos ostentando altas quantias de dinheiro e fazendo piadas com armas de fogo. O conteúdo foi obtido com exclusividade pelo Metrópoles.

Nas imagens, os criminosos movimentam malotes de cédulas e brincam com revólveres. “Tão precisando de R$ 20 mil na conta agora, R$ 20 mil. Tem aí? Manda ver”, diz um dos homens que filma sacolas cheias de dinheiro.

“Esse daqui é o dinheiro que vai pro São Caetano [time de futebol], né. Um pedacinho pra pagar o pessoal, que tá atrasado. Caso alguém faça algo errado, tá aqui o apito do juiz, e esse é o VAR, pra ter certeza”, diz outro suspeito mostrando revólveres próximos a malotes de dinheiro.

Veja as imagens:


Milícia no Brás

  • De acordo com depoimentos de vítimas e testemunhas, obtidos pelo Metrópoles, os comerciantes da Feira da Madrugada são extorquidos por criminosos que cobram, semanalmente, uma “taxa de segurança” — que varia entre R$ 50 a R$ 300, dependendo da área e do grupo controlador.
  • Os criminosos cobram ainda valores por aluguel do metro quadrado nas calçadas e também por box, dentro dos centros comerciais, além de uma taxa de fornecimento de energia elétrica, que é desviada de postes de iluminação da Enel.
  • Durante as cobranças, os milicianos, muitas vezes, ameaçaram e agrediram os comerciantes, afirmando serem integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e também policiais, portando arma de fogo para intimidar as vítimas. Mais tarde, as investigações confirmaram a participação de agentes públicos no esquema.
  • As vítimas também relataram ter mercadorias destruídas, além de terem sido retiradas à força da área de comércio, após atrasar ou não conseguir pagar os valores exigidos pelos criminosos.
  • Há ainda relatos de casos de tortura, principalmente no núcleo criminoso chefiado por Manoel Simião Sabino Neto, o Sabino. Vídeos divulgados com exclusividade pela reportagem mostram os episódios de agressões.
  • Em 27 de abril, uma das testemunhas protegidas foi morta a tiros na frente de casa, quando saia para ir à Feira da Madrugada. O caso foi registrado como homicídio pelo 24º Distrito Policial (Ponte Rasa), e encaminhado ao Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde segue em investigação.

São Caetano Futebol

“São Caetano” se refere ao time de futebol da cidade na Grande São Paulo. Na época em que o vídeo foi feito, em 2021, o clube era de propriedade de Manoel Simião Sabino Neto, o Sabino, apontado como liderança de um dos núcleos da milícia que atuava no Brás.

Preso, Sabino chegou a ter liberação na Justiça para se manter no cargo, mas posteriormente foi substituído por Jorge Machado, atual dirigente do clube.

Segundo a Polícia Civil, Sabino utilizou o São Caetano Futebol para lavar o dinheiro advindo das extorsões e fraudes cometidas no Brás. Ele também utilizou outras empresas, no nome da esposa, Francielly Gonzalles Agustaits, para o mesmo fim.

O Metrópoles contatou a defesa de Sabino e Francielly, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

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